Mineiro Aires. O engenheiro do plano

Mineiro Aires é presidente da comissão de acompanhamento aos trabalhos da comissão técnica independente do novo aeroporto

A quem o dá como homem próximo de António Costa responde que o mais perto que vai estando do primeiro-ministro é num ou noutro sábado em que se cruzam na banca do peixe do Mercado de Alvalade. Tem quase 71 anos. É um golfista razoável. O maior defeito, para os amigos, é a teimosia.

Nasceu em 1951, ano marcado por duas obras de engenharia ribatejanas: a construção, em janeiro, da barragem de Castelo de Bode, situada nos limites do concelhos de Abrantes, precisamente a sua terra natal, e a ponte de Vila Franca de Xira, inaugurada em dezembro daquele ano, a primeira a ligar as duas margens do rio Tejo na região de Lisboa.

Aos oito anos, a vocação deu sinal: dois dias depois de receber de presente um carro de combate, movido a pilhas, com dois canhões e muitas luzinhas, esventrou o brinquedo para sacar a única peça que verdadeiramente lhe interessava, o motor, causando no pai, militar de carreira, desgosto profundo. (O episódio poderia ter sido prenúncio de uma outra hipótese vocacional, a medicina, avançada a certa altura, mas depressa abandonada tal a descrição de uma noite de banco de hospital, feita por um amigo).

Pouco depois, partiu com a família para Moçambique, onde o pai cumpriria uma comissão de serviço. Foi o primeiro contacto com África (dos 8 aos 12 anos), retomado, após nova estadia na metrópole, em 1970. Dos 19 aos 24 anos, agora em Luanda, toma consciência política. Questiona a fé – adolescente, ajudava na missa -, crê no internacionalismo proletário. Que o socialismo pode salvar o Mundo. Com colegas da faculdade – António Costa Silva, ministro de Economia, e o jornalista Nicolau Santos, entre outros – anima debates acesos sobre os filmes que vão passando no cineclube: “O couraçado Potemkine” (Serguei Eisenstein), “Blow-up” (Antonioni), “Laranja Mecânica” (Stanley Kubrick).

Envolve-se na política, pondera ficar a viver de vez em Angola, mas acaba por ouvir o insistente conselho de um amigo e regressar a Portugal, corria o verão quente de 1975. Nunca esquecerá África.

Foi uma criança tímida, obrigada pela profissão paterna a saltar de escola em escola, de amizade em amizade. Até aos 14 anos não era gago, era mudo, costuma dizer. A timidez era aliviada à guitarra. “Os Órbitas” animavam os bailaricos ribatejanos e as festas estudantis com êxitos dos anos 1970. Ao microfone não gaguejava. E se a gaguez nunca o impediu de dizer o que quer que fosse, amigos garantem que não abre a boca sem primeiro pensar muito bem. Assim foi quando teceu críticas duras aos interesses da ANA no novo aeroporto, era então bastonário da Ordem dos Engenheiros.

Hoje, presidente do Conselho Superior de Obras Públicas, cargo que exerce pro bono, vai liderar a comissão de acompanhamento aos trabalhos da comissão técnica independente do novo aeroporto. A quem o dá como homem próximo de António Costa responde que o mais perto que vai estando do primeiro-ministro é num ou noutro sábado em que se cruzam na banca do peixe do Mercado de Alvalade.

Orgulha-se de ter dirigido a obra de saneamento da costa do Estoril, planeamento arrojado e considerado um “case study”, que tornou viáveis as praias daquela zona. Os dias mais duros foram vividos com a queda da ponte de Entre-os-Rios, presidia ao Instituto da Água, apontado a certa altura como potencial corresponsável pelo colapso da estrutura.

Na engenharia fascina-o a capacidade de materialização de uma ideia. Nunca esquece que a reta é sempre o caminho mais curto. Gosta de trabalhar com o Spotify ligado. Alguma música clássica, mas sobretudo Beatles, Pink Floyd, Emerson, Lake & Palmer. Recentemente, ofereceu a um sobrinho o exemplar que restava de uma paixão antiga, as motas. Foi tendo muitas, só a Honda CB 750 lhe encheu as medidas.

Durante anos, Chiclete e Melga, cães de água, fizeram parte da família. A Melga chegou era a filha mais velha uma criança. Partiu com a miúda já engenheira. Tem uma outra filha, psicóloga. Em 2022 nasceram-lhe duas netas, a Carlota e a Frederica. Tem quase 71 anos – completa-os no próximo dia 29. É um golfista razoável. O maior defeito, para os amigos, é a teimosia.

Carlos Alberto Mineiro Aires
Cargo:
presidente da comissão de acompanhamento aos trabalhos da comissão técnica independente do novo aeroporto
Nascimento: 29/10/1951 (70 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Abrantes, Ribatejo)