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Ema Paulino: otimista insatisfeita

Fotos: Ilustração: Notícias Magazine

Ema Paulino é presidente da Associação Nacional de Farmácias

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Neta, filha, irmã, mulher e tia de farmacêuticos, “era a mais inteligente da escola e uma das mais atléticas”, dizem os amigos. Vive com 11 gatos e dois papagaios. É teimosa e nunca desiste.

Nasceu em Lisboa, na Maternidade Alfredo da Costa, mas é de Almada que se sente. Cresceu na margem sul do Tejo, no centro da cidade, mais velha de três irmãos em convivência diária com três gerações, ligadas pelo sangue e pelo modo de vida. Ema é neta, filha e irmã de farmacêuticos. Mulher de farmacêutico. Tia de futuro farmacêutico.

A farmácia foi desde sempre a segunda casa. “A neta do Cipriano”, assim era conhecida na Almada dos anos 1990, cedo percebeu o papel central que o negócio representava na comunidade. Quantas vezes, fora de horas, alguém precisava da receita aviada. “Os meus avós nunca deixaram ninguém sem medicamento. Mesmo aqueles que não podiam pagar na hora.”

O associativismo marcou-a de igual forma. Na escola secundaria, “em lista apartidária” – hoje define-se de centro-direita -, foi eleita para a associação de estudantes. “Era muito popular e extrovertida”, diz Paula Veiga, amiga desde a infância. A própria confirma: “Sinto-me bem em massas. Em grupos”. Foi aluna “exemplar”, sobretudo a Matemática e a Química. “A Ema era a miúda mais inteligente da escola e uma das mais atléticas”, diz a especialista em Design e Comunicação, referindo ