Fernanda de Almeida Pinheiro: a sindicalista

Fernanda de Almeida Pinheiro é bastonária da Ordem dos Advogados

Não esconde a natureza reivindicativa. Promete lutar pelos direitos laborais dos advogados e pela revisão da tabela remuneratória. Fez a primeira defesa aos dez anos. Gosta de orquídeas, de limonada e de chocolate.

A advocacia sonante e mediática desconhece-lhe o nome – “Não faço ideia”, “nunca tinha ouvido falar”, “conhecimento inexistente no meio”. Dificilmente continuará a ser assim. A nova bastonária da Ordem dos Advogados, eleita com 10 539 votos (59,26%) contra 7245 (20,41%) de Paulo Pimenta, quer “fazer história”. Acusada por alguns pares de pretender “transformar profissionais liberais em funcionários”, Fernanda de Almeida Pinheiro promete manter a luta que a levou à vitória: pela transformação da Caixa de Previdência, pelos direitos sociais e laborais dos advogados, pela revisão da tabela remuneratória. “É urgente trazer a advocacia para o século XXI e garantir a todos os advogados os direitos constitucionais e humanos que lhes assistem e são seus por direito.”

Não esconde a natureza reivindicativa. “Como é possível que colegas que trabalham em sociedades não tenham qualquer direito laboral? Como é possível que uma advogada grávida ou acabada de ser mãe não consiga adiar uma diligência?” Fernanda Almeida Pinheiro está inscrita na Ordem dos Advogados desde 2002. É advogada em prática individual na Comarca de Lisboa desde junho de 2008 e garante: “A advocacia não é feita de elites”.

Nasceu nas Caldas da Rainha em 1969. “A minha mãe era cozinheira. Tirou a quarta classe em adulta, e o meu pai, mecânico de automóveis, tinha o equivalente ao 8.º ano de escolaridade.” Foi a segunda da família a licenciar-se. “Terminei o 12.º ano com média de 15 valores, mas tive de adiar a faculdade porque os meus pais não tinham possibilidades. Fui trabalhar.” Primeiro, como telefonista-rececionista da estalagem-convento Óbidos. Depois, como secretária de administração de uma empresa da área hospitalar e agropecuária, emprego que foi obrigada a abandonar quando decidiu que estava na hora de continuar a estudar. Tinha 25 anos.

Com dez fez a primeira defesa. “No jardim-escola, a minha irmã foi excluída de uma peça de teatro e ficou muito triste. Fui falar com a educadora. Foi de tal maneira que os meus pais foram chamados, e eu levei uma valente reprimenda da minha mãe.” Orlanda Pinheiro, mais nova seis anos, é também advogada. Diz da irmã: “Extremamente despistada, nunca sabe onde tem o carro. É também muito teimosa, e quando em estado de exaltação é melhor não falar com ela. Leva tudo à frente”. Avisa: “Não lhe mintam”. Fernanda concorda. “Falo muito alto, entusiasmo-me e posso parecer mais agressiva do que sou”. E quando alguém teima em não entender o óbvio perde a paciência. “Jesus Maria José é uma exclamação que usa muito nessas alturas”, revela Orlanda. “Assertiva e corajosa.” Lara Roque Figueiredo, vice-presidente do Conselho Geral da Ordem, continua: “É muito combativa e muito prática. É uma mulher de ação. Há uma frase que repete muitas vezes – ‘a minha faquinha corta sempre a direito’”.

Do Direito à poesia. “A paixão é de todas as cores. / É a tinta da vida. / Um arco-íris de todas as cores. / Que ilumina cada passada / E que nos afasta as dores.”, são versos de um poema da antologia “Que cor tem a paixão?” (Artes e Letras). “Escrever e o mar fazem-me bem à alma.” Aprendeu a ler com as bibliotecas itinerantes. “Gosto de Jorge Amado, Gabriel García Márquez e não temo dizer que gostei muito de ‘A filha do capitão’, de José Rodrigues dos Santos.”

As janelas de casa “estão sempre floridas”. Gosta de orquídeas, de limonada e de chocolate. Os lenços que usa quase sempre foram tema de campanha. “Como se fosse candidata a um programa de moda.” Recusa-se a ver telejornais, decisão tomada durante a pandemia e que mantém. Teme que as séries de advogados “romantizem demasiado a advocacia e induzam os jovens em erro”. Sem filhos, faz voluntariado na Acreditar, contando histórias a crianças do IPO, e na comunidade Vida e Paz. Chorou na praça de São Pedro, em Roma, ouvindo Francisco. “Sou católica, não praticante, mas com muita fé em Deus.”

Acorda às seis e meia da manhã para ver nascer o sol. Pratica pilates. Gosta de caminhar, “em frente”.

Maria Fernanda de Almeida Pinheiro
Cargo:
bastonária da Ordem dos Advogados
Nascimento:
24/10/1969 (53 anos)
Nacionalidade:
Portuguesa (Caldas da Rainha)