Investigação no CERN levou açoriano até à Suíça

João Melo é investigador

João Melo dedica-se ao design de circuitos integrados para a deteção de partículas no Centro Europeu para a Investigação Nuclear. Os planos incluem o regresso ao mundo empresarial e a Portugal.

Até se tornar um dos cerca de dez mil cientistas que trabalham no CERN, o Centro Europeu para a Investigação Nuclear localizado na fronteira franco-suíça, o investigador João Melo teve de deixar a zona de conforto nos Açores e batalhar muito.

O agora investigador de circuitos integrados para a deteção de partículas nasceu na ilha do Pico e começou a trabalhar cedo, para ajudar a família a suportar as despesas. Mais tarde rumou à capital, onde ingressou na Universidade Nova de Lisboa até fazer o doutoramento na área de Engenharia Eletrotécnica.

Seguiu-se o mundo empresarial, tendo passado quatro anos e meio numa empresa internacional dedicada a semicondutores. Entretanto, a vontade de ter uma experiência profissional fora de Portugal foi crescendo e, no início de 2020, pouco antes de a pandemia atingir a Europa em força, candidatou-se ao CERN. Foi aceite e passou a integrar o grupo de microeletrónica desta organização, dedicando-se ao projeto de detetores de partículas tolerantes à radiação e circuitos integrados de leitura para equipamentos de física de alta energia.

João Melo afiança que até gostava de trabalhar na indústria e faz planos para regressar. Na altura em que deixou o país, conta, tinha um “excelente cargo, a fazer o que queria em termos de investigação”. “Na indústria os grupos de investigação são muito pequenos e eu fazia parte de um deles, o que era bastante bom”, explica o investigador.

Mas a ambição de continuar a crescer e ter novas experiências levou-o a abraçar o “desafio de viver noutro país e trabalhar no CERN”. O trabalho naquele que é tido como o maior laboratório de física de partículas do Mundo “é diferente, permite alargar horizontes em termos de conhecimento e de novas tecnologias”, sustenta.

Atualmente, João Melo concentra-se no “design de circuitos integrados para a deteção de partículas”, partilha, sublinhando que estes circuitos têm a especificidade de terem de ser “resistentes à radiação”. Por estes dias a tarefa é ajudar a desenvolver, pela primeira vez, um “chip do tamanho de uma ‘Wafer’, com uma curvatura perfeita e que não tenha zonas mortas, para detetar todas as partículas”.

Pode parecer que aquilo a que João Melo se dedica está muito longe do dia a dia da maioria da população, mas as aplicações podem ir desde o setor aeroespacial até à área da saúde. É graças à tecnologia desenvolvida no CERN, por exemplo, que é possível haver já um equipamento de raio-X em 3D a cores a ser testado no centro hospitalar de Lausanne, na Suíça.

A experiência no CERN está a ser enriquecedora, mas o futuro do investigador, hoje com 42 anos, poderá passar pelo “regresso à indústria”, revela. Numa primeira fase até continuará na Suíça, mas a intenção é um dia “regressar a Portugal “e ter a própria empresa de consultoria na área dos circuitos.

João Melo
Localização:
Meyrin, Suíça 46°14’03.84º N 6°02’45.38º E (GMT +2)
Cargo: investigador
Idade: 42 anos