Fernando Araújo: o executor

Fernando Araújo é presidente da Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde

A equipa vê nele, antes de mais, um médico. Um médico com conhecimentos de administração e de gestão. Um líder teimoso e “resistente a lóbis”.

A devoção que merece da equipa vai além da crença. Resulta da observação em momentos-limite, justifica a diretora clínica do Hospital de São João, no Porto. Maria João Baptista recorda duas adversidades “muito marcantes”. Em 2020, corriam os primeiros dias de pandemia covid-19, ainda sem certezas sobre a necessidade de uso de máscaras pelos profissionais: “Vimos um presidente do Conselho de Administração sem gravata, de mangas arregaçadas, em horas e horas de reuniões com os elementos do provisionamento, incapaz de arredar pé mas, em contrapartida, capaz de juntar numa sala todos os profissionais para discutir estratégias. Não escondia a angústia e a tensão, porém deixou claro que estava ali o responsável por todos, profissionais e doentes, fossem ou não vítimas da pandemia”. Lição repetida em dezembro de 2021, na resposta ao incêndio que consumiu uma enfermaria do hospital. “Mais uma vez, foi o primeiro a chegar, tomou a liderança, tentando disfarçar o terror que se vivia, por entre os escombros, com uma palavra de respeito aos profissionais, de conforto e segurança aos doentes assustados.”

O recém-nomeado CEO do Serviço Nacional de Saúde é “sempre o primeiro a chegar”. Como presidente do Conselho de Administração do São João nunca deixou de fazer diariamente o registo de assiduidade. “De cumprimentar todos aqueles com quem se cruzava nos corredores.” De tomar no gabinete o primeiro dos muitos cafés diários – “quatro ou cinco, só numa manhã”, diz Maria João -, enquanto abria o computador. “Responde a todos os emails e SMS. Não deixa ninguém sem resposta”, diz a diretora clínica. O homem voltado para o high-tech tem na secretária folhas de papel onde anota assuntos pendentes, de modo a não ficarem esquecidos. A equipa vê nele, antes de mais, um médico. Um médico com conhecimentos de administração e de gestão. “Um líder, de princípios éticos e morais inabaláveis e muita competência, de tal maneira que acreditamos, quando nos indica um caminho.”

Inabalável e pouco permeável a pressões, garantem. A título de exemplo, citam o lóbi da indústria alimentar. “Quando se discutia com a indústria alimentar a redução de açúcar na alimentação das escolas, pedi-lhe que fosse um pouco mais consensual”, conta Adalberto Campos Fernandes. Sem sucesso.

O ministro da Saúde de 2015 a 2018 fez questão de entregar a secretaria de Estado a Fernando Araújo, “primeiríssima escolha”. Em Lisboa, o portuense dedicava 100% do tempo ao ministério. “Sentia-se fora do ambiente. Sendo muito reservado mais sentia a distância e sempre que podia pedia escusa de comparecer a cerimónias públicas. Mas essa reserva não o impedia nem impede de expor pontos de vista muito fortes, de contrapor com firmeza ou de dar um murro na mesa.” Reconhece no amigo a teimosia. A importância dada às fases de planeamento e organização. Atribuindo a Manuel Pizarro “mais habilitações políticas”, Adalberto Campos Fernandes não hesita: “Dava um excelente ministro”. O que distingue o CEO do SNS? “Não é um boy, não tem ambição de estrelato”, diz Campos Fernandes.

“Sabe ouvir, aproveitar sugestões, dá autonomia aos colaboradores, mas é muito exigente”, garante Pimenta Marinho. Trabalharam juntos na Administração Regional de Saúde do Norte. “É alguém de quem é fácil ser amigo, ainda mais no meu caso, que partilhamos o gosto pelo Benfica”, diz, a sorrir. Os elogios chegam também dos mais críticos do sistema. “É leal, transparente e franco, diz Ana Rita Cavaco”. A bastonária da Ordem dos Enfermeiros tem as suas razões. Nas funções de secretário de Estado, Fernando Araújo recusou abrir uma sindicância àquela Ordem, a pedido de Marta Temido.

O gestor Fernando Araújo detesta desperdício. O médico (especialista de Imuno-hemoterapia) dispensa o sal. Prefere os doces: “O pão de ló da D. Clotilde, aqui do hospital, é uma tentação a que não resiste”. África marcou-o. “Fala de África e os olhos brilham”, diz Maria João Baptista. Filho de um eletricista, com a mãe e o irmão António, também médico, acompanhou o pai ao longo de um ano, em Angola. A família chegou a Luanda precisamente no dia 25 de abril de 1974. Tinha oito anos. Desses meses recorda “a liberdade a céu aberto”. Não gosta de desarrumação, de salas exíguas, de luz mortiça. Tal como espaços, incomodam-no ideias atravancadas. “Sabe muito bem o que quer, sabe o que o espera”, diz a diretora clínica. “Muito perspicaz e lúcido em relação à realidade, sabe exatamente ao que vai.”

Fernando Manuel Ferreira Araújo
Cargo:
presidente da Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde
Nascimento: 10/07/1966 (56 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Porto)