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Menos terra e menos água. Como vamos alimentar mais gente?

O Mundo está a mudar e alimentar o Planeta é um desafio à escala global (Foto: E. Pain/Timac International)

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O Mundo terá dez mil milhões de habitantes em 2050. Como produzir mais e melhor? Como contrariar os efeitos das alterações climáticas? Como garantir a segurança alimentar? O clima e o solo estão a mudar, a agricultura sabe disso, os desafios são gigantes. A Timac Agro usa compostos de substâncias naturais para potenciar o património genético das plantas numa nova geração de bioestimulantes. A empresa explica o que faz a partir de França para o resto do Planeta.

Os dados estão lançados e fazem-se cálculos. Em 1950, um hectare de terra alimentava duas pessoas. Em 2005, o mesmo espaço tinha de chegar para quatro. Daqui a oito anos, em 2030, um hectare tem de satisfazer mais de uma mão cheia de gente. Com menos terra e menos água, com mais gente e mais dióxido de carbono, com mais fenómenos climáticos extremos e mais restrições ambientais. O Mundo está a mudar e alimentar o Planeta é um desafio à escala global. Até 2050, a produção de bens alimentares tem de aumentar mais de 50%, a produtividade cerca de 70%, a sustentabilidade dos sistemas agrícolas mais de 40% para uma menor degradação do meio ambiente, principalmente da qualidade do solo. Quem se dedica à terra, sabe as questões que tem pela frente.

O Alentejo profundo sente as alterações do clima e do solo de forma agressiva, quase por antecipação. O tempo muda e a terra ressente-se. Pedro Hipólito, engenheiro agroindustrial, diretor-geral da Herdade da Mingorra, em Beja, olha por 170 hectares de vinha, 320 hectares de amendoal, 100 hectares de olival. Está na arte há 30 anos, conhece-lhe as virtudes e as vulnerabilidades, os tempos e humores, as alegrias e tristezas, e a importância de arregaçar as mangas e calçar as galochas para encarar adversidades. “As grandes alterações são climáticas, sentimos um aumento das temperaturas, nos últimos anos, há menos pluviosidade, cai mais água em pouco tempo e menos distribuída ao longo do tempo. Há um stress térmico muito grande, isso é notório, e as plantas sofrem”, observa.

Os desafios são conhecidos. Tudo acontece à vista, debaixo dos pés. “A nossa preocupação tem sido olhar para as plantas, para a vinha, para o olival, para o amendoal, e tentar entender as necessidades, entender o ambiente, o clima, o solo, para encontrar um equilíbrio natural”, adianta Pedro Hipólito.

Pedro Hipólito, engenheiro agroindustrial na Herdade da Mingorra, em Beja. São centenas de hectares de vinha, olival e amendoal para cuidar, tentando perceber as necessidades do solo, das plantas, e as vicissitudes do clima. As temperaturas estão mais altas, os fenómenos climáticos extremos acontecem com maior frequência
(Foto: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)

As preocupações não são diferentes mais a norte, onde José Barroso, engenheiro agrónomo, gerente da Casa Agrícola Antunes Barroso, Lda., com sede na Quinta de Vila Chã, concelho de Azambuja, zela por 45 hectares de olival e outros 45 hectares de vinha. São 22 anos dedicados a cuidar da terra a tempo inteiro. O solo, e a capacidade de continuar a produzir, e a água, cada vez mais escassa, são os desafios maiores. Há ainda, acrescenta, a falta de mão de obra, porque nem tudo é mecânico, e a valorização do produto final. No fundo, tem de haver um equilíbrio do que se quer da terra e do que se quer produzir e da forma como se produz. E isso, em sua opinião, não pode ser feito a todo o custo. É preciso explorar o solo de forma natural, robustecer as defesas do que nasce e cresce na terra. “Está mais do que provado que uma planta equilibrada, em termos nutricionais, tem mais defesas – será sempre mais fácil combater fatores extremos e doenças”, refere.

Essas perguntas, essas dúvidas, esses desafios e possibilidades são analisados à lupa em Saint-Malo, na Bretanha, França, onde o mar tem força (tem uma das marés com maior amplitude do Mundo, contam-se 13 metros entre a baixa e a alta) e tem algas calcárias que o Grupo Roullier, especialista em nutrição vegetal e animal, começou a usar nos fertilizantes desde a sua fundação, em 1959. Desde então, não parou de crescer, com presença comercial em 131 países. A Timac Agro é o ramo de atividade do grupo francês especializado na nutrição dos solos, das plantas e dos animais. É em Saint-Malo, cidade portuária na costa norte de França, que surgem perguntas, respostas e produtos que tentam puxar pelo potencial das plantas, preservar a Natureza e proteger o ambiente.

Uma fórmula natural: algas, microrganismos, minerais

Estamos no CMI – Centro Mundial de Inovação do Grupo Roullier, em Saint-Malo, edifício moderno, que concentra mais de 160 investigadores, de 24 nacionalidades, que se dedicam a criar soluções para uma agricultura sustentável e eficiente. A missão dos especialistas que ali se encontram, ora em salas de reuniões para partilha de ideias, ora em gabinetes com materiais de laboratório e tecnologia de monitorização, é bastante clara. Melhorar e fortalecer as funções específicas dos solos, das plantas, dos animais.

O dia começa cedo e Sylvain Pluchon, diretor de produtos R&D (Pesquisa e Desenvolvimento) do CMI, explica que é preciso pensar os nutrientes num desenho circular, de forma dinâmica, na sua relação com as plantas e com os animais e, consequentemente, com as pessoas. Como um enorme loop. A conversa começa precisamente por um dos maiores desafios do século: alimentar dez mil milhões em 2050. As questões são inevitáveis. Produzir mais e produzir melhor, contrariar os efeitos das alterações climáticas, clima mais seco e mais quente. Mesmo assim, é preciso olhar com atenção para o que existe ao redor. “A Natureza dá todas as ferramentas para inovar e criar soluções”, repara o responsável.

No Centro Mundial de Inovação do Grupo Roullier, em Saint-Malo, norte de França, mais de 160 investigadores, de 24 nacionalidades, procuram soluções para uma agricultura sustentável e eficiente. Nesta estufa, monitorizam-se várias plantas, diversas culturas, analisam-se dados e informações, estudam-se compostos naturais
(Foto: Emannuel Pain/Roullier)

Numa estufa do CMI, reproduzem-se as condições de cada solo, há diferentes plantas, máquinas com funções específicas, raízes coladas em rolos azuis para serem monitorizadas, pulverizações feitas à medida e ao segundo. “Precisamos de máquinas e de competências. Medimos especificamente cada composto, descobrimos diferentes proteínas”, pormenoriza Sylvain Pluchon. Não são usados solventes que agridam o ambiente, a estufa tem tapetes rolantes para mover plantas e evitar interferências externas, é um espaço adaptado a todas as culturas, a todas as condições da terra. Todos os dias, tiram-se fotografias para acompanhar a evolução, para analisar informação. São mais de 1200 metros quadrados de estufas (“greenhouses”) e ensaios constantes com raízes e com sementes. Os especialistas visitam quatro milhões de hectares por dia, estabeleceram-se parcerias com mais de 200 universidades e institutos científicos em todo o Mundo. Sylvain Pluchon conhece o CIM como a palma das suas mãos e o trabalho que nunca pára. “O que acontece com a planta, a literatura explica. Temos alvos muito específicos que nos interessam, analisamos reações, analisamos respostas.” “Há uma visão de futuro para a agricultura e o futuro tem de ser sustentável”, acrescenta.

No início da semana, no arranque de 2022, a Timac Agro colocou à venda, em Portugal, uma nova geração de bioestimulantes que potencia o património genético das plantas, como um interruptor. São cinco gamas com diferentes modos de atuação (remodelação celular, performance genética, diminuição do stress da planta, nutrição estimulada) que têm na sua composição substâncias de origem natural, extratos de plantas, extratos de algas do mar de Saint-Malo, microrganismos, minerais específicos – como o silício, que aumenta a capacidade de captação de nutrientes do solo. Os novos produtos aumentam a capacidade de resistência ao stress hídrico (vento, salinidade, variação de temperaturas) e a resiliência às alterações climáticas. A fórmula é líquida, basta adicionar água para pulverizar plantações.

Os novos bioestimulantes surgem depois de mais de oito anos de investigação, mais de 450 ensaios de pesquisa, mais de 250 testes feitos em vários países, Portugal incluído. Isolaram-se substâncias importantes. Nada se modifica, tudo se maximiza.

Marco Morais, diretor-geral da Timac Agro em Portugal, fala numa ferramenta poderosa. Uma planta não aproveita metade de um saco de adubo, muito do seu conteúdo vai para as águas subterrâneas ou evapora-se no ar. “Com metade do que aplicamos, conseguimos maior produtividade”, assegura. “É mais uma ferramenta nesta luta contra o agravamento das alterações climáticas. Uma gama mais poderosa e que recorreu a mais tecnologia”, adiciona.

As questões regulamentares são cada vez mais apertadas, mais restrições, os agroquímicos são proibidos na Europa, é preciso controlar as pragas, as lagartas, as moscas, as doenças, é necessário produzir mais por hectare. “Temos de ser cada vez mais eficientes, produzir mais com menos terra”, lembra Marco Morais. “A agricultura convencional evoluiu muitíssimo, há que responder ao que o mercado exige, e minimizar o impacto para o meio ambiente.”

