Há vários tipos, infeciosas e não infeciosas, vírus diferentes, diversas causas e consequências. O Dia Mundial da Hepatite assinala-se esta quinta-feira, 28 de julho. Como surge esta doença? Quais os sintomas? Como prevenir?
As atenções concentram-se no fígado, esse órgão importante do sistema digestivo, que participa ativamente na digestão, produção e armazenamento de substâncias essenciais ao organismo, e que tem um papel de peso na desintoxicação. Quando não cumpre as suas funções, quando não funciona como devia, há problemas de saúde. Há situações graves e há situação crónicas.
“A hepatite ocorre quando existe uma inflamação do fígado. Esta patologia é frequentemente causada por infeções virais, mas podem existir outras causas como a hepatite autoimune ou a tóxica, secundária a medicamentos, drogas, toxinas ou álcool”, adianta Ana Miranda, médica internista. “No caso da hepatite autoimune, acontece quando existe uma falha no sistema imunitário e o organismo produz erradamente anticorpos contra o tecido hepático”, acrescenta.
Há cinco tipos de hepatites virais: A, B, C, D e E. Cada uma é provocada por um vírus diferentes. A hepatite A é sempre uma doença aguda a curto prazo, enquanto as B, C e D têm maior probabilidade de se tornarem contínuas e crónicas.
A hepatite A, causada pelo vírus da hepatite A (VHA), é uma doença comum e, de uma forma geral, surge na infância ou no jovem adulto. Segundo Ana Miranda, o vírus causador “é frequentemente transmitido pelo consumo de alimentos ou água contaminados por fezes de uma pessoa infetada por hepatite A.” Não evolui para doença crónica e a vacina está disponível, sendo particularmente recomendada a pessoas que viajem para países onde a doença é comum.
Em Portugal, a hepatite B afetará cerca de 1 a 1,5% da população. Apesar de grave, pode ser prevenida através da vacinação, com eficácia de 95%
A hepatite B é transmitida através do contacto com fluidos corporais infetados, como o sangue, secreções vaginais ou esperma, contendo o vírus da hepatite B (VHB). “O uso de drogas injetáveis, a relação sexual desprotegida com um parceiro infetado ou a partilha de lâminas ou objetos cortantes aumentam o risco de contrair hepatite B.” Ana Miranda deixa o alerta. “É talvez o tipo mais perigoso e grave, afetando milhões de pessoas em todo o mundo”, refere a internista nos serviços clínicos da Médis. A vacina é administrada em três doses e faz parte do Plano Nacional de Vacinação. É, portanto, gratuita.
A hepatite C passa através do contacto direto com fluidos corporais infetados, geralmente através do uso de drogas injetáveis e contacto sexual. Cerca de 75% dos doentes infetados evoluem para doença crónica, em 20% dos quais a infeção pode levar a cirrose e cancro de fígado. A D, também chamada de hepatite delta, é uma doença hepática grave contraída através do contacto direto com sangue infetado. “É uma forma rara de hepatite que ocorre apenas em conjunto com a infeção por hepatite B, uma vez que o vírus da hepatite D não se consegue multiplicar sem a presença do vírus da hepatite B. Embora não exista vacina para este tipo de doença, a vacina para a hepatite B também previne a infeção pelo vírus da hepatite D”, revela a especialista.
A hepatite E é uma doença transmitida pela água ou alimentos contaminados e geralmente não se torna crónica. “Pode ser particularmente grave se for contraída por mulheres grávidas.”
Há ainda as hepatites não infeciosas em que o álcool e outros produtos tóxicos têm bastante responsabilidade. “O consumo excessivo de álcool pode causar danos irreversíveis no fígado, resultando em hepatite alcoólica, por lesão direta das células hepáticas. Com o tempo podem surgir danos permanentes, levando a insuficiência hepática e cirrose.” A cirrose, que surge em 10 a 20% dos casos, é caracterizada pela substituição do tecido hepático normal em cicatrizes. “Como resultado, a estrutura do fígado fica alterada, não sendo capaz de realizar as suas funções habituais. O único tratamento eficaz é parar de consumo álcool”, avisa.
Fadiga, perda e de peso, peles e olhos amarelados, urina escura, fezes claras e dores abdominais são os sintomas mais comuns
Em alguns casos, há uma resposta, o corpo reage. “O sistema imunitário produz anticorpos que atacam as células do fígado. Esta inflamação contínua pode variar de leve a moderada, tendo na maioria das vezes repercussão na função hepática. É três vezes mais comum em mulheres do que em homens.”
Em muitos casos, a hepatite pode não ter manifestações sintomáticas e os sintomas podem não ocorrer até que os danos afetem a função hepática. Fadiga, perda de apetite, perda de peso, peles e olhos amarelados (icterícia), urina escura, fezes claras e dores abdominais são os sintomas mais comuns.
Como detetar? “O diagnóstico da hepatite é feito em conjugação com a história clínica, exame objetivo, resultados de exames laboratoriais e ecografia abdominal. Em alguns casos pode ainda ser necessária uma biopsia hepática.” A prevenção é sempre a melhor aposta. Ana Miranda dá alguns conselhos. Boa higiene, atenção e cuidado com alimentos crus e ingestão de água não potável. Não partilhar objetos cortantes. Ter relações sexuais seguras. Vacinação. Não consumir bebidas alcoólicas em excesso, nada de drogas, nem medicamentos sem prescrição médica e fora das doses recomendadas.
“Quando a prevenção não é possível, existem tratamentos que variam consoante o tipo de hepatite. Nos casos de doença aguda, o tratamento passa por privação do agente em causa, repouso e dieta. Nos casos de doença crónica, o tratamento é feito com recurso a medicamentos específicos que impedem a multiplicação do vírus”, explica.