Susana Romana

O preço dos brócolos, a declaração de Marcelo e a ideia da vereadora Laurinda Alves

Rubrica "Partida, largada, fugida", de Susana Romana.

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O número da semana foi o 424. Um número, claro, subjetivo: se forem 424 calorias num menu Big Mac é imenso; se forem casos de abuso sexual na Igreja é pouquinho.

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Tudo porque Marcelo não ficou surpreendido com o número de queixas à Comissão Independente: “Haver 400 casos não me parece particularmente elevado porque noutros países com horizontes [temporais de investigação] mais pequenos houve milhares de casos”. Por isso, enquanto não formos os campeões dos Jogos Sem Fronteiras dos pénis clericais metidos em lugares indevidos, está tudo bem.

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Depois das críticas, Marcelo ainda se tentou justificar, dizendo que se referia ao facto de muitas pessoas não terem tido coragem de avançar. Porque nada deixa pessoas traumatizadas com vontade de fazer denúncias como um presidente da República que as minimiza. Está nos grandes manuais de Psicologia e tudo.

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O presidente, recorde-se, ligou para um dos implicados nas denúncias. Marcelo assumiu que teve a iniciativa de contactar o bispo José Ornelas para lhe dizer que “não foi pessoal” a denúncia contra ele que encaminhou para o Ministério Público. No fundo, para pedir desculpa. E um só telefonema sai muito mais barato aos cofres do Estado do que 424.

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A Câmara de Lisboa queria organizar uma marcha e um piquenique para os mais vulneráveis (leia-se: pobres) da cidade, de forma a celebrar em beleza o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza. Eu marcava para a Avenida da Liberdade, tipo marchas dos Santos Pobrezinhos. A malta que sai da Louis Vuitton ou da Hermès poder atirar amendoins e bombons Godiva.

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Esta ideia vencedora só podia vir da vereadora Laurinda Alves, a mesma que não quis levar sem-abrigo ao festival Rock In Rio porque depois eles iam para os bastidores beber copos com os Duran Duran e ficavam com a vida arruinada. Sempre a zelar pelos coitadinhos que nem nunca foram à Comporta.

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Fernando Medina apresentou um Orçamento do Estado para 2023 otimista, assente na ideia de que Portugal (e Espanha) não vão sentir os efeitos da guerra na Ucrânia da mesma forma que a Europa Central. Tarde de mais, Nando, já senti quando os brócolos ficaram a cinco euros o quilo.

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A PJ fez buscas na sede da GfK Portugal, empresa que mede as audiências televisivas. Em causa estão suspeitas de “adulteração dos resultados das audiências de televisão”, para alegado benefício da SIC e prejuízo da TVI. Pronto, se afinal as audiências eram boas é desta que temos edições do “Big Brother” coladas umas às outras até à eternidade. Anda, Nuno Homem de Sá.

[Artigo publicado originalmente na edição do dia 16 de outubro – número 1586 – da “Notícias Magazine”]