Topázio. Há século e meio na casa dos portugueses

A Topázio é propriedade da Ferreira Marques&Irmão, uma empresa com tradição na arte de trabalhar o ouro e a prata, fundada em 1874 (Foto: André Rolo/Global Imagens)

Apesar de estar agora sob administração externa, a Topázio 1874 não largou as raízes. A família Ferreira Marques é assídua na empresa que há 148 anos produz objetos em ouro, prata, vidro e cristal, eternizados na vida dos clientes.

Os filhos de Maria José Ferreira Marques eram ainda crianças quando, em família, fizeram a primeira viagem aos Estados Unidos da América. Tinham entrado numa das muitas lojas de renome da cidade de Nova Iorque quando o mais novo viu à venda uma peça igual à que tinham na sala de estar de casa, em Portugal. Estavam a mais de cinco mil quilómetros de distância, e o pequeno Ferreira Marques não podia acreditar que o nome Topázio o tinha seguido até ali, tão longe.

Foi assim que, pela primeira vez, a quinta geração da família na empresa se apercebeu da dimensão do nome que carregava. Uma dimensão de 148 anos de história.

Para a mãe, Maria José, a infância foi vivida entre prata, ouro e cristais. Chegava da escola e entretinha-se, junto à casa da avó, na antiga loja da Topázio. Aproveitava para dar o abraço diário ao pai e ao avô, ambos Silvestre Ferreira Marques, ambos à frente da marca, uma herança que lhes tinha sido passada desde pequeninos. Manhãs, tardes e noites eram, quase sempre, passadas nas instalações que, à época, ainda se situavam na Rua do Heroísmo, no Porto. Hoje estão em Valbom, Gondomar, mas já lá vamos.

Foi em 1874 que Manuel José Ferreira Marques criou a primeira joia: um fio de ouro. Não tardou que a criação fizesse sucesso nas feiras e entre mercadores. Com tal entusiasmo, Ferreira Marques decidiu criar a empresa com o nome de família. Depois do ouro, veio a prata e a marca nunca mais parou.

Manuel José Ferreira Marques foi o fundador da empresa

Silvestre Ferreira Marques – o avô referido há pouco – e o irmão Gabriel passaram à liderança e homenageiam a mãe com uma mudança de nome. O apelido de família foi trocado por “topázio”, a pedra preciosa preferida da esposa do Ferreira Marques que começou a história da empresa.

No princípio era o fio de ouro

Tal como a ousadia de Manuel José para criar a primeira peça, a Topázio 1874 nunca deixou de ter a inovação ao lado. Da prata e ouro de pequenas dimensões seguiram-se as peças grandes nos anos 1920, o cristal em 1950 e o banho de prata 20 anos depois. Mas a adaptação, acredita Maria José Ferreira Marques, hoje com 71 anos, não é o único segredo para uma estabilidade (para lá de) centenária.”Rigor e responsabilidade”, o slogan da Topázio, diz, refletem o passado, o presente e o futuro da casa.

Maria José pertence à quarta geração da família
(Foto: André Rolo/Global Imagens)

O rigor assenta no fator que nunca deixou de ser fulcral durante todos estes anos e após muitas gerações de liderança: a qualidade. “Fomos pioneiros no estilo e há quem nos tenha copiado, mas não com a mesma qualidade. Não queremos competir pelo preço, pois o trabalho que oferecemos não tem competição possível”, afirma a gestora, que se prepara para deixar o seu cargo no departamento de pratas e grandes peças ao filho.

O trabalho que refere trata-se, na verdade, da manualidade. Desde o começo que a Topázio 1874 faz as suas criações com artesãos que cunham as peças com a sua arte. O primeiro que conheceu, recorda Maria José, não sabia ler nem escrever mas, “surpreendentemente”, “sabia copiar qualquer tipo de letra com uma perfeição irrefutável”. Foi assim que na altura, a ainda trabalhadora do departamento de gestão, teve a certeza que o bem mais valioso da Topázio era o trabalho de minúcia. Minúcia essa que ainda se mantém.

Apesar da tecnologia, as peças continuam a ter muito trabalho manual
(Foto: André Rolo/Global Imagens)

Pelos corredores da fábrica, desde 1972 situada no número 463 da Rua da Capela Lagoa, vão-se acumulando peças de diferentes materiais. E também com diferenças entre si. Porque o trabalho manual, além da perfeição, dá também uma outra qualidade às peças: exclusividade. “Não há uma única peça que seja exatamente igual a outra”, ouve-se na visita.

Uma nova era

Depois do auge na viragem do século, com quase 15 milhões de euros de faturação e 300 trabalhadores, a empresa foi afetada pela crise de 2009. Face aos desafios, decidiram, em 2012, passar a Topázio para um administrador externo. Foi aí que entrou em cena José Augusto Seca, atual CEO da marca. Mas, na verdade, o carinho do administrador já se vinha a cozinhar nos bastidores.

Foi em 1993 que Seca entrou para a Topázio. A trabalhar para o departamento financeiro, chegou a conhecer Silvestre Ferreira Marques (filho). Dele tem boas memórias. Rigor, dedicação e, acima de tudo, um conhecimento que nunca deixou escapar. Com uma ligação mais do que técnica à marca, mas também emocional, José Augusto Seca foi a opção de confiança da família.

José Augusto Seca é o atual administrador da Topázio (Foto: André Rolo/Global Imagens)

Para o futuro, prevê o ressurgimento do nome que durante anos foi a prata da casa dos portugueses. Mas, sabe-o, será um trabalho de dedicação. José Auguto Seca acredita que a estratégia principal será dar a conhecer a marca Topázio às gerações mais jovens. “Para que tenham o mesmo interesse que os avós e os pais em adquirir uma peça de qualidade.”

Mas mais 100 anos não serão possíveis, assegura Maria José, sem manter os ensinamentos que século e meio de vida trouxeram. Que a competição faz-se pela qualidade e que o conhecimento e a precisão das mãos dos artesãos valem mais do que qualquer tecnologia.

Nome: Topázio 1874
Atividade: Objetos em ouro, prata, cristal e vidro
Morada: Rua Capela da Lagoa, 463, Valbom – Gondomar
Número de funcionários: 72