Têxtil Sampedro. Há mais de 100 anos a nascer entre os teares

Simão Gomes, José Machado e Diogo Gomes (da esquerda para a direita) são as três gerações à frente da Sampedro (Foto: Miguel Pereira/Global Imagens)

Só os antigos mantêm no ouvido o locutor que anunciava "Sam Pedro, Lordelo, Guimarães". Hoje, a têxtil Sampedro dispensa apresentações. A marca nacional galgou fronteiras. Vai no 101.º aniversário e na quarta geração.

“Nasci no meio dos teares.” Pelo menos é assim que José Machado gosta de anunciar. Uma frase que demonstra que, quando veio ao Mundo, já tinha o seu futuro traçado na indústria têxtil. E a verdade é que bem cedo, aos 20 anos, o vimaranense entrou para a fábrica gerida pelo pai, Eduardo Machado. Hoje, com 88, tem nas mãos uma marca com 101 anos de história, a Sampedro.

As recordações de lençóis e toalhas a saírem de grandes máquinas de tecelagem, à época ainda manuais, começam antes da entrada oficial na empresa. A memória recua aos três ou quatro anos para contar as aventuras. Estavam no primeiro edifício da Sampedro, localizado no mesmo local que o atual, mas com pouco mais de 100 metros quadrados. José Machado lembra-se do ruído dos teares, do cheiro dos materiais e das horas que passou a brincar com os seus carrinhos entre máquinas e trabalhadores. Houve uma vez em que um primo colocou uma mangueira num bocal de madeira que existia no antigo edifício para comunicarem entre os dois andares. José Machado estava no piso de baixo e ao colocar o telefone rudimentar no ouvido acabou todo encharcado.

Primeiro edifício da fábrica Sampedro, localizada no atual terreno
(Foto: DR)

Ao crescer sempre soube. O destino na tecelagem estava tão vincado que o empresário nem quis fazer universidade. O pai, face à insistência e vontade do filho em agarrar o legado da família, anuiu. Não sem antes deixar José Machado um ano à experiência, sem contrato, com esperança que o “pequeno” ainda mudasse de ideias e voltasse aos estudos que o pai tanto desejava.

“Aqui não era filho de ninguém”

José Machado “começou por baixo”. Em 1954 entrou para a Sampedro com as condições e benefícios de qualquer outro trabalhador que iniciasse funções. Os primeiros anos foram no escritório, depois passou para a produção. Queria aprender todas as funções da empresa que um dia iria gerir. Todos os passos de fabrico das peças. Todos os pormenores que a tecelagem de qualidade requer.

Atual setor de controlo de qualidade
(Foto: Miguel Pereira/Global Imagens)
Atual setor de controlo de qualidade
(Foto: Miguel Pereira/Global Imagens)

Avançamos para 1966, ano em que Eduardo Machado morre, e o filho, ainda que dois dos sócios fossem contra, sobe a gestor, dando início a uma nova administração. No início era só um edifício e a produção resumia-se ao linho. Com a mão de José Machado seguiu-se uma (r)evolução.

Crescer com estabilidade

O terreno onde a fábrica tinha nascido, uma herança da avó, era praticamente parte da casa. Mesmo ao lado moravam José, o pai e a mãe. Em frente uma tia. Mais a baixo outro familiar. Era o bairro dos Machados. Com o tempo, a área foi aumentando. Sucessivamente. As máquinas foram automatizadas e modernizadas. A diversidade de objetos e o material para a confeção também mudou. Mas os avanços tecnológicos nunca significaram despedimentos: “Eram precisas menos pessoas por tear, mas não mandávamos ninguém embora”. Em vez disso, produziam mais.

As primitivas e manuais máquinas de tecelagem da empresa
(Foto: DR)

José Machado apresenta a Sampedro como a “única empresa têxtil em Portugal que nunca parou”. Desde 28 de janeiro de 1921. Três homens estiveram à frente da abertura – o pai, o tio e um comerciante do Porto. De início não eram mais do que 15 trabalhadores. Hoje, na rua que dá origem ao nome da empresa, Rua de São Pedro, são cerca de 150 pessoas que garantem a produção.

Para José Machado, o segredo do centenário “não é segredo nenhum”. Tudo se resume à confiança. Nos trabalhadores e nos clientes. Ter boas relações a montante e a jusante da produção. E sublinha outros conselhos. “Não crescer demasiado e não ambicionar demais.” É fundamental para manter a estabilidade ao longo de tantos anos.

Um dos edifícios antigos, construído durante as sucessivas remodelações
(Foto: DR)

Agora é esperar que as próximas gerações sigam os ensinamentos. À frente da empresa está já um genro, Simão, e na administração uma filha, Eduarda, e um neto, Diogo. Noutros postos, uma outra filha e um outro neto. “Já levam um ano de avanço para o próximo centenário. Só lhes faltam 99”, brinca José Machado entre risos com o neto. O homem que ainda vai deitando um olho a tudo já avisou que, antes de se ir embora, há de pintar o pedaço de muro original que se vê na escadaria da entrada. “Quero marcar: foi aqui que nasceu.” Para que ninguém se esqueça.

Nome: Sampedro
Data de fundação: 1921
Atividade: Produção de têxteis-lar
Morada: Rua de São Pedro, 227, Lordelo, Guimarães
Número de funcionários: 150