Pedro Rupio e a luta pelas pontes entre emigrantes

Pedro Rupio é gestor de websites e conselheiro na Bélgica

Conselheiro na Bélgica considera que os que cruzaram a fronteira são um “luxo” geopolítico mal aproveitado. Retirar obstáculos ao ensino da língua e ao voto são importantes para manter ligação.

Pedro Rupio, um português de segunda geração na Bélgica, não tem dúvidas sobre a importância daqueles que cruzaram a fronteira lusa e rumaram a outras paragens do Globo: é uma vantagem geopolítica que ainda não é devidamente valorizada, mas pode trazer muitos benefícios. E será uma vantagem tanto maior, quanto mais se acarinharem os seus descendentes, aqueles que como ele nasceram nos países de acolhimento, mas vão encontrando pontes que os ligam a Portugal.

É que para o gestor de websites – que cresceu a ouvir português em casa, visitou regularmente a terra da mãe em Montemor-o-Novo e desenvolveu uma forte ligação à cultura na escola portuguesa – o ser-se português não é uma questão de latitude e longitude. É um sentimento que cresceu com ele. “Sempre me senti português, apesar de ter nascido e ter vivido a vida inteira na Bélgica”, explica, revelando que a escola portuguesa foi para ele um “espaço fundamental para desenvolver essa ligação com Portugal”.

Quando terminou o ensino, sentiu “um vazio”. Enveredou pelos movimentos associativos, nomeadamente na Associação dos Portugueses Emigrados na Bélgica, e pela atividade cívica e política. Hoje assume funções como Conselheiro da Comunidade Portuguesa na Bélgica e preside ao Conselho Regional das Comunidades Portuguesas na Europa, palcos nos quais luta para que a voz dos emigrantes se faça ouvir.

Para além da disseminação de métodos que permitam votar nos diversos atos eleitorais sem ter de passar pelos consulados (como o voto por correspondência ou eletrónico) e da agilidade dos consulados (morosos a dar resposta a pedidos de documentação e outras burocracias), bate-se pelo ensino da língua.

“Atualmente, a vertente facultada é ensino de português como língua estrangeira, independentemente do destinatário ser estrangeiro ou descendente de portugueses. Nós defendemos que haja um ensino que seja adaptado ao destinatário, pois não nos consideramos estrangeiros”. Também defende a revogação da propina “imposta a descendentes de portugueses”, um “obstáculo” à inscrição de alunos. No próximo dia 21, é apresentada no Parlamento uma petição neste sentido. O pedido repete-se há anos e Pedro Rupio não baixa os braços. Mas acaba por confessar algum desalento.

“Ainda há um longo percurso a percorrer” para que se perceba que “há muito a ganhar com a presença além-fronteiras” e os “benefícios” que daí se podem retirar, assegura Pedro Rupio. “Acho que ainda não há noção de que as comunidades [de portugueses no estrangeiro] podem ser um aliado de Portugal em vários domínios. Geopoliticamente, é um luxo podermos ter cinco milhões de portugueses que estão bem integrados nos países de acolhimentos em domínios como a economia, a política, a cultura, a ciência, o desporto”. Mas “esse potencial e essa vantagem não são suficientemente aproveitados”.

Pedro Rupio
Localização:
Bruxelas, Bélgica 50°51’20.6”N 4°18’19.0”E (GMT +1)
Cargo: gestor de websites
Idade: 38 anos