O setor cultural levanta-se do severo abalo da pandemia com as perguntas de sempre. Ana Ventura Miranda fundou o Arte Institute em Nova Iorque há 11 anos, já levou mais de mil artistas portugueses a 106 cidades de 37 países. Fala em potenciar o turismo, trabalhar com empresas, pensar grande. Porque a cultura é um negócio e porque há talento. O novo ministro da Cultura garante que há dinamismo, energia, e muito a acontecer todos os dias.
O discurso nunca seguiu em linha reta, curvas e contracurvas, poucas vezes consensual. O estado da arte ressente-se. Questiona o seu lugar, o seu papel, a forma de estar. A cultura vai sobrevivendo, resistindo, criando e inventando. Com pedras pelo caminho. Continuar a reclamar ou mudar a narrativa? Eis a questão.
Em 2011, Ana Ventura Miranda fundou o Arte Institute em Nova Iorque, instituto independente, sem fins lucrativos, para internacionalizar a cultura contemporânea portuguesa em todas as suas expressões (teatro, música, cinema, dança, artes plásticas, performance, literatura…). Nunca parou, 11 anos depois, Portugal e os artistas mostraram talentos em 106 cidades de 37 países dos cinco continentes. Ana Miranda, com currículo de atriz, jornalista, produtora cultural, promotora artística, curadora de arte, é diretora do Arte Institute – em 2015 recebeu o Prémio D. Antónia Ferreira e o Prémio da PALCUS na categoria de liderança nas artes em 2017. Com pés na terra, e sem papas na língua, aborda a cultura por diversos ângulos, encontrando-lhe outros modos de ser, espremendo-lhe a essência, apontando alternativas. Com conhecimento de causa.
“A classe artística, a meu ver, ainda não aprendeu a falar com números”, observa. Os algarismos, regra geral, ficam à margem do discurso. “A cultura gera x trabalhos, x receitas. Assim é muito mais fácil as pessoas perceberem a importância da cultura.” Dando números aos factos. O Governo tem números: 619,4 milhões de euros no Orçamento do Estado para 2022, mais 45,5 milhões do que em 2021, um aumento total de 48% desde 2016, o objetivo estratégico de atingir 2,5% da despesa discricionária ao longo da legislatura.
Os números são um aspeto, há outros. A cultura não é um passatempo, é um negócio, deve ser tratada como tal. “A cultura é uma área que contribui para o PIB, que dá trabalho a muita gente, que ajuda na parte do turismo, embora pouco ainda, podíamos fazer mais.” O turismo, ora aí está, um motor da economia nacional, cuja receita cresceu mais de 60% entre 2011 e 2019, que no ano passado gerou 16,8 mil milhões de euros de contributo direto e indireto para o PIB nacional. Há algum tempo que Ana Miranda anda a dizer que a cultura deve aproveitar os 23 milhões de turistas que visitam Portugal todos os anos. O circuito do fado fá-lo naturalmente, só que é preciso mais. “Não estamos a maximizar essa oportunidade. Portugal não é só Lisboa e Porto, há não sei quantas outras cidades que as pessoas vão visitar durante um dia e não dormem lá, vão dormir aos centros urbanos.” Se há artistas e cultura nesses lugares, o que pode ser feito, pergunta-se. Muita coisa, parece-lhe. “Se dentro do pacote da viagem, houver um espetáculo à noite, um workshop, isso vai sediar os turistas mais tempo numa região, mais um ou dois dias, o que para os hotéis é muito importante.” Há que mexer. “Temos um país que se atravessa em seis horas, para um turista americano nem sequer saiu do seu estado, temos de saber tirar proveito destas coisas”, defende.
O novo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, realça o trabalho que tem sido feito na promoção da marca Portugal no setor do turismo e a retoma, travada pela pandemia, já está em curso. “Agora é chegado o momento de pensar novos caminhos, soluções criativas que reforcem o nosso posicionamento no mapa do turismo global”, refere à NM. Consolidar Portugal como destino de cultura é ponto assente, o que passará, assume, por uma “ação concertada e transversal a diversas áreas governativas.” “A verdade é que reunimos todas as condições para nos afirmarmos nesse campo, porque somos uma nação ancestral, com um património notável e uma História fascinante.” As 17 inscrições na “seletiva lista” do Património Mundial da UNESCO são um dos exemplos que indica. “Os nossos museus possuem coleções notáveis, e no plano das artes há muito talento, muita energia, muita coisa a acontecer, todos os dias”, sublinha.