Sempre no terreno: no campo e no laboratório

“Estamos num momento crítico que afeta a produção agrícola e alimentar”, avisa Jéssica da Costa, diretora de Desenvolvimento de Produto da Timac Agro a nível internacional, numa apresentação no CIM. Fala de fenómenos ambientais extremos, geada e granizo com maior frequência, neve onde não havia neve, recordes históricos de temperaturas elevadas. É necessário responder e a bioestimulação faz isso. “Amplia a capacidade da planta, melhorando a sua bagagem genética, estimula o gene que absorve o nutriente do solo. Nada é modificado. As plantas ficam mais resistentes às alterações climáticas, ao stress climático, mais tolerantes à seca e ao frio.” Resumindo, a performance melhora. “Como um desportista que corre, corre, e corre cada vez melhor”, compara Jéssica da Costa.

José Barroso usa bioestimulantes de forma regular há cerca de sete anos. “Temos de reduzir cada vez mais os adubos e usar bioestimulantes, maximizando as produções, mas não pode ser a qualquer custo, não pode ser de forma cega”, diz. O equilíbrio é fundamental. “Conseguimos ter um equilíbrio em termos de solo e plantação para mais anos, e contribuímos para um ambiente melhor.”

Os bioestimulantes feitos de produtos naturais são, para o engenheiro agrónomo, “uma parte bastante importante nesta equação”. Ou seja, nos desafios que a agricultura enfrenta. Se há uns anos se sabia pouco, se olhava com ceticismo para estes novos produtos, agora, há mais informação, opiniões fundamentadas, artigos científicos, especialistas na área. “As experiências e a investigação dão segurança, além do apoio técnico e o aconselhamento. Dão segurança de que se trata de uma excelente ferramenta e que estamos no caminho certo.” Até porque, realça, “nós, agricultores, temos a responsabilidade de perpetuar a nossa atividade.”

José Barroso, engenheiro agrónomo, tem vinha e olival numa quinta, no concelho de Azambuja. A utilização de bioestimulantes torna as plantas mais resistentes ao stress hídrico, mais resilientes aos efeitos das alterações climáticas, mais capazes de enfrentar pragas e doenças
(Foto: Paulo Spranger/Global Imagens)

A Herdade da Mingorra usa bioestimulantes desde 2016, primeiro no amendoal, a seguir na vinha, depois no olival. Pedro Hipólito sente diferenças nessa utilização. Solo saudável, planta saudável, mais resistente e mais capaz. “Consegue-se desbloquear a absorção de determinados elementos do solo. Maximiza o potencial das plantas, melhorando o seu desempenho”, salienta.

As perguntas sucedem-se. “O que é que nós queremos? Na agricultura, queremos minimizar os riscos perante as adversidades naturais, cada vez mais frequentes, maximizar o potencial das plantas, diminuir a necessidade de outros recursos – menos fertilizantes, menos inseticidas, menos fungicidas.” Produzir mais com menos recursos sem danos para o ambiente. “Poderá não haver recursos para tanta gente. É um problema que tem de ser posto em cima da mesa. Temos de ser sérios na agricultura para tentar resolver essas questões.”

A Timac Agro faz bioestimulantes desde 1990, a nova gama, colocada à venda no nosso país há poucos dias, foi batizada de ADN, anacrónico francês: A de “amélioration”, D de dé-stress, N de “nutrition”. Mais um produto do Grupo Roullier que, no total, emprega 8500 pessoas, tem 97 unidades industriais em todo o Mundo, fatura cerca de dois mil milhões de euros por ano. Um produto testado no nosso país por agricultores, sobretudo na produção de tomate, com resultados animadores, registo de aumento de produtividade em 7,5% por hectare, redução de 50% no uso de fertilizantes.

Rui Rosa é diretor-geral da Vitas Portugal, filial do Grupo Roullier no nosso país, com unidades de produção de fertilizantes sólidos e complementos minerais para nutrição animal em Setúbal, uma empresa vinícola em Almeirim, uma adega e uma quinta em Monção. São mais de 160 funcionários, 500 visitas a explorações agrícolas por dia, 8500 hectares percorridos em território nacional.

O responsável destaca esse acompanhamento de proximidade no campo, junto do agricultor, na sua atividade diária. É um trabalho de baixo para cima. “É fundamental perceber as diferentes necessidades das diferentes culturas em diferentes momentos”, assinala. É necessário otimizar o solo, tratar do crescimento das plantas, respeitando a Natureza, maximizar o bem-estar animal. “Temos soluções à medida para cada cultura e espécie animal, para uma agricultura mais sustentável, mais durável, que nos permite respeitar o ambiente”, enfatiza Rui Rosa. Para isso, é imperioso escutar a Natureza. “Perceber como as plantas funcionam, quais os mecanismos com os quais se sentem melhor. Para que a terra e os homens produzam o melhor.” A terra e os homens, onde tudo começa, onde tudo acaba.