Jorge Manuel Lopes

“The Greatest” em som e imagens


Crítica de artes, por Jorge Manuel Lopes.

É daquelas pessoas, escassas, que deixam um rasto que as tornam maiores do que a vida. Muhammad Ali, que cumpriria 80 anos esta segunda-feira, dia 17, foi muitas coisas. Um pugilista de talento incandescente. Um ativista contra a guerra e o racismo, demasiado popular para ser ignorado. Uma presença na cultura popular décadas a fio.

Nas artes e no entretenimento, Muhammad Ali foi muito mais do que uma oportunidade para encontros e fotos célebres, como aquela que o juntou a The Beatles em fevereiro de 1964 em Miami Beach. Por onde começar? Pelos discos, sobretudo por “I am The Greatest!”: gravado ao vivo num estúdio da Columbia Records em Nova Iorque e editado no verão de 1963, o álbum é um documento precioso do estilo singular de alocução de Ali (à época ainda respondia pelo nome Cassius Clay), com uma cadência que se tornaria familiar muito mais tarde com a implantação do rap. “I am the greatest!” combina comédia e poesia, o pugilista gabando os seus feitos passados, presentes e futuros com a dose certa de autoirrisão (ou seja, pouca). No terreno dos discos, seguir-se-ia em 64 um single com uma versão digna de “Stand by me” e, 12 anos depois, o delicioso “The adventures of Ali and his gang vs. Mr. Tooth Decay”, uma história infantil em prol da higiene dentária e com alguns convidados, entre eles Frank Sinatra.

Nos discos como nas aparições em talk shows, Muhammad Ali demonstrava ser o melhor ator (e promotor) de si próprio. E assim foi, literalmente, em “The Greatest”, filme de 1977 baseado na sua autobiografia, “The Greatest: My own story”, ao lado de Ernest Borgnine e Robert Duvall. Em 79, por uma vez, encarnaria outrem, um ex-escravo em cenário de guerra civil, na minissérie “Freedom road”, contracenando com Kris Kristofferson.” The Greatest” voava de palco em palco.