Não é preciso ir ao outro lado do Mundo buscar novidades, podemos fugir aos nossos hábitos e manter uma dieta saudável com os legumes e frutas da época.
Uma alimentação saudável é sustentada por “três pilares essenciais: a sazonalidade, a biodiversidade e a proximidade”. A receita é do chef Hélio Loureiro, que assegura que estes fatores podem ajudar tanto a carteira como o Planeta.
Não é preciso, afiança, ir atrás de “modas” ou de produtos importados, mais caros, para fugir à rotina. Podemos recorrer aos frutos e legumes que conhecemos, confecionando-os de forma diferente e aproveitando todo o seu valor nutricional. Uma alimentação mais saudável “não é mais cara, antes pelo contrário. Os produtos da época são mais baratos e mais saudáveis”.
É preciso parar na correria do quotidiano e olhar para as mesmas coisas de forma diferente. Assistimos hoje “quase a uma ditadura alimentar, baseada em produtos da moda, como abacate e quinoa, e esquecemo-nos dos nossos hábitos alimentares e a pegada ecológica que isso tem”, insiste o chef. Hélio Loureiro não tem dúvidas de que nos afastamos “um bocadinho da nossa cultura alimentar”. Esquecemos alguns produtos e “começamos a odiar e a ter aversão” a outros, como a batata.
“As pessoas hoje em dia são muito rotineiras na sua alimentação. A proteína é frango, peru, carne de porco, esquecendo-se do coelho, das codornizes, do pato e outras proteínas animais que são ótimas e não são caras”, exemplifica o chef. E esquecendo outra coisa: “A quantidade de proteína animal de que precisam é muito pouca. Um adulto precisa em média de 50 gramas de proteína animal por dia, que pode vir do queijo, iogurte, leite…”. Ou seja, “não precisamos de comer carne e peixe todos os dias, uma coisa que as pessoas ainda não se mentalizaram”.
De forma geral, as “leguminosas secas são importantíssimas numa dieta saudável, podendo substituir a proteína animal por proteína vegetal” e dando um contributo para uma alimentação mais equilibrada. Mas também aqui é preciso resistir a cair na rotina. “Usamos sempre o mesmo tipo de feijão, esquecendo as lentilhas, o feijão-frade, que quase deixamos desaparecer mas era muito usado nos anos de 1940, 50, 60. Mandar à fava não é uma coisa muito bonita e há muitas pessoas que não gostam, mas é um ótimo alimento. Ainda é mal-amado, sobretudo pelas novas gerações”, acrescenta.
Há uma “iliteracia muito grande na área alimentar”, considera Hélio Loureiro, explicando que é preciso perceber a origem dos alimentos, o que compõe os produtos processados e “onde se escondem” o sal, açúcar e a gordura em excesso na nossa alimentação.
Planeamento é chave
A nutricionista Mafalda Rodrigues de Almeida, fundadora do site Loveat, destaca que os portugueses estão a “consumir pouca quantidade de legumes e fruta, assim como de leguminosas, cereais integrais e outros”. Para a especialista, o “planeamento é chave” para conseguirmos uma alimentação que “não seja muito cara, seja saudável e não tenha monotonia”. Para além de evitar que alimentos se degradem, “permite fazer pratos que rendam mais, levar para almoçar fora, diversificar os snacks”.
“Damos espaço a alimentos mais processados, com mais gordura e sal, e não deixamos espaço para os alimentos simples, da época, que são tão importantes para termos uma alimentação equilibrada e variada, contribuindo para a prevenção de uma série de problemas [de saúde]”, realça.
“Mais do que alimentos diferentes, é importante olharmos para o que é nosso. O óleo de coco, por exemplo, as pessoas ouvem falar e pensam que é mais equilibrado. Mas é mais caro do que o azeite, que é das melhores gorduras do Mundo e uma das que tem mais benefícios.”
Vamos a exemplos. Há alimentos versáveis, como a aveia, que podiam ser mais utilizados. “Podemos fazer papas de aveia, bolas energéticas e panquecas”, sugere a nutricionista.
Na sua cozinha entra com frequência a curgete, legume que usa para fazer acompanhamentos. Não serve apenas para sopa, pode ser salteada, assada no forno, comida crua numa salada a substituir o pepino, que para muitas pessoas é indigesto. Pode ser espiralizada como o esparguete, para quem está preocupado com a questão do peso. Até comida em palitos, como um snack, à semelhança da cenoura. Incluir em pataniscas de legumes ou fazer um “bolo de curgete e avelã torrada que fica delicioso” são outras opções avançadas pela nutricionista.
Já a banana é uma fruta versátil que se pode incorporar com facilidade em batidos, panquecas, gelados, ajuda a adoçar sumos e papas de aveia. E os espinafres têm lugar não apenas em sopas, podendo ser usados em bolos, sumos, com outros legumes salteados, esparregados. Por fim, os agriões também “são muito ricos” e uma boa alternativa para “cuidar do peso”. “Podemos tirar partido destes alimentos de uma forma completamente diferente, o que ainda não estamos a explorar.” lm
Voltar a amar a batata
A batata não tem de ser um problema nas dietas alimentares, pois “é um grande produto, rico em potássio”, refere o chef Hélio Loureiro. A questão é “a quantidade” e a forma como se ingere o tubérculo. “A batata [pode ser consumida] esmagada, com brócolos, couve-flor, abóbora, cenoura ou batata-doce. Isto torna a mistura mais interessante e bonita sob o ponto de vista cromático. Também ajuda as crianças a comerem alguns legumes, pois ficam mais saborosos.”
Para quem é fã de batatas fritas, a nutricionista Mafalda Rodrigues de Almeida aconselha a temperar com ervas aromáticas e azeite e colocar no forno, conseguindo “uma textura semelhante com menos gordura”.