Paulo Macedo, o português que abastece milhares com água potável

Paulo Macedo é empresário em Maputo, Moçambique

Paulo Macedo mudou de país e de atividade após a crise, criando uma empresa com 200 funcionários em Moçambique. Uma dura batalha com muitas lágrimas, sustos e alegrias pelo meio.

Depois de anos de trabalho no setor das obras públicas em Portugal, a crise obrigou Paulo Macedo a repensar toda a sua vida. Em 2009 rumou a Moçambique, país onde criou do zero uma empresa que trata e fornece água engarrafada à população.

Quando aterrou em África, o empresário de Vagos ainda tentou trabalhar no mesmo setor, mas decidiu investir em equipamentos de higiene e, um par de anos depois, avançou também para o tratamento e abastecimento de água em garrafões de grandes dimensões. A Quick, assim se chama a empresa, conta hoje com 200 funcionários (todos locais) e chega diariamente a milhares de pessoas, a partir de 14 delegações distribuídas por 11 cidades.

Paulo Macedo viu uma oportunidade de negócio numa área que é essencial. “A água da companhia [rede pública] em Moçambique não tem muita qualidade e, em algumas zonas, é salobra. Esta é uma forma de levar água de qualidade a muita gente, de forma mais barata”, explica. “É um conceito diferente, as pessoas não estavam habituadas a ter estes garrafões de grandes dimensões em casa”.

A água é tratada por “filtragem, osmose inversa, ozono e ultravioleta, para no final ter qualidade sem químicos adicionados”, antes de ser engarrafada. Para assegurar que o processo corre bem são feitas “análises diárias à qualidade”, diz o empresário.

Para além do modelo de negócio, Paulo Macedo desenvolveu um dispensador com painéis solares que permite encher garrafas reutilizáveis com água fresca e evitar as descartáveis de plástico. Destina-se a ser usado em projetos onde haja muita concentração de pessoas.

O percurso, porém, nem sempre foi fácil. “Chorei muitas lágrimas em Moçambique. Caí lá de paraquedas. Tive muitos obstáculos para ter hoje a maior empresa em Moçambique nesta área” de garrafões de 18,9 litros, desabafa, relatando uma série de episódios “incríveis”.

No setor da higiene, demorou dois meses até conseguir o primeiro cliente. A primeira fábrica de água foi instalada num contentor marítimo, em Pemba. No início, “fazia tudo sozinho, desde procurar instalações, adaptar a produção de água, licenciamentos e arranjar clientes”. Em Palma, onde fornecia funcionários de uma empresa de gás, “ouvia muitas histórias de pessoas decapitadas”. Um dia “uma bomba caiu a 30 metros do meu quarto”, recorda. Teve a sorte de lá ter saído poucos dias antes de um ataque de rebeldes armados. Noutra ocasião, recusou um negócio que, acredita, era um engodo para uma tentativa de rapto.

Mas Moçambique também lhe reservou boas surpresas e momentos de enorme alegria, como o nascimento de um filho. É por ele, pelo que nascerá nos próximos meses e pela filha de 19 anos, uma “aluna brilhante” que cursa em Portugal Engenharia Aeroespacial e o enche de orgulho, que continua a “batalhar” e que mantém “um pé em cada país”.

Paulo Macedo
Localização:
Maputo, Moçambique 25°57’44.7”S 32°34’35.5”E (GMT +2)
Profissão: empresário
Idade: 49 anos