Injetar vitaminas no rosto? Sim e não é só para rejuvenescer

A técnica é procurada sobretudo por mulheres a partir dos 35 anos, embora o interesse esteja a aumentar nas mais jovens

A injeção na pele de substâncias é uma tendência com muita procura em Portugal. Por ser um procedimento menos invasivo do que as cirurgias plásticas. Para reafirmar, mas também para tratar estrias ou olheiras escuras. Os riscos e os benefícios da mesoterapia.

Injetar substâncias, que vão desde vitaminas a ácido hialurónico, no rosto é uma tendência que já conta muitos anos, mas de que pouco se ouve falar. Eliminar rugas superficiais, ganhar elasticidade e brilho na pele é quase sempre o objetivo de quem procura esta técnica para travar os sinais da idade e, ao mesmo tempo, fugir a procedimentos mais invasivos. Ainda assim, a mesoterapia – assim se chama – na medicina estética é usada com muitos outros propósitos.

“Se a pele precisa de antioxidantes, por que não injetar diretamente? Acaba por funcionar como se fosse um creme, mas de forma mais profunda”, resume Sofia Santareno, cirurgiã plástica e diretora clínica na The Dr. Pure Clinic. Através de uma injeção diretamente na derme, pode ser administrado um cocktail de substâncias feito à medida de cada pessoa e que inclui muito mais do que vitaminas. Da C às vitaminas do complexo B, derivados da vitamina A, mas também ácido hialurónico, aminoácidos, minerais, despigmentantes.

Mas comecemos pelo princípio: as vitaminas são mesmo importantes para a beleza da pele? “Sim, as vitaminas de maneira geral têm impacto em termos de consistência, firmeza, pigmentação. São imprescindíveis para muitos dos mecanismos que acontecem na pele. Para que tenha uma regeneração adequada, uma textura mais sedosa, há vários fenómenos metabólicos dentro da célula que precisam de vitaminas para acontecer”, explica Liliana Reis, também cirurgiã plástica, que, mesmo assim, é cética em relação à mesoterapia. “Em teoria, injetar vitamina C ou ácido hialurónico faz sentido para melhorar a textura da pele, mas não há grande evidência científica.”

Os suplementos vitamínicos, tomados por via oral, que sempre geraram dúvidas entre a comunidade médica, por se acreditar que o corpo consegue todas as vitaminas necessárias através da alimentação, até podiam ser uma alternativa à injeção. Mas Flávia Barsali, médica de medicina estética que faz mesoterapia na Clínica Milénio, tem dúvidas. “A vantagem desta técnica é precisamente colocar o princípio ativo onde queremos que atue. Quando se faz por comprimido, vamos ter um efeito sistémico. E é preciso haver uma série de fatores para que as vitaminas sejam metabolizadas de forma correta. Por isso é que fazer injeções é mais eficaz.”

Picadas e várias sessões

Afinal, que técnica é esta? E é mesmo uma boa solução para contrariar os efeitos do tempo? A mesoterapia consiste na injeção, através de várias picadas, de uma determinada substância, seja ela qual for, na pele. É essencialmente usada no rosto, pescoço, decote e mãos. “São usadas agulhas micro para entregar na derme antioxidantes, que podem ser preparados de laboratório ou podemos nós fazê-los”, pormenoriza Sofia Santareno. No primeiro caso, são cocktails que têm ácido hialurónico, antioxidantes, “para quem tem a pele cansada, baça, manchas”. “E depois existe, a meu ver, o melhor dos cocktails, que é o plasma rico em plaquetas, feito por nós na clínica.” Significa que é extraído sangue à pessoa, esse sangue é centrifugado e aproveita-se a parte do plasma mais rico em fatores de crescimento, a que se pode juntar outros constituintes adaptados às necessidades de cada pessoa, para depois voltar a injetar na pele. Era o que se chamava, antigamente, de terapia do vampiro.

Segundo Luís Uva, dermatologista especialista na área da estética e fundador da clínica Personal Derma, “é certo que se injetam vitaminas, mas é muito mais do que isso, o próprio efeito da agulha a romper a pele obriga-a a regenerar-se e só por aí já tem resultados”. É usada anestesia tópica e cada sessão demora cerca de meia hora. Em média, são necessárias entre cinco a seis sessões, que podem distar 15 dias ou mais. Os preços variam entre os 180 aos 250 euros por sessão.

A técnica é procurada sobretudo por mulheres a partir dos 35 anos, embora o interesse esteja a aumentar nas mais jovens. Mas quais são os resultados? “Depende do que é aplicado, de cada caso. Pode melhorar muita coisa: a vermelhidão, é bom para a pele desidratada e danificada, para rugas superficiais, para minimizar imperfeições, para ajudar a fechar poros dilatados”, detalha Luís Uva, adiantando que também é muito usada para problemas capilares, no couro cabeludo, “para quem tem pouco cabelo”, nomeadamente juntando hormonas ao cocktail. Sofia Santareno subscreve e ainda acrescenta que “tem efeitos muito bons em olheiras escuras” ou “em estrias”. “No rosto, trata-se sobretudo de ficar com a pele mais brilhante, com menos manchas, com ar mais elástico.”

Para a cirurgiã plástica, a mesoterapia é, essencialmente, “para quem quer melhorar o aspeto da pele e não quer recorrer a um peeling ou à toxina botulínica (botox)”. “A mesoterapia é muito antiga, mas a procura tem vindo a aumentar exponencialmente. Porque as pessoas têm cada vez mais cuidados, só que ainda há muito preconceito e medo de outros procedimentos e, neste caso, convencem-se de que são só umas vitaminas.” Flávia Barsali concorda, “muita gente pede esta técnica porque passa a ideia de que é mais natural”.

Há riscos, mas são raros

No que toca a perigos, Luís Uva é perentório: “Há sempre riscos. E são explicados ao doente. O principal é de infeção, mas é raríssimo, porque temos todos os cuidados de desinfeção e esterilização. Também pode acontecer a pele ficar irritada. Tem que se fazer uma boa história clínica, perceber alergias, os fármacos que se está a tomar, se tem uma pele reativa, tudo isso é fundamental”.

Sofia Santareno sublinha ainda uma possível reação alérgica, como a qualquer fármaco, e alerta que “o procedimento não pode ser feito por qualquer pessoa, mas sim por médicos, desde que estejam preparados para tal”. Este tipo de técnicas surge cada vez mais em estabelecimentos “como esteticistas e cabeleireiros, porque há um vazio legal”. “E apesar de parecer muito superficial, a derme de todos os órgãos é o que mais reage”, avisa a cirurgiã plástica.

Apesar dos bons resultados da mesoterapia, para os manter, é preciso repetir o procedimento ao fim de meses ou de um ano. E, curiosamente, não é a técnica eleita dos profissionais da área. “Porque é algo superficial. Tenho um serviço personalizado para cada doente e o ideal é sempre combinar terapêuticas”, refere Luís Uva. Sofia Santareno defende o mesmo. “Prefiro que as pessoas façam um botox, por exemplo, do que andarem para trás e para a frente a gastar dinheiro em mesoterapias. É um bom tratamento para quem quer um resultado interessante e imediato. A pele fica linda, dá brilho, hidrata, mas não repõe volume, não consegue apagar uma ruga. Melhora mas não apaga.”