No planear é que está o ganho

Happy couple using laptop and communicating while relaxing on the floor at their new home. Copy space.

Especialistas ajudam a evitar erros para esticar o salário até ao final do mês. Analisar os gastos com rigor e poupar à cabeça é preciso, para não se perder o controlo das finanças.

Apagar luzes e fechar torneiras quando não são necessárias, adequar a temperatura do esquentador, comprar eletrodomésticos eficientes, evitar o cartão de crédito para não pagar juros, levar marmita para o trabalho e partilhar boleias de carro, se não se puder recorrer a meios suaves ou transportes públicos. São várias as dicas para evitar desperdícios, mas não há propriamente uma lista mágica para tirar as famílias do vermelho, até porque cada uma deve olhar para o seu caso específico e perceber onde há (se ainda houver) margem para poupar. Mas há coisas que são fundamentais: saber com exatidão para onde vai o dinheiro, o que é realmente essencial e planear os gastos.

No geral, “os salários em Portugal são baixos, o que dificulta a capacidade de poupança. Mas, muitas pessoas, se tivessem literacia financeira, conseguiriam gerir ainda melhor os seus orçamentos”, diz Bárbara Barroso, fundadora do laboratório de literacia financeira Moneylab. Entre os erros cometidos, um dos mais frequentes é o desconhecimento. “As pessoas não fazem ideia para onde vai o seu dinheiro”, lamenta Bárbara Barroso, apontando que, “saber com exatidão vai ajudar a fazer os ajustes necessários”. “Se fizermos um mapeamento das entradas e saídas, por vezes somos confrontados com um nível de gastos em algumas rubricas que não era o que esperávamos”.

Inês Correia, mentora de finanças pessoais, lança um desafio: durante um mês, anotar os gastos todos. “Ajuda a perceber onde estamos a gastar o nosso dinheiro. Até porque, hoje em dia, com tantas transações virtuais, nem sempre temos essa consciência”, sublinha.

Outro erro, realça Bárbara Barroso, é não “poupar à cabeça”, ou seja, mal se recebe o dinheiro, deve-se retirar uma parcela para poupar. As boas práticas recomendam que seja 10% do rendimento e indicam que as famílias devem ter, também, um fundo de emergência com, pelo menos, seis vezes o rendimento mensal. É essencial para enfrentar imprevistos, mas nem todas conseguem. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, a taxa de poupança das famílias caiu para 8,3% no 1.º trimestre de 2022. Mesmo assim, é importante não desistir. “Se só conseguir 1%, poupe 1%”, recomenda Bárbara Barroso.

Natália Nunes, da Deco, aconselha as famílias a analisarem os seus hábitos, perceberem o que é essencial e onde estão a gastar o salário. “Há famílias que não falam de questões monetárias”, sendo habitual colocar num dos elementos do casal a tarefa de lidar com o dinheiro. Mas neste processo é importante “envolver todos os elementos da família”, aproveitando para “incutir nas crianças noções de gestão de orçamento e tomada de opções”, sugere a especialista da associação para a defesa do consumidor.

Definir orçamento até para os sonhos

Planear é fundamental. Isto vale não apenas para as despesas com a casa e com a alimentação, as duas principais das famílias, mas também para os transportes, lazer e até para preparar o ano letivo que se avizinha. Cada um dos setores deve ter um orçamento definido à partida.

Para além da inflação, “já houve um aumento das taxas de juro e prevê-se que haja novo aumento, nomeadamente da Euribor, associada aos créditos à habitação”, o que pode ser “um peso grande para as famílias”, alerta Inês Correia. Por isso, deve-se tentar perceber se é possível “renegociar o spread e os seguros ou até mudar o crédito para outra instituição bancária”.

Natália Nunes reforça que “não deve existir” aquela ideia de relações para o resto da vida: “Devemos estar atentos ao mercado e ver se aquilo que temos contratado com bancos, seguros, telecomunicações, etc., está ajustado e tentar renegociar ou alterar”. De acordo com a especialista da Deco, o somatório dos vários créditos “nunca deve representar mais de 35% do rendimento líquido mensal”. Quem quiser pode acompanhar a sua informação na central de responsabilidades de crédito no site do Banco de Portugal.

Respeitar a lista de compras – que se faz após analisar a despensa e planear as refeições – não é algo menor. Evita que as pessoas sucumbam a promoções de que não necessitam e percam o controlo no supermercado. Ir com tempo permite comparar preços para fazer melhores opções.

Deve haver orçamento para todos os setores. Inclusive, frisa Natália Nunes, para os “sonhos”. Ali podem encaixar-se as atividades de lazer (as que não se conseguem gratuitamente), as férias ou algum equipamento que se deseje. Segundo Inês Correia, reservar uma fatia do rendimento para gastos com lazer, quando as outras despesas estiveram asseguradas, permite usufruir destes momentos “com tranquilidade e sem culpa”.

Despesas para o IRS

Para além de não deixar escapar os vouchers para livros nas escolas públicas, é preciso fazer um levantamento do material que já se tem em casa. Se está em bom estado, dá para reutilizar e sai da lista de compras. E atenção ao local onde adquire o material. Para as despesas do IRS não entra o que for comprado no supermercado. No entanto, se for adquirido nas papelarias das escolas, que têm um código de atividade económica diferente, “já entra como despesa de educação”, avisa Bárbara Barroso. Convém avaliar se o preço compensa. Nas mochilas, a especialista recomenda que se “faça um bom investimento, sob pena de elas não durarem” muito tempo.