Miguel Aparício, emigrado na Colômbia, começou a resgatar na pandemia animais que iam para abate, dando-lhes um lugar para viverem em liberdade. Hoje sonha replicar o projeto em Portugal.
Quando o lisboeta Miguel Aparício aterrou na Colômbia, há oito anos, já levava na bagagem um passado de ativismo e intervenção em prol do bem-estar dos animais. Por cá, o vegano não só presidiu a uma associação animal, como participou em várias manifestações contra touradas, tiro aos pombos, circos com animais, entre outras causas.
Não é por isso de estranhar que, mal a pandemia atingiu aquele país da América Latina, tenha saído da sua habitação em La Calera, um município rural a 30 minutos da capital Bogotá, para alimentar cães e gatos de rua. Mas deparou-se com um cenário “dantesco”. Nas bermas, conta, “havia muitos animais de quinta, como bezerros, ovelhas, vacas, que estavam amarrados, à espera que passassem camiões para os levar para o matadouro”. Devido aos constrangimentos da pandemia, os veículos demoravam mais tempo do que o habitual, deixando os animais dias e dias à espera. Era “impossível ignorá-los”.
A primeira a ser resgatada foi uma ovelha, que “gritava e chorava há cinco dias”. Chamou-lhe Renata. Seguiu-se um bezerro, a que deu o nome de Tambor.
Com a ajuda da mulher, Miguel foi convencendo os proprietários a cederem os animais gratuitamente ou por um preço simbólico e arrendou terrenos para os alojar. A ação foi sendo divulgada e depressa começou a ser contactado para acolher outros indesejados, maltratados ou abandonados. “Quando demos conta, estávamos a fazer um santuário animal”, um espaço onde “podem viver livres e felizes até ao fim dos seus dias”, conta o português.
Entretanto, um casal de médicos veterinários encerrou a atividade leiteira na sua quinta e uniu-se ao projeto, fazendo daquele espaço, com 52 hectares, a nova morada do santuário. A quinta está a ser convertida em ecoturismo, procurando dar sustentabilidade ao projeto, que até agora tem subsistido graças a visitas pagas e donativos.
Hoje, o Santuário Animal Namigni (o nome é a junção do nome de Miguel com o da esposa, Nani) tem perto de 300 animais, entre porcos, vacas, burros, ovelhas, cabras, cavalos, galinhas, cães e tantos outros. Todos com nome e história. Um terço são vacas idosas, touros e bezerros machos, pois numa região leiteira, os bovinos que não produzem leite não têm valor. Pelos cálculos do ativista, este será o maior santuário do género na América Latina.
Mas os planos de Miguel não se esgotam aqui. A ideia é replicar o modelo noutras zonas da América Latina e até criar projetos similares na Península Ibérica, abrindo caminho à mudança que deseja: terminar com a exploração de gado, sem deixar os produtores pecuários para trás. Em Portugal até já tem um candidato interessado, na zona do Ribatejo.
Outra ideia passa por criar um santuário exlusivo para os “133 hipopótamos que deambulam pela Colômbia, um surpreendente legado do narcotraficante Pablo Escobar”.
Miguel Aparício
Localização: La Calera, Cundinamarca, Colômbia 4°45’28.9”N 73°59’50.9”W (GMT-6)
Profissão: Ativista e consultor de estratégia e financiamento empresarial
Idade: 41 anos