Patrícia Gaspar: na linha de fogo

Patrícia Gaspar é secretária de Estado da Administração Interna

Pragmática, terra a terra, estiolava num horário de trabalho das nove às cinco. Quando há fogos, os dias começam às sete da manhã e entram pela madrugada. “Gosto tanto do que faço. Não é um sacrifício.” Canta hits dos anos 1980. Lê policiais. Na infância pertenceu a um clube de detetives. Tem 49 anos e há dois meses que é avó.

Sabe que é a mais precária de todos os governantes, a primeira na linha da frente a sofrer o impacto da opinião pública, controle, ou não, os fatores que por vezes transformam emergências em tragédias. “Estou preparada”, diz Patrícia Gaspar. “Sei bem que pode durar um dia, um mês, um ano, ou a legislatura. Foi isso mesmo que disse a todas as pessoas que trabalham no meu gabinete.”

Nunca baixa os braços. Raramente faz planos. “Quando recebi o convite de Eduardo Cabrita pensei até que era engano. Não sou política, nunca fiz carreira na política.” Nos “dois minutos” que lhe deram para pensar percebeu que tinha de aproveitar os 20 anos de experiência na Proteção Civil.

“A Proteção Civil é a cara dela”, diz a amiga de há décadas Patrícia Cerdeira. Porquê? “Porque é pragmática, sabe liderar, é capaz de decidir, tem presença de espírito, dedicação ao serviço público e total disponibilidade”, garante a ex-jornalista.

Ficou conhecida em 2017, ano duríssimo, como porta-voz da Proteção Civil. A anunciar boas ou más notícias, a comunicação foi sempre objetiva.

Nasceu em Lisboa, mas é do Barreiro. Cresceu e vive ainda hoje na margem sul do Tejo. Quando boa parte do país arde, os dias começam às sete da manhã. Apanha o barco para Lisboa, chega ao Ministério às nove, dando início a séries ininterruptas de reuniões, acompanhando em permanência a frente de combate, “onde devem estar apenas aqueles que ali podem fazer a diferença”. Conhece os bombeiros e os bombeiros conhecem-na. Diz dos anos em que foi comandante distrital de Setúbal: “Foram os melhores da minha vida profissional”.

Patrícia Gaspar tem 49 anos. “Sou stressada, mas em adversidade ganho uma calma enorme. Penso que a minha tranquilidade será uma das minhas qualidades”, assume. “Não sou religiosa ou mística, mas acredito que temos uma missão, esta dá-me muito prazer, preciso muito de sentir que estou a ser útil.” Estiolava num horário de trabalho das nove às cinco. Também não seria feliz numa carreira nas relações internacionais, como técnica superior da Marinha.

“Gosto tanto do que faço. Não é um sacrifício.” Nunca sabe se vai ter de interromper o jantar. Já se esqueceu do que são férias de verão. Os filhos, 15 e 19 anos, apesar de habituados, queixam-se. A mãe vai-lhes lembrando que nunca teve um emprego normal. O pai, o almirante Álvaro Rodrigues Gaspar, não escondia o orgulho. Foi pela mão do progenitor que Patrícia entrou num submarino, ainda nem sabia ler.

“Era o ídolo, o modelo, o exemplo de ética e integridade que ela herdou”, diz José Marques de Almeida, amigo antigo. E primeiro namorado. Tinham 18 anos. Recorda uma rapariga “de longos cabelos ondulados, lindíssimos, que infelizmente decidiu alisar”. Porém “com um lado de maria-rapaz, terra a terra e pouco dada a poesias”, acrescenta. “Era muito divertida, ainda é, e tem o riso fácil. De tal maneira que é a primeira a rir das três ou quatro anedotas que sabe e que conta sempre”.

Jogava basquetebol, detestava corrida, nadava com gosto e um dia perfeito era um dia de praia. “Lembro-me dos mergulhos no mar de Sesimbra e dos despiques a ver quem chegava primeiro à boia. Ainda hoje gostamos muito de Sesimbra”, diz Helena Valente, amiga de infância. Conheceram-se na Secundária Alfredo da Silva, no Barreiro, conversavam sobre sonhos e gostos. “Parece que estou a ver o quarto dela. Tinha um póster do Top Gun e outro dos Wham!”, conta a consultora na área do desenvolvimento económico. Confirma: “Muito maria-rapaz, muito desportiva e pragmática. É fácil gostar dela”. Patrícia Cerdeira, amizade feita nos anos 1990, reconhece a teimosia da amiga e o lado “workaholic”.

Não gosta de “falsidade e de peixe”. Do inverno e da chuva. Gosta de ir ao mercado, ao sábado de manhã, “depois de uma torrada com manteiga e doce de abóbora”, comprar “fruta como deve ser” e flores. Adora cantar hits dos anos 1980. Lê policiais. Na infância pertenceu a um clube de detetives. O parque Catarina Eufémia foi palco de investigação e mistérios inventados. Queria ser detetive. “O meu sonho era a investigação.” Esteve nas Secretas quase dois anos, “trabalho muito gratificante”.

Há dois meses que é avó de Lucas. “Ainda não me caiu a ficha, tenho 49 anos, quase 50, mas não os sinto”, confessa Patrícia Gaspar. Tati para os amigos.

Patrícia Alexandra Costa Gaspar
Cargo:
secretária de Estado da Administração Interna
Nascimento: 09/09/1973(48 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)