Projeto REPLAY. Brinquedos velhos com final feliz

Com a borracha, extraída dos pneus dos carrinhos e das bonecas, foram feitas galochas

Projeto REPLAY testou soluções de reciclagem, aproveitando os materiais para criar novos produtos. Galochas e embalagens estão na lista.

Que destino dar às bonecas e carrinhos quando se estragam ou as crianças crescem? O problema preocupava muitos pais e ambientalistas, a braços com um crescimento exponencial do número de brinquedos e a dificuldade de os reciclar por serem compostos por diversos materiais. “Sem solução de reciclagem em Portugal, quase 30 milhões de brinquedos acabam em aterros ou incinerados todos os anos”, contabiliza o REPLAY, um projeto da Zero Waste Lab e da Precious Plastic Portugal, que se propôs mudar esta história.

Os alicerces do que se pretende vir a ser um sistema nacional de reciclagem de brinquedos foram lançados no ano passado, um projeto-piloto nos municípios do Porto, Lisboa, Cascais, Évora e Figueira de Castelo Rodrigo, que mobilizou escolas, empresas e particulares. À rede inicial juntaram-se depois outras seis localidades, reagrupando 44 pontos de entrega em 11 cidades e 120 parceiros sociais.

“Quisemos testar uma resposta, algo que nos diziam que era quase impossível”, conta Ana Salcedo, coordenadora do projeto. Até agora já foram desmontados 5437 brinquedos, separados 80 093 materiais (45 mil plásticos, mas também borrachas, pilhas, circuitos elétricos, metais, madeira, entre outros), doados 1221 brinquedos que ainda estavam em bom estado e criados 47 novos.

O plástico era “dos materiais mais proeminentes” e a intenção era aproveitá-lo para “criar novos produtos”, pormenoriza Ana Salcedo, adiantando que foi lançado um concurso junto de estudantes de Design para criarem um novo brinquedo e, assim, “fechar a história”. Entretanto, também se aproveitaram outros materiais. Com a borracha, extraída dos pneus dos carrinhos e das bonecas, foram feitas galochas. O papel de jogos e livros permitiu criar postais e novas embalagens para presentes, por exemplo.

O REPLAY também tem um “grande valor educativo”, já que contou com a participação de muitas escolas, onde se abordaram os “problemas da qualidade dos materiais, toxicidade, importância do brinquedo e a necessidade do brincar”, entre outras questões. Há uma “cultura de consumo excessivo, que muitas vezes até vai contra o que as crianças desejam. Elas querem brincar, mais do que ter brinquedos e ficarem sozinhas”, reflete.

A importância do REPLAY foi reconhecida com a atribuição do prémio New European Bauhaus 2022, na área da economia circular, pelo alinhamento com a visão estratégica do plano ecológico europeu. A próxima fase é avançar com um sistema de reciclagem permanente. Estão a ser desenvolvidos estudos e esforços para implementar um sistema de responsabilidade alargada do produtor e procuram-se “investidores para segurar o projeto até que seja financeiramente sustentável”.