Miguel Bessa: o investigador que põe a inteligência artificial ao serviço de novas conquistas

Miguel Bessa é engenheiro mecânico, professor e investigador

O português é professor e investigador numa universidade dos Países Baixos. Agora, prepara-se para se mudar para os Estados Unidos.

Miguel Bessa estava do lado de lá do Atlântico, em Chicago, quando começou a perceber o poder da inteligência artificial. “No fundo, estamos à procura de um tesouro e a inteligência artificial é o nosso mapa do tesouro. É um auxílio à descoberta de investigadores e cientistas.” É num misto de fascínio e dom que o portuense lidera hoje um grupo de investigação na Universidade Técnica de Delft, nos Países Baixos, onde usa inteligência artificial para criar novos materiais e estruturas – já lá iremos.

Desde miúdo que Miguel sabia que a engenharia ia ser o caminho. Ainda estava a estudar Engenharia Mecânica na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto quando foi convidado para fazer investigação. E o percurso moldava-se aí. Começou a trabalhar em projetos com a NASA e a Airbus em design de materiais compósitos para rockets e aviões e nem os convites, no final do curso, para empresas gigantes o desviaram da paixão que acabara de descobrir: a investigação. No verão de 2011, mudou-se para os Estados Unidos – foi fazer o doutoramento para a Universidade Northwestern – onde acabou a mergulhar no mundo da inteligência artificial e, pelo meio, casou com uma portuguesa, que o acompanha nesta jornada.

Lá, ainda passou pelo Caltech, Instituto de Tecnologia da Califórnia, um dos melhores do Mundo na área aeroespacial. Mas há cinco anos quis concretizar o sonho de ser professor, a oportunidade surgiu na Universidade Técnica de Delft, Departamento de Materiais. É aí que coordena um grupo de investigação que tem um só objetivo: que seja a inteligência artificial a fazer o design de materiais e estruturas. “A inteligência artificial ainda está muito atrás das capacidades humanas, mas já há circunstâncias em que nos ajuda a descobrir coisas melhores.” Nas últimas décadas, a área conheceu avanços gigantes, “está a tornar-se numa ferramenta que os engenheiros usam”. E o português está a contribuir para isso.

O seu grupo de investigação, com a ajuda da inteligência artificial, já desenvolveu um material supercompressível, “que dá para comprimir à volta de 95% e regressar ao estado inicial”, e um dos sensores mais sensíveis do Mundo. Agora, estão a trabalhar em novos algoritmos de inteligência artificial que trabalham a memória. “As redes neuronais artificiais já conseguem coisas incríveis, como ganhar ao campeão mundial de xadrez, mas assim que aprendem algo novo, esquecem todo o conhecimento anterior.” O novo algoritmo já permite aprender até dez tarefas.

Em julho, Miguel vai voltar aos Estados Unidos, dar aulas de Engenharia Mecânica na Universidade Brown e continuar o trabalho de investigação. “Gosto muito da Europa, mas as grandes universidades americanas dão condições que são imbatíveis.” Sabe que vai voltar a um país que mora longe da igualdade e qualidade de vida transversal dos Países Baixos. “Para um europeu, os contrastes da sociedade americana roçam o chocante. Mas quem tem sorte, trabalha muito e tem algum talento, consegue viver num ambiente incrivelmente estimulante. A sensação é que não existem limites.”

Miguel Bessa
Localização: Delft, Países Baixos 52° 0’ 43” N 4° 21’ 37” E (GMT +1)
Cargo: Engenheiro mecânico, professor e investigador
Idade: 35 anos