O talento e a energia. Para Ana Miranda, inferioridade é ideia que não pode colar e que não faz sentido. Pensar pequeno não leva a lado algum. “Temos o complexo de pensar que somos um país pequeno. Ainda é complicado como as pessoas olham para o negativo e não veem o lado positivo. Mas temos coisas que temos de aproveitar.” A diversidade de artistas é uma delas. E de cabeça erguida. “Os nossos artistas têm talento, não estão atrás de ninguém”, garante ela que já viu tanta coisa e em tanto lado. “É como o Cristiano Ronaldo, quando ganha um artista, ganham todos os portugueses, é a marca Portugal. Somos sempre a marca, não são as campanhas, são as pessoas, o que nós produzimos, o que nós mostramos de nós e da nossa cultura. E economicamente isto também tem muita força, ninguém vai investir num país que não conhece.”
Revolução, esperança, imaginação
Este ano, em junho, Ana Miranda voltou a trazer programadores culturais internacionais a Portugal, a 12 cidades (Cascais, Évora, Lisboa, Torres Vedras, Alcobaça, Leiria, Loulé, Faro, Porto, Vidigueira, Braga e Funchal) para um programa de palestras, workshops, showcases, na quarta edição do RHI – Think Arts, Talk Business, Make Culture. Falou-se da marca Portugal na cultura, de novas formas de financiamento para as artes, da promoção internacional a reboque da presença desses “olheiros da cultura” que procuram talentos para lançar nos seus palcos.
Foi o que aconteceu com Débora Umbelino, Surma de nome artístico, cantora e compositora, que participou no primeiro RHI em 2019 com um concerto intimista em Leiria, sua terra natal. O showcase não passou despercebido e acabaria por dar frutos. Uma residência artística em Los Angeles com duas bandas, uma indiana e outra turca, uma mini tour americana, só que a pandemia trocou as voltas, os eventos poderão ser reagendados para 2023. O que ficou marcado foi um DJ set no Central Park, Nova Iorque, a 17 de julho deste ano, com os Fado Bicha, na abertura do concerto de Ney Matogrosso. O entusiasmo era evidente. “Uma oportunidade do outro mundo”, confessa. “O trabalho da Ana é inacreditável, interessa-se pela música de bandas emergentes, a confiança tem sido inigualável.” Surma destaca esse trabalho do Arte Institute, a rede de contacto, as pontes que se estabelecem pelo mundo.
O ator Ivo Canelas acompanhou o arranque do RHI, os preparativos, a ginástica de Ana a partir de Nova Iorque para Portugal, horários dissonantes, mil contactos e telefonemas. “O exemplo de uma profissional exímia, imparável, que quer levar a cultura portuguesa a todos os lugares das formas mais imaginativas possíveis”, conta. O RHI é um sonho de Ana que se tornou realidade. Tal como dizia o ator e encenador Jorge Silva Melo, pensar é estar com gente e para Ivo Canelas é precisamente isso que Ana tenta criar. “Essa possibilidade de estarmos juntos e pensarmos coletivamente.” Sem uma sede física, apenas com um telemóvel e um computador, a criar sinergias, a colocar gente a falar com gente em várias partes do Mundo.
