Inna Ohnivets: patriota e pragmática

Inna Ohnivets é embaixadora da Ucrânia em Portugal

Não é de grandes discursos ou verbo fácil. Tem sido o elo de ligação da comunidade ucraniana em Portugal. No dia da invasão de Putin, a embaixadora tinha os filhos em Kiev. Em Kyiv - a diplomata fala sempre na língua-mãe. “Temos todos a certeza de que não está tudo perdido”, dizem amigos.

“Corta a direito, nunca brinca em serviço”, frisa Pavlo Sodokha. Pavlo é o presidente da Associação de Ucranianos em Portugal. No momento em que fala connosco encontra-se a atravessar a França, a caminho do nosso país, com os pais, que foi resgatar a Lviv, cidade ucraniana de 800 mil habitantes, perto da fronteira com a Polónia. “Agora estão a salvo”, confessa, depois de um longo momento de hesitação. “Pode repetir o nome? Desculpe, mas todo o cuidado é pouco e os russos sabem que sou um ativista.”

Da embaixadora da Ucrânia em Portugal começara por salientar o pragmatismo, a determinação. E a exigência – em relação a ela e aos que a rodeiam. “Por isso digo: Inna Ohnivets corta a direito e nunca brinca em serviço.”

A diplomata tem sido “elo de ligação e fator de unidade” na comunidade ucraniana em Portugal, papel nem sempre fácil. “E não é só em Portugal. Há ucranianos, os mais velhos, que ainda dizem que nasceram na URSS, compatriotas que não têm uma identidade nacional tão bem definida.” A todos “a embaixadora tem unido, defendendo a construção da Ucrânia, valorizando a História e os valores do país e da nação”. E tem-no feito “de forma responsável e extremamente profissional, no respeito por todos”.

“Respeito” sente também Abraão Veloso, presidente da Associação Ucrânia/Portugal/Europa, de Braga. “A embaixadora tem acompanhado, muitas vezes com a própria presença, todas as atividades, e têm sido muitas, que realizamos há anos.” Região com uma comunidade “relevante”, a embaixada tem “uma relação privilegiada” com a Câmara de Braga, edilidade geminada de Ivano-Frankivsk, cidade histórica localizada no oeste da Ucrânia. “Não sendo de grandes discursos ou verbo fácil, Inna Ohnivets é uma mulher direta e muito determinada”, diz o engenheiro agrónomo. Que reconhece ainda à embaixadora “muita eficácia na representação do estado ucraniano em Portugal”.

Vasyl Bundzyak, da Igreja Ortodoxa do Patriarcado de Kiev, releva “a simpatia, a competência e o patriotismo” da compatriota. O sentido de justiça, também, já que divergências entre ambos não impediram o reconhecimento institucional da embaixada ao contributo de Vasyl na concretização, em Lisboa, do monumento a Taras Shevtchenko, humanista e fundador da literatura moderna, atribuindo uma condecoração ao padre ortodoxo.

Nascida em 1962, em Zhovti Vody, cidade da região da Ucrânia central de Dnipropetrovsk, a diplomata e jurista foi aluna da Universidade de Kiev que ostenta precisamente o nome do poeta. De acordo com a informação disponível, iniciou o percurso profissional em 1983, como auxiliar da cátedra das línguas estrangeiras do Colégio Militar de Ensino Superior da capital. Dez anos depois, em 1993, assumia as funções de adida e conselheira da secção dos assuntos estatais e jurídicos do Departamento Jurídico e dos Acordos, no Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia. Entre 2006 e 2010, foi embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da Ucrânia na República Eslovaca. Em 2015, aos 53 anos, foi colocada em Portugal.

“Tem ajudado muito”, elogia Pavlo Sodokha. Falam todos os dias. No dia da invasão de Putin, Inna tinha os filhos em Kiev. Em Kyiv, chama-lhe Pavlo, que tal como Inna fala sempre na língua-mãe. Respeita a intimidade da embaixadora e por isso não faz perguntas. Não sabe se já estão a salvo. “Não falamos de emoções, apenas das tarefas e do trabalho que há a fazer. Não podemos comover-nos porque não há tempo a perder.” Porém, garante: “A situação é muito perigosa e injusta, mas, seja qual for, vamos vencer”. Sabe que Ohnivets partilha essa certeza. “Temos todos a certeza de que não está tudo perdido.”

Nos últimos dias, Ohnivets falou aos jornalistas de Felicidade, uma cidade de Lugansk que não caíra nas mãos de Putin. Dos russos. “Na região de Lugansk há uma cidade com o nome simbólico, que os russos queriam capturar, mas que não conseguiram. As nossas Forças Armadas recuperaram-na”. De aí até agora, desconhece-se o destino de Felicidade.

Inna Ohnivets
Cargo:
embaixadora da Ucrânia em Portugal
Nascimento: 30/08/1962 (59 anos)
Nacionalidade: Ucraniana