Pedro Dominguinhos: ao trabalho, ao trabalho

Pedro Dominguinhos é presidente da Comissão de Acompanhamento do PRR

Filho mais velho de um ferroviário, foi a mãe, queijeira numa pequena empresa artesanal da família, que cedo o estimulou, entregando-lhe a contabilidade do negócio.

É doutor em Gestão pelo ISEG (UL), mestre em Economia Internacional e licenciado em Economia, docente desde 1995 no Instituto Politécnico de Setúbal (IPS), presidente da instituição entre 2014 e 2022, líder do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) de 2018 até agora, autor ou coautor de mais de 40 publicações e de artigos em conferências internacionais na área da internacionalização, “born-globals e empreendedorismo”, pode ler-se na nota que anunciou a nomeação, por António Costa, do novo presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Pedro Dominguinhos, 51 anos feitos há dias, é o segundo licenciado da família. Antes dele, só um tio materno teve acesso à universidade. Nasceu em Chança, Alter do Chão, filho mais velho de um ferroviário. A mãe, queijeira numa pequena empresa artesanal da família, cedo o estimulou, entregando-lhe a contabilidade do negócio. Se aos cinco anos, indefetível benfiquista e praticante de futebol na rua e no clube da terra, sonhava ser jogador, aos dez, com a Primária feita à média de duas horas de viagem por dia, em autocarro penoso, tomou a decisão: seria economista. Pedro Dominguinhos descrê de “impossíveis”. “Basta ver o meu percurso. Cheguei onde cheguei, apesar de tudo”, diz aos filhos. Aos alunos, a cada início de ano letivo, a mesma promessa: “Trabalho, trabalho, trabalho”.

“Trabalhador é uma palavra que me define”, diz. “O trabalho já me deixou triste ou zangado. Infeliz, nunca.” “Muito exigente”, acrescenta Carlos Mata. Foi aluno – “creio que me deu 14” – e colaborador. Colega de direção no IPS. “É imparável. Um Speedy Gonzalez. É um desafio trabalhar com ele. Ainda não acabou um trabalho e está já a propor outro, lançando sucessivos desafios à equipa.” Pode vir daí o pior defeito, julga o próprio. “A minha vontade em resolver depressa as questões leva-me por vezes a cortar caminho. Ano após ano, tenho tentado corrigir.”

António Costa deu-lhe a liderança da comissão que acompanhará um plano que, define Dominguinhos, se quer transformador da realidade portuguesa. “Qualidade técnica, capacidade de concretização, de inovação, de ir para além do que é preciso fazer, tentando mais e melhor, aliados a um talento para mobilizar equipas e conseguir entendimentos” terão sido as qualidades, segundo os amigos, que presidiram à escolha do primeiro-ministro.

Dirão alguns que não gosta de ouvir críticas. “Sei que há quem o diga”, refere o próprio. E sabe, também, que neste novo cargo terá de gerir “sensibilidades e expectativas”, sob forte escrutínio e pressão mediática. “Tentarei sempre perceber a justeza de quem me critica e encontrar uma razão objetiva para que isso aconteça”, promete. “A primeira imagem que tenho dele é de ser muito interventivo nas reuniões”, começa por dizer Maria José Fernandes, atual presidente do CCISP. Conheceram-se em 2012. “Encontrei uma pessoa muito afável e cordial, bastante agregador, sem prescindir de opiniões muito vincadas. No entanto, o que sobretudo o define é a fortíssima ligação à família.” Foi esse o foco do pequeno discurso de Maria José, no jantar de despedida do amigo, “trabalhador, íntegro e justo”, depois de uma última reunião como presidente. Acompanhado de um presente: ele, a mulher e os três filhos, pintados numa tela.

O cuidado com os pais leva-o com frequência à terra onde nasceu e de onde regressa a carregar no sotaque. “As minhas raízes marcam-me muito.” Viveu a adolescência ensombrada pela tragédia da perda da única irmã, mais nova quatro anos. Talvez por isso, um dia perfeito é um dia de família. E de Alentejo. Chança retempera-o. Desde logo, à mesa. “Um alentejano e a comida… é complicado. Temos um grupo de amigos da queijaria que se reúne com frequência”, sobretudo ao chegar o tempo das migas de couve com sardinhas assadas.

Miguel Ramalho é um dos comensais. São amigos “desde que sabem falar”. Uniu-os o temperamento pouco dado a travessuras. Veio depois o gosto pela música e o prazer da mesa. “Em miúdos íamos à pesca e fazíamos os nossos petiscos. No final, cantava-se e tocava-se. O Pedro era o dos ferrinhos”, revela o cabo da GNR. Havia, porém, ainda maiores afinidades – o gosto pelo futebol, a loucura pelo Benfica. Aos domingos, ouviam “os relatos dos jogos pela rádio”. A região dera uma glória benfiquista: Palmeiro Antunes. Que um dia levou Eusébio a conhecer aquelas terras. “Foi a loucura. Todos quisemos fotografar-nos ao lado do ídolo.” Infelizmente, não há prova da visita do rei, por falta de rolo nas máquinas.

Pedro Miguel de Jesus Calado Dominguinhos
Cargo:
presidente da Comissão de Acompanhamento do PRR
Nascimento: 05/06/1971 (51 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Chança, Alter do Chão)