O RHI é revolução de mentalidades, é esperança, é imaginação, explica Ana Miranda. É também uma oportunidade de envolver as câmaras municipais, chamar artistas, dar atenção à cultura e seus lugares. “Se não há dinheiro, tem de haver mais imaginação”, avisa. O dinheiro é outra questão. Ana Miranda fala de subsídios, apoios, da dor de cabeça das candidaturas, e de alternativas também. “Nada contra os fundos, mas é realmente muito complexo, e depende muito de um júri que num ano tem uma linha e no outro tem uma linha completamente diferente. Os subsídios não vão chegar para toda a gente, é um dado adquirido”, vinca “Das duas uma: não reclamamos e tentamos ganhar ou então reclamamos, mas tentamos fazer de outra maneira.” O Arte Institute trabalha com as empresas, o pensamento é, como diz Ana Miranda, fazer “parcerias com deus e com o Mundo”. “Há uma coisa que temos de aceitar, o nosso negócio é a cultura e o das empresas é a rentabilidade. O nosso também tem de ser rentável porque senão não conseguimos sobreviver e pagar as contas.” Tão simples ou tão complexo quanto isso. “Não se vai desvirtuar nem poluir a cultura por trabalhar com empresas. Uma companhia de teatro pode dar formação de como colocar a voz, técnicas e relaxamento para apresentações em palestras, feiras.” Nada fica artisticamente estragado, em sua opinião. “Não há elitismo. É um negócio como outro qualquer e não se tem de ter vergonha, não se fica menos artístico por vender um bilhete, é para isso que trabalhamos.”
O ministro da Cultura vê dinamismo, energia e vibração no tecido cultural, quer na oferta, quer nos hábitos de consumo, diferentes de um passado não muito longínquo. Houve transformações, claro. “Contudo, em Portugal, como em qualquer outro país, há áreas na cultura e nas artes que só podem existir fora de uma lógica pura e estritamente de mercado – este é um fenómeno natural, que faz parte do setor. Seria positivo se algumas dimensões da cultura conseguissem viver numa lógica pura de mercado, e na verdade esse é um caminho que tem sido percorrido em algumas frentes”, sustenta, acrescentando: “No entanto, essa trajetória não deve de forma alguma inibir o Estado de estar presente, de apoiar, financiar, dinamizar, desenvolver o setor cultural”.
Formação, educação, investimento
Joaquim de Almeida, ator de cinematografia cheia, preenchida por várias línguas e diversas latitudes, tem acompanhado o trabalho do Arte Institute e da sua mentora. Em abril de 2014, estava no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA) para a exibição do filme “A gaiola dourada”, juntamente com alguns companheiros de jornada. Vontade de Ana Miranda. “A Ana faz mais do que o Ministério da Cultura faz e sem apoios. Sozinha tem feito mais pela cultura do que o ministério, faz o que o ministério devia fazer”, comenta. Joaquim de Almeida admira-lhe a energia, o arrojo, a ousadia. “Não desiste com todas as contrariedades, ela continua, insiste, tem sempre qualquer coisa a fazer.”
Em Portugal, em seu entender, pouco orçamento, pouco investimento, o que evidencia o estado da cultura. “Há sempre essa desculpa que Portugal é um país pobre e a cultura sofre sempre”, repara Joaquim de Almeida. A missão do Arte Institute e a capacidade de Ana, uma não se dissocia da outra, dão a conhecer Portugal e a sua cultura. “Temos imensos espetáculos fantásticos, temos música, temos teatro e cinema, faltava levar a cultura portuguesa lá para fora.” É o que acontece há 11 anos com o Arte Institute seja no NY Portuguese Short Film Festival, na Semana José Saramago em Nova Iorque, nos concertos de verão no Central Park.
Há a internacionalização e há a formação. O Arte Institute trabalha as duas vertentes. Ana Miranda insiste na tecla de um novo posicionamento na profissão. “Os workshops e as palestras que fazemos servem para que as pessoas vejam que há outras maneiras de fazer – não estou a dizer que é fácil, não é, mas não é fácil em área nenhuma.” Ana Miranda considera que o Estado, em vez de dar apenas subsídios, poderia garantir formação ao setor cultural como fez na hotelaria antes do boom do turismo. Colocar o Ministério do Trabalho e o Instituto de Emprego e Formação Profissional a pensar em formação prática, não para ensinar a cantar melhor ou tocar piano, é outra coisa. Coisas da vida prática como navegar na Internet, produzir vídeos de baixo custo, gestão de redes sociais, contabilidade. “Não é pedir nada que já não tenha sido feito.”
