O último videoclube merecia mais

Nas décadas de 1980 e 1990, raros seriam os quarteirões sem um videoclube. Uma explosão que se esvaiu igualmente num ápice este século, com a implantação da televisão por cabo e dos serviços de streaming. Nesse campeonato, o americano Blockbuster tinha o estatuto de hipermercado, o que não o impediu de acompanhar o declínio do modelo de negócio. A única loja Blockbuster de portas abertas reside em Bend, estado de Oregon, local de culto de um modo de usufruto artístico agora de nicho.

O último representante da espécie inspirou a série de comédia “Blockbuster” (Netflix). A ação desloca-se para a cidade fictícia de Iron Creek, no Michigan, e foca-se na vida dos seis funcionários da loja. Timmy Yoon (interpretado por Randall Park) é o patrão decente, um tipo manietado pelo descomprometimento trazido da adolescência e pelo divórcio dos pais. Timmy tem uma paixão não declarada por Eliza Walker (Melissa Fumero), que abdicou de um futuro profissional brilhante por um regresso a Iron Creek, com uma filha rebelde e um marido que a trai. O melhor amigo de Timmy é Percy Scott (J. B. Smoove), também o seu senhorio, dono de uma loja de artigos para festas e pai da adolescente Kayla (Kamaia Fairburn), que trabalha, a contragosto, no Blockbuster. A equipa completa-se com a mais madura Connie Serrano (Olga Merediz); a idealista, forreta e algo inepta Hannah Hadman (Madeleine Arthur); e o genial e neurótico Carlos Herrera (Tyler Alvarez), o tipo das ideias, com sonhos de ser o próximo Quentin Tarantino.

“Blockbuster” tem uma premissa e um potencial narrativo fascinantes, todo um recanto da história da cultura pop recente à mão se semear. Infelizmente, desbarata os trunfos, optando por situações narrativas batidas (tensões amorosas não resolvidas, atritos intergeracionais). A ação decorre num videoclube mas podia, com poucas ou nenhumas adaptações, acontecer num escritório de advogados, numa empresa de telemarketing, numa loja de comida rápida…