Ron DeSantis: santo demónio

Ron DeSantis é governador da Florida

Foi jogador de beisebol e professor, mas queria mais. Apostou em Harvard, alistou-se na Marinha e entrou na política pelo lado da ultra-direita. Apoiante de Trump, poderá ser o único capaz de afastar o ex-presidente das eleições de 2024. Por serem tão iguais.

É difícil crer que um advogado experiente, diplomado em Harvard e em Yale, possa ser tão ignorante que não saiba que é “má ideia” usar a palavra “macacada” ao referir-se a uma pessoa negra. Foi exatamente essa a expressão, “acidental”, segundo o próprio e seguidores, usada por DeSantis na Fox News, em 2018, numa menção a Andrew Gillum, candidato do Partido Republicano ao cargo de governador da Florida, disputa que DeSantis ganharia apenas por 23 mil votos (0,4%), numa das mais disputadas eleições de sempre naquele estado.

Também é difícil de acreditar porque DeSantis, representante da ala mais à direita do Partido Republicano, tem um padrão claro e repetido em declarações ofensivas dos Direitos Humanos. Quer desculpando alusões de seguidores a “árvores de enforcamento”, quer comentando as origens porto-riquenhas da democrata Alexandria Ocasio-Cortez com desdém. “O que quer que ela seja”, disse. Ou ainda frequentando eventos patrocinados por islamofóbicos assumidos, ao lado de nomes sonantes da “alt-right”: Pamela Geller, Jeff Sessions, Nigel Farage, Laura Ingraham, o nacionalista húngaro Sebastian Gorka ou Steve Bannon, ex-assessor de Trump. De resto, o namoro permanente com a extrema-direita, coloca-o taco a taco com o ex-presidente, de quem foi apoiante acirrado. E que está agora disposto a enfrentar no Partido Republicano, tendo em vista as presidenciais de 2024.

Filho mais velho de uma enfermeira e de um vendedor, DeSantis nasceu e cresceu na Florida. Criança energética, cedo ganharam destaque as características atléticas. Foi um jogador de beisebol reconhecido, quer em equipas do estado, quer, mais tarde, em Yale, chegando a capitão de equipa da famosa universidade.

O diploma em História e a carreira docente no Ensino Preparatório numa escola local depressa ficaram aquém das ambições do jovem DeSantis. Aposta então na poderosa e elitista Universidade Harvard (JD, 2005), formadora de juristas e políticos reconhecidos. E alista-se na Marinha, que serviu como consultor jurídico, primeiro em Guantánamo e depois no Iraque. Regressa com medalhas de reconhecimento e para casar com uma repórter de TV e pivô de notícias local, mãe dos seus três filhos e principal conselheira. “A mulher é a pessoa que ele mais ouve”, dizem amigos.

Em 2011, com a publicação de “Dreams from our founding fathers: first principles in the age of Obama’’, livro [sem edição em português] em que assume o conservadorismo e críticas severas a políticas sociais do então presidente, e a candidatura à Câmara dos Representantes, ganha dimensão nacional. Mas são os comentários na cadeia televisiva Fox News, polémicos e fraturantes, que lhe darão ribalta, despertando a atenção e o apetite do movimento populista conservador Tea Party. Daí ao apoio de Trump, um passo curto. De tal maneira, que alavancado pelo presidente, anuncia em 2018 a candidatura ao cargo de governador da Florida. Que venceu, não fugindo à agenda da ultra-direita. Desde logo, no combate à pandemia, resistindo às restrições aconselhadas pelos peritos – e suspendendo-as mais cedo do que a maioria dos governadores -, apresentando políticas que alimentaram a as chamadas “guerras culturais”: na educação, nos direitos LGBT, na identidade de género. Punindo pelo caminho vozes críticas como a Disney, a quem retirou benefícios fiscais. E, claro, o aborto, assinando uma legislação que proibia o procedimento após 15 semanas. Medida a medida, DeSantis foi-se posicionando para a eleição presidencial de 2024, provavelmente o único que conseguirá abater Trump. Tão iguais são.

Ronald Dion DeSantis
Cargo:
governador da Florida
Nascimento: 14/09/1978 (42 anos)
Nacionalidade: Norte-americana