Surma faz parte da nova música portuguesa, domina teclas, cordas, samplers, vozes, apresenta-se sozinha em palco. “Ser artista é muito complicado em vários aspetos”, reconhece. É um processo, uma vida sem rede e sem apoios, ocasiões em que o dinheiro sai do próprio bolso. “Ainda é difícil viver da arte em Portugal. Ainda é muito visto como um hobby, como um passatempo, mas é o meu trabalho, é um emprego a sério.” Respeito, portanto. “Sem música, sem cinema, sem teatro, sem arte, as pessoas não vivem. Um país sem cultura não é nada”, vinca. Surma mantém a esperança. E o que faria se fosse ministra da Cultura? Aulas artísticas de 20 minutos, meia hora, desde o 1.º ano, para que todas as crianças tivessem contacto com diferentes expressões desde cedo. Começar pela educação. “Das coisas a fazer, parece-me o mais acessível, temos de começar devagarinho.”
É precisamente na educação que o bailarino Fernando Duarte, diretor artístico da Dança em Diálogos, centra a sua atenção. Nota a falha da educação artística no ensino regular com o mesmo peso das letras, das ciências, do desporto – bem como a ausência de apoios privados, de mecenas, de empresas. Se não for o Estado, nada acontece, não há teatros de investimento privado, por exemplo. “O futuro não é promissor”, lamenta. Mesmo assim, há esperança. “Há muitos bons artistas e muita coluna vertebral que nos permite continuar a acreditar e a sermos criativos com os recursos que temos.”
Em 2018, a Dança em Diálogos apresentou o espetáculo de dança “Murmúrios de Pedro e Inês” em Nova Iorque, pela mão do Arte Institute. Em 2019, levaram-no a São Tomé, Angola, Moçambique, Timor e Macau, a plateias que nunca tinham visto arte semelhante. “A adesão foi extraordinária, uma atenção, um encanto, um espanto por verem algo pela primeira vez”, recorda. “O trabalho da Ana é este: acreditar que é possível levar arte, cultura, perspetivas diferentes, não só fora de Portugal, mas a sítios que pensamos que não vai haver adesão”, sintetiza Fernando Duarte. A arte e a versatilidade portuguesas, as ligações que se criam, a aprendizagem permanente e contínua, os artistas que saem da bolha, mostrar Portugal ao Mundo e fazer Portugal conhecer o Mundo. É tudo isso. “E não apenas levar a arte aos cinco continentes, é deixar semente, é deixar um legado.”
A pandemia, os sonhos e as realidades
O que estamos a fazer bem e o que estamos a fazer mal na cultura em Portugal? Ana Ventura responde. “Artisticamente estamos a fazer bem, não estamos atrás de ninguém. O que estamos a fazer mal é a maneira como comunicamos os problemas que temos dentro da nossa profissão. A sociedade civil já olha de lado, as pessoas já estão saturadas desta conversa dos ‘coitadinhos’. A maneira como estamos a comunicar não é a certa e não estamos a conseguir mostrar a importância que temos até na economia. Temos uma presença e temos uma força, e temos de aprender a falar disso, temos de nos posicionar de outra maneira, temos de evoluir como todas as outras áreas da sociedade evoluíram.”
Outro problema é precisamente a maneira como a classe artística fala do seu trabalho. “Durante a pandemia, nos pagamentos para os trabalhos online, a palavra usada foi donativos. Donativos dou para uma causa social, não para pagar o trabalho de alguém.”
Reclama-se muito e faz-se pouco? Ana Miranda divide a resposta em duas, antes e depois da pandemia. Em sua opinião, a pandemia foi uma oportunidade perdida de mostrar o poder da arte -os filmes, os concertos online, os livros, foram mantendo a sanidade das pessoas no primeiro confinamento, aponta. “A classe artística podia ter capitalizado essa mensagem nesse momento de uma forma diferente. Aqui estão as razões por que a cultura é precisa, o trabalho destas pessoas tem um valor, porque as pessoas têm de ser pagas. E não foi bem assim”, salienta “O discurso de que os apoios não chegam à cultura, que são escassos, não são suficientes, tudo isso é verdade, mas é uma realidade que já conhecemos, não vai mudar. Nós, enquanto classe, é que temos de arranjar novos modelos de negócio e começarmos a posicionar-nos de maneira que os ovos não fiquem todos no mesmo cesto, tem de haver outras formas, sem ser apenas ou exclusivamente subsídios do Estado ou de fundações, do que seja”, acrescenta. A pandemia poderia ter servido para isso. “Era um momento importante para mudarmos de discurso.” O que aconteceu? “O discurso foi sempre o mesmo antes, durante e depois da pandemia. Muitas vezes, a cultura tem razão, mas a maneira como se explica, para quem não trabalha neste meio, fica pouco clara e parece que está sempre a queixar-se, sempre a vitimizar-se.”
Pedro Adão e Silva sabe que a pandemia afetou a cultura de forma severa, mas o confinamento foi um observatório da importância do setor. “Quando estivemos confinados, todos percebemos o valor de podermos ver filmes na televisão, ler livros, ouvir música, e hoje conseguimos bem imaginar o que teria sido o confinamento sem acesso à cultura, nas suas diferentes expressões. De forma dramática, esta realidade coexistiu com a impossibilidade de os profissionais da cultura trabalharem, e manterem os seus rendimentos, o que se tornou extremamente penalizador”, adianta.
O Governo promete atenção ao abalo provocado pela pandemia. “Num momento em que outros setores já estão em franca recuperação, como será talvez o caso da restauração e da hotelaria, a verdade é que a cultura, tendo sido severamente afetada pela pandemia, não está a recuperar do mesmo modo, o que dá conta da importância de o Estado continuar a olhar para este setor com particular cuidado”, assinala o ministro.
O orçamento reservado à cultura é pequeno, muito pequeno, segundo Ivo Canelas. “Somos um povo que trabalha com muito pouco há muitos anos. Com esse pouco, ou mesmo com nenhum, continuamos a esforçar-nos e a tentar levar a cultura e o entretenimento, em geral, a outros lugares.” Há mérito, em seu entender, mas não há milagres. Dinheiro é tempo, tempo é dinheiro. “Os orçamentos são, acima de tudo, tempo. O dinheiro na cultura reflete o tempo que temos para trabalhar.” Fazem-se omeletes sem ovos, sim, os portugueses são incríveis, sim. “Com esse pouco tudo é possível e é, só que depois, no plano internacional e à escala, ficamos sempre aquém. Não são necessariamente os outros lá fora que são melhores, há um orçamento que lhes permite ser melhor do que nós, há um investimento e isso nota-se”, enfatiza.
Há 11 anos, nos primeiros passos da arrojada aventura do Arte Institute, chamaram-lhe maluca e energética, diziam-lhe que não havia espaço para Portugal fora de Portugal, que ninguém queria saber da cultura portuguesa, que não havia dinheiro, que não era possível. Começou com a ideia de fazer um festival de curtas-metragens, se ia fazer um festival, fazia um site, se fazia um site, fazia um portal. E por aí fora. Ana Miranda avançava e acreditava. “Todas as portas que se abriam, agarrei-as, na marra.” Valeu a pena por vários motivos, sobretudo pela vontade da sociedade civil de não ficar à espera, de querer fazer. “Podemos e devemos contribuir na construção do país, beneficiámos muitos artistas que de outra maneira nunca tinham saído de Portugal, ou nunca teriam conseguido alavancar as carreiras, contribuindo, com este trabalho pelo Mundo, para mostrar o que é o Portugal contemporâneo.”
Há retorno da internacionalização, programadores que passam a palavra, mais de mil artistas portugueses já beneficiaram do trabalho do Arte Institute que, antes da pandemia, fazia cerca de 120 eventos por ano com um orçamento de 120 mil dólares. “Não há aqui magia nenhuma para além da nossa imaginação.”
Ana Miranda confessa que já não tem sonhos, são 11 anos de muita realidade. Acredita, sobretudo, nos que arriscam e vão. “E continuo com esperança de que Portugal, um dia, perceba que realmente pode fazer mais enquanto país e trabalharmos mais em conjunto. Estamos sempre a tempo de voltar a reformular o discurso”, afirma. A narrativa, a forma de comunicar, o posicionamento.