Inês Laíns, a oftalmologista que investiga e ganha prémios

Inês Lains é oftalmologista

Inês Laíns estuda a degenerescência macular relacionada com a idade num projeto pioneiro. Está no Massachusetts Eye and Ear, em Boston e já faz parte de uma promissora lista que inclui os melhores da sua área.

Oftalmologia não foi uma decisão óbvia, no início. “Houve uma altura em que até achei que queria ser psiquiatra, talvez porque a minha mãe é psicóloga”, conta. Ainda andou apaixonada por ginecologia/obstetrícia, ponderou, surgiu outro amor. “Hoje tudo isto parece surreal, porque tenho uma paixão enorme por oftalmologia e não me imagino a fazer mais nada”, confessa.

Inês Laíns nasceu e viveu em Coimbra, estudou na Faculdade de Medicina da sua cidade, foi a melhor aluna do seu ano de curso. Internato, doutoramento, bolsa da Harvard Medical School Portugal, foi para os EUA. Era para ficar um ano, está em Boston há quase nove no Massachusetts Eye and Ear Hospital, o melhor do Mundo da área. Neste momento, faz treino adicional e específico (fellowship) em cirurgia de retina, os seus dias são passados a ver doentes e no bloco. A investigação é feita fora de horas.

Durante quatro anos desenvolveu o seu projeto de doutoramento em Boston, voltou a Coimbra para defender a tese, regressou aos Estados Unidos para continuar a investigar a degenerescência macular relacionada com a idade. “Em português chamamos DMI, é a principal causa de cegueira em pessoas com mais de 50 anos, é uma doença multifatorial que envolve tanto fatores genéticos como ambientais e, basicamente, o que tentamos fazer é identificar biomarcadores de progressão da doença”, adianta.

Pelo caminho, várias distinções. A mais recente, “40 under 40”, coloca-a na lista dos 40 oftalmologistas mais promissores dos Estados Unidos com menos de 40 anos. Tem mais no currículo. Um prémio da Sociedade Europeia de Retina, dois de melhor artigo científico publicado nos Estados Unidos, outro da Fundação de Cirurgia Vitreoretineana, em Boston.

Uma ideia inovadora, um projeto desenhado de raiz, bases sólidas que permitem tirar conclusões. São quase mil doentes, portugueses e americanos, num estudo prospetivo e longitudinal. Duas populações bem caracterizadas, dois ambientes distintos, atualizações ao longo do tempo, dados e informação de extrema qualidade, descrições detalhadas. Com recurso à técnica metabolómica que estuda pequenas partículas no sangue e na urina. “Essas partículas são poderosas porque se considera que são a via última da expressão dos genes e não só refletem os genes, mas também os fatores ambientais”, explica. “Acredito que mais investigação e tempo nos podem revelar alvos potenciais para tratamento.”

É um trabalho de equipa. “Só estou onde estou e tenho conseguido aquilo que consegui porque tenho muitas pessoas que trabalham comigo, que me apoiam, e que acreditam em mim há muitos anos, tanto em Portugal, como nos EUA.”

Gosta de Boston, rio no meio da cidade, jardins para passear, imensa oferta cultural, pessoas de todo o Mundo. A longo prazo, pensa voltar, é muito ligada à família, o seu coração é português. Falta saber quando e em que circunstâncias. “Voltando, gostava de continuar a fazer investigação de alto nível e conciliar a prática clínica com a investigação e isso, às vezes, é difícil em Portugal.” Em Boston, com muito trabalho e dedicação conquistou o seu espaço e o respeito dos pares. O que não é coisa pouca.

Inês Laíns
Localização:
Boston, EUA 42° 21’ 29’’ N 71° 03’ 49’’ O (GMT-5)
Cargo: Oftalmologista
Idade: 36 anos