Leonid Nevzlin: inimigo perpétuo

Leonid Nevzlin é empresário

Longe vai o tempo em que o filho de bielorrussos recebeu a Ordem da Amizade, uma das maiores honrarias da Rússia, onde nasceu. De Putin, disse: “Tudo o que toca, morre”.

Foi dos primeiros a acusar Putin de pretender o extermínio deliberado de um povo, o primeiro a proferir a palavra. “Sou contra o genocídio dos ucranianos”, declarou, passada uma semana da invasão. Nesse mesmo dia, o magnata israelita nascido em Moscovo anunciava a renúncia ao passaporte russo. “Se pensar numa segunda cidadania, ficaria orgulhoso se fosse ucraniana.” De Putin, disse: “Tudo o que toca, morre”.

Garantindo ter fontes em Moscovo, o em tempos poderoso oligarca russo largava nas redes sociais “segredos do Kremlin”. O ministro da Defesa, Sergei Shoigu, a certa altura desaparecido, sofrera de um ataque cardíaco de “forma não natural”, dando a entender tratar-se de envenenamento. Putin teria demitido 20 generais por alegados desvios de fundos. Arkady Dvorkovich, economista, ex-presidente da Federação Internacional de Xadrez e um dos ex-conselheiros de Dmitry Medvedev, apodado de “traidor nacional” por vários deputados na câmara baixa do Parlamento por posições antiguerra, estaria a ser alvo de um processo-crime, de forma a colaborar com o regime e “a testemunhar contra colegas e amigos”.

As informações carecem de confirmação, o ódio recíproco, não. É antigo. “Fui dos primeiros sacos de pancada”, disse, referindo-se ao autocrata. Acusa o presidente russo de “prender e matar amigos”. De lhe ter roubado “negócios e casas perdidas em Moscovo”. De o ter por isso obrigado a fugir para Israel, onde vive há 20 anos. “Há muito tempo que tento não associar os bandidos no poder à generalidade da população russa, mas era impossível não assistir que, ano após anos, a Rússia se foi degenerando ao seguir o seu ‘líder’.”

O que na verdade o levou a sair da Rússia foi uma acusação de fraude fiscal, peculato e fraude, que lhe custaria em 2008 uma sentença de prisão perpétua, julgado in absentia nos tribunais russos. O oligarca, ligado ao petróleo desde a década de 90, negaria as acusações. Afirmar-se-ia alvo e de perseguição política e apelaria, com outros magnatas envolvidos no processo, ao Tribunal Permanente de Arbitragem com sede em Haia. Nove anos depois, chegaria o desfecho favorável aos milionários, que obrigaria a Rússia a pagar 50 mil milhões de dólares de indemnização, num megaprocesso ainda por encerrar. Longe vai o tempo em que o filho de bielorrussos recebeu a Ordem da Amizade, uma das maiores honrarias da Federação Russa, das mãos de Boris Yeltsin, que o tinha em alta consideração.

Nevzlin formou-se no Instituto Gubkin de Petróleo e Gás em 1981, especializando-se em computadores. Posteriormente, graduou-se em Gestão e Marketing. 1987 é um ano-chave: nomeado gerente do departamento de contratos do Centro de Criatividade Científica e Técnica para a Juventude, aí conheceu Mikhail Khodorkovsky, que se tornaria o homem mais rico da Rússia e parceiro de negócios multimilionários. De 1989 a 91, Nevzlin presidiu ao Banco de Investimento Comercial para o Progresso Científico e Técnico, porta escancarada para a energia e o petróleo, que o tornariam em poucos anos um dos parceiros da oligarquia russa.

Considerado, uma década depois, um dos 50 empresários mais influentes da Rússia, desenvolvia grande atividade na vida comunitária judaica. Em 2000, tornou-se presidente do conselho coordenador do Congresso de Comunidades e Organizações Religiosas Judaicas. Em 2001, foi nomeado presidente interino do Congresso Judaico Russo. Quando, em 2003, tomou a decisão de abandonar o país, era também reitor da Universidade Estatal Russa para as Humanidades e constava na lista das cem pessoas mais ricas do Mundo, segundo a “Forbes”, com um património líquido estimado em dois bilhões de dólares.

Chegado a Israel, funda o Centro Leonid Nevzlin para o Estudo do Judaísmo Russo e Oriental Europeu na Universidade Hebraica de Jerusalém e investe na comunicação social, tornando-se coproprietário e membro do conselho da Haaretz, uma das editoras liberais de jornais de Israel. Em 2014, fundou a revista mensal hebraica “Liberal” e criou a Fundação NADAV, que apoia projetos em estudos e educação judaicas.

Nevzlin tem cinco filhos, resultado de três casamentos.

Leonid Borisovich Nevzlin
Cargo:
empresário
Nascimento: 21/09/1959 (62 anos)
Nacionalidade: Israelita