Miguel Alves: o distribuidor de jogo

Miguel Alves é secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro

Está habituado a decidir e conhece a máquina do Estado. Opositores dizem-no um homem de compromisso. No PS, a escolha certa. O novo secretário de Estado adjunto de Costa declara-se minhoto “em tudo”. Desde logo, no gosto por cantar ao desafio, na vocação para o pé de dança.

António Costa destinou-lhe um dos cargos governativos de maior confiança política. E pessoal: o secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro assiste da primeira fila às fraquezas, hesitações, lapsos e receios do líder do Executivo. A escolha não surpreendeu. Miguel Alves foi adjunto de Costa na Administração Interna (janeiro de 2006 a maio de 2007) e, com funções semelhantes, na Câmara de Lisboa (agosto de 2007 a outubro de 2009). De resto, basta olhar para os antecessores – Mariana Vieira da Silva, Duarte Cordeiro, Tiago Antunes – para se adivinhar o perfil de Miguel Alves: “É um olheiro, um distribuidor de jogo, com enorme capacidade de articulação de todo o Governo”, diz Pedro Delgado Alves. O deputado socialista releva “a experiência enquanto decisor autárquico” e, também “o conhecimento da máquina do Estado”, essenciais ao lugar.

À semelhança de quem o antecedeu, o descomplicador-mor do XXIII Governo é bom a filtrar informação, a antecipar os problemas, a inventar soluções. A nomeação, porém, releva um dado novo. “Um ângulo novo”, reconhece o próprio. “Leio o país e o Governo a partir do território e não a partir de Lisboa. Penso que é esse olhar, que naturalmente vale o que vale, que o primeiro-ministro quer que leve para São Bento.”

O país e o Governo vistos do Minho. Filho de um casal que o destino apaixonou por correspondência – ela em Monção, ele na Guerra Colonial -, nasce em Lisboa por acaso. Vive em Caminha desde criança, miúdo franzino e calado, apesar da natureza expansiva e alegre, apenas revelada na liderança de um grupo de rapazes e raparigas católicos, já adolescente, aprendendo a tocar viola, a cantar à desgarrada, “a beber copos e a namoriscar”, de bailarico em bailarico. Vinte e cinco anos mais tarde, torna-se presidente da Câmara da cidade, cumprindo agora o terceiro mandato. “A certa altura quis ganhar umas eleições”, diz. Numa Câmara difícil, costeira e por isso mesmo sujeita a muita pressão.

“É um homem de compromissos, voluntarioso”, diz Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara de Famalicão. Miguel Alves sucede-lhe na presidência do Conselho Regional do Norte, em 2018. “No passar de pasta tivemos uma conversa muito cordial, sincera e honesta”, diz o ex-autarca que, apesar de militar no PSD, já felicitou o socialista pelas novas funções.

O Direito leva Miguel Alves à Universidade de Coimbra e à intensificação da atividade associativa e académica. Como advogado, inicia a carreira em Guimarães, primeiro estagiário da César Machado, Pedro Vilhena Roque e Octávio Santos, Sociedade de advogados. “Vinha de Coimbra já com muita atividade política, nomeadamente nos órgãos da academia. Mostrou-se cheio de iniciativa, mobilizador, competente, interessado, com o discurso muito fluído”, recorda César Machado. Para além da convivência no escritório, cruzam-se na câmara municipal vimaranense: César Machado como vereador e Miguel Alves como deputado, eleito desde logo líder do grupo parlamentar. Ambos pelo PS. “Colocaria o Miguel na ala esquerda do partido. É muito próximo de António Costa, mas julgo que não terá fação. Quando muito pertence ao Miguelalvismo”.

César Machado encontra apenas um grande defeito no amigo. “É benfiquista”, comentário que merecerá o desacordo de António Costa. De resto, acrescenta, “é alguém de quem é muito fácil gostar-se”. Deve-lhe ter provado o célebre assado de cabrito, “a foda”, prato tradicional minhoto, que Miguel fez questão de servir no casamento, católico, com Filipa. “Sou praticante, um homem de fé”, diz, sem encontrar contradição no facto de ter apoiado a despenalização do aborto.

Defeitos, tem vários, diz. Por exemplo, a irritabilidade que lhe provocam faltas a compromissos, exagerada, desnecessária. É uma aresta que pretende ir limando. Declara-se minhoto “em tudo”. “Na maneira intensa como vivo a alegria e a tristeza. No gosto por cantar ao desafio – e dizem que canto muito bem -, na vocação para o pé de dança.” “Num cenário de fim do mundo, era em Monção que queria estar: na praia, com a minha família”. Filipa, nascida em Monção, e Francisco, de 3 anos, também minhoto.

Por enquanto, Miguel Alves prepara o regresso a Lisboa. “Nunca senti tanta responsabilidade”. Sabe o que o espera: “Estou com um nervoso miudinho”.

Luís Miguel da Silva Alves
Cargo: Secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro
Nascimento: 12/09/1975 (47 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)