Zangado, cerra os dentes. “Os maxilares tensos são o sintoma mais evidente e grave. Porque o Sérgio pode ser muito duro.” Esta semana, renunciou ao cargo que nunca chegou a ter. O de consultor estratégico do Ministério das Finanças.
O nome queima. Amigos, compagnons de route, antigos colegas de trabalho, personalidades que o conheceram nos anos do jornalismo económico, figuras que o recordam da faculdade e das lutas associativas, todos pedem anonimato. Por velhas querelas, por amargos de boca provocados pelos anos de TVI ou, por outro lado, recusando contribuir para polémicas recentes. “Muito injustas”, dizem, a maior delas com novo episódio: esta semana, num longo texto, Sérgio Figueiredo renunciou ao cargo que nunca chegou a ter. O de consultor estratégico do Ministério das Finanças.
A escolha pessoal de Fernando Medina, com ajuste direto e remuneração equiparada à de ministro, tudo esmiuçado pela comunicação social, mobilizou protestos e indignação do mundo político e mediático.
No artigo, publicado no “Jornal de Negócios”, há uma longa “capitulação”. O autor invoca “insultos e ataques raivosos”. Justifica a desistência: “ficou insuportável tanta agressividade e tamanha afronta, tantos insultos e insinuações”. Denuncia “o linchamento público”. Contra-ataca: “Não tolero estes moralistas sem vergonha, analistas sem memória”. O queixume revela “muito do autor”, defendem alguns dos contactados. “A vitimização, a arrogância, a ideia de que um cargo público não deve estar sobre escrutínio só porque ele se acha muito competente. Essa impunidade está toda ali.”
Sérgio Figueiredo é licenciado em Economia pelo ISEG. Envolvido nas disputas associativas, assumia-se militante de Esquerda. “Hoje sabe funcionar muito bem em todos os quadrantes, mas na altura era intensamente confrontativo. Para ele, quem não fosse de Esquerda era fascista.”
Em “O Diário” (1989-1990), jornal da simpatia de comunistas, foi conquistado pelo jornalismo. Daí, o estagiário de 23 anos rapidamente deu nas vistas, primeiro no “Semanário Económico” (1990), logo depois no “Expresso” (1990-1995). Cinco anos mais tarde, trocaria o jornal de Pinto Balsemão pelo lugar de grande repórter no “Diário Económico”, do grupo de “O Independente”. Bastaria um ano para ascender a diretor (1996-2001), apesar das hesitações iniciais de Miguel Paes do Amaral, que temia a excessiva juventude em funções de chefia, acentuada pelo ar colegial e pela voz doce que ainda mantém. “Mostrou-se de fibra”, diz quem com ele trabalhou nesses anos. Sairia em rutura com o patrão, já convidado por Paulo Fernandes para remodelar o “Jornal de Negócios”. O dono da Cofina queria expandir o pequeno jornal digital. “Conseguiu. O “Jornal de Negócios” chegou a bater em vendas o “Diário Económico”. E isso deve-se ao Sérgio”, argumenta a mesma fonte.
Ex-colaboradores relevam a capacidade de trabalho, de concretização, de chamar aos projetos bons profissionais. “Gosta-se de trabalhar com ele” – a opinião está longe de ser unânime. Ainda hoje se sentem os anticorpos que deixou como diretor de informação da TVI (2015-2020), em críticas secas e severas: “Em Queluz nem foi bom jornalista nem bom diretor”. A passagem pela televisão valer-lhe-ia a exaustão, física e psicológica. O obrigatório afastamento da ribalta.
Quando zangado, cerra os dentes. “Os maxilares tensos são o sintoma mais evidente e grave. Porque o Sérgio pode ser muito duro. De preferência, repreende em privado. Mas se tiver de o fazer em público, faz”, dizem os defensores, justificando assim as críticas que chegam da estação de Queluz.
De outros quadrantes, surgem insinuações de “promiscuidade”. De “paga de favores”. Nos jornais: Fernando Medina, enquanto presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), fora contratado por Figueiredo para comentador na TVI. Figueiredo saiu da TVI em 2020 e criou uma empresa que seria contratada pela CML para realizar uma campanha de comunicação. A campanha terá durado 13 dias a efetuar e custado 30 mil euros. Os amigos garantem: “O toma lá dá cá não é bem assim. O Sérgio não é pau-mandado de ninguém, nem faz fretes”. E lamentam: “Nem Sérgio Figueiredo nem Fernando Medina anteciparam o que se viria a passar. Desvalorizaram e, por isso, foram completamente apanhados de surpresa. Tinham obrigação de saber que estas polémicas fazem parte das regras de jogo”.
À baila tem vindo, também, a passagem pela Fundação EDP como administrador (2007-2014), a relação com António Mexia, a proximidade entre jornalistas e poderes. “Pode achar-se o que se quiser, mas uma coisa é certa: o Sérgio foi um grande jornalista”, reconhece uma voz crítica.
Do tempo dos jornais, recorda-se alguém “muito organizado, a tomar notas à mão, em pequenos papéis que dobrava meticulosamente, ou no computador, usando apenas os dedos indicadores”. Estagiário ou diretor, era dos primeiros a chegar.
Conhece-se-lhe o gosto por Chico Buarque e Caetano Veloso, pelos concertos e, revelam próximos, por caracoladas e praia. Dizem que deixou crescer a barba para parecer mais velho. “Pois nem assim. Ninguém diria que é avô de dois. Avô extremoso”, realça um amigo.
Sérgio Paulo Jacob Figueiredo
Formação: Licenciado em Economia pelo ISEG/UTL
Idade: 56 anos
Nacionalidade: Portuguesa (Loures)