Protestos acirrados, repressão agressiva, uma guerra feroz entre um presidente que deixou de o ser e uma “vice” que o substituiu. O Peru está transformado numa fogueira de dimensões colossais. E o desfecho desta história é imprevisível.
Golpe e contragolpe
A 7 de dezembro, Pedro Castillo, então presidente do Peru, anunciou a dissolução do Congresso e a intenção de formar um Governo de emergência e convocar eleições. A ideia foi antecipar-se a uma moção de censura, mas o golpe fez ricochete: o Parlamento aprovou o “impeachment” do presidente, que acabou detido. Está acusado de executar um golpe de Estado e o Supremo Tribunal do país decretou 18 meses de prisão preventiva. Ainda antes do suposto golpe, Castillo já era visado em várias investigações, por alegada corrupção.
Substituta contestada
Para apimentar esta “novela peruana”, Castillo foi rendido pela até então vice-presidente, Dina Boluarte, que logo visou o antecessor: as medidas que propunha iriam adensar a crise política que se vive no país, defendeu. Mas os peruanos não foram na conversa. Um sem-fim de protestos eclodiu nas ruas, com milhares de manifestantes (a favor de Castillo, sobretudo) a fazerem-se ouvir.
“O que resolveria a minha demissão? Vamos ficar aqui, firmes, até que o Congresso decida antecipar as eleições”
Dina Boluarte
Presidente do Peru
Um perfeito caos
Além da violência que se instalou nas ruas (a forte repressão policial já causou mais de 20 mortes), a população tem sido aconselhada a não sair de casa porque grande parte das estradas do país estão cortadas ou armadilhadas. Há carros incendiados e muito gás lacrimogéneo no ar, na tentativa de dispersar as multidões. Além de que, com a maior parte dos voos a serem cancelados, sair do país tem sido uma epopeia. Foi decretado o estado de emergência e, em várias províncias, o recolher obrigatório.
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países (México, Argentina, Colômbia e Bolívia) assinaram um comunicado conjunto em que frisam não reconhecer Boluarte como sucessora legítima e asseguram que Castillo foi vítima de uma “chicotada antidemocrática e de tratamento judicial violador”. Trata-se de uma tomada de posição sem precedentes.