Miranda Sarmento. O reservado professor

Miranda Sarmento é o novo líder da bancada parlamentar do PSD

Contido, muito cuidadoso com as palavras. Falta-lhe em oratória o que lhe sobra em qualidade técnica. Tem em Cavaco Silva uma referência. Interessa-se por História. Adora o Benfica. Ouve Pink Floyd e Queen.

“Não esperem de mim gritaria ou ataques pessoais.” Joaquim Miranda Sarmento promete “seriedade e reflexão técnica” na discussão e atitude parlamentar “elevada, mas incisiva, com críticas e interpelações ao Governo, todas as que forem necessárias”. Não é figura mediática, o novo líder da bancada parlamentar do PSD. Militante desde o primeiro ano do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), só em 2018 ganharia destaque. Liderava Rui Rio. “É o Centeno do PSD”, comparava o presidente, aludindo a Mário, então ministro das Finanças de António Costa. A entrada deu-se pela mão de David Justino, ex- vice-presidente da Comissão Política Nacional. Conheceram-se no Palácio de Belém, assessoravam Cavaco Silva. Justino, sociólogo, nos assuntos sociais. Miranda Sarmento, jovem economista a caminho do doutoramento e cavaquista comprometido, nas Finanças Públicas.

“Muito reservado e contido, muito cuidadoso com as palavras, sempre foi e assim continua. Por isso me surpreendeu que tivesse aceitado ser líder parlamentar”, confessa David Justino. Não foi seguramente escolhido pelo dom da oratória. “Não é um tribuno, diria até que é precisamente o contrário.” Mas, acrescenta David Justino, “por vezes, surgem qualidades que não se esperam e que podem suprir a falta de experiência nas lides parlamentares, até porque tem a capacidade adversarial necessária”. No PSD, crê-se que melhor escolha seria difícil. “Nos próximos anos, a economia será o centro do debate político e parlamentar. Ora, o primeiro-ministro é especialista em questões políticas, não o é em matérias económicas. No confronto político, ganha. Nas questões económicas, Sarmento tem toda a vantagem”, diz fonte social-democrata. O “economês” e o abuso do jargão anglo-saxónico são pontos frágeis, no entendimento de David Justino, que aconselha o amigo a criar uma “nova gramática”.

Diz Miranda Sarmento: “É da minha natureza ser analítico, ponderado, realista”. Considera que a capacidade de diálogo com todas as forças partidárias e o percurso na academia, “com alguma relevância e credibilidade”, como docente e investigador, pesaram na eleição para o cargo. “Também a capacidade de trabalho. Arriscaria dizer que é workaholic”, acrescenta Lopes Henriques, catedrático do ISEG e mentor. Martins Sarmento foi seu aluno. À noite, estudante; de dia, inspetor das finanças recrutado em 90 mil candidaturas. “Sempre participativo, de muito trabalho, esforço, solidariedade com os colegas”.

Tem prazer em ouvir. “Isso faz toda a diferença. É um falso tímido que dá espaço às outras pessoas”, acrescenta Lopes Henriques. Esperem dele “enorme capacidade argumentativa”, diz ainda o catedrático. “Tem ideias próprias e prepara-se muito bem, o que o torna muito capaz para o debate político.” Sobre a falta de experiência, ironiza: “Está muito habituado a parlamentar com as filhas, de 8 e 12 anos”. Ao amigo, perguntou se estaria preparado para “grandes sacrifícios” e para a pressão mediática. “Respondeu-me que sim. E a resposta deixou-me descansado.”

O novo líder parlamentar do PSD raramente perde a calma. Apenas quem o conhece muito bem percebe quando está irritado. “As frases tornam-se cada vez mais curtas, até ficar calado”, confessa Nelson Coelho. Os dois amigos têm um percurso comum: trabalharam nas finanças, foram deputados à assembleia municipal da Câmara de Lisboa, são do PSD, regressados com a liderança de Rio. “O Joaquim é extremamente trabalhador, discreto e ambicioso.” Um caráter “aparentemente distante e muito resguardado”. Mais ainda nas maiores adversidades: “No dia em que se fecharam as listas às legislativas de 2022, morreu-lhe o pai. Ninguém notou e estava a sofrer imenso, naturalmente”, conta Nelson Coelho.

Filho de um economista, na Secundária de Benfica interessou-se pela política. Descobriu a Matemática. E a História, leitura recorrente, ao som das bandas de juventude: Pink Floyd e Queen. Com Nelson Coelho partilha ainda a militância benfiquista. “É um autêntico treinador de bancada.” Mantém alta a fasquia das expectativas. Tem por isso grandes desilusões. “Crescemos com as maiorias absolutas de Cavaco Silva, com um país a vibrar. Achávamos que o futuro iria ser radiante. Passaram 25 anos e vimos que não foi assim. Somos uma geração perdida, perdemos demasiados comboios.” Porém, diz, “o Joaquim reage, mantém-se um otimista, não se resigna”.

O Centeno do PSD ambiciona ser ministro? “Ambiciono que o PSD seja Governo e possa dar um contributo ao país.” No ISEG, os alunos elegem-no como sendo exemplar. É professor que se sente. “Estou a fazer uma função política, mas o meu lugar é do outro lado da rua do Parlamento”, diz, referindo-se ao edifício onde leciona. Defeitos, talvez o da gula, dizem os amigos. “Basta olhar para mim.” Combate-o correndo e nadando, sempre que pode.

Joaquim Miranda Sarmento
Cargo: Líder da bancada parlamentar do PSD
Nascimento: 07/08/1978 (43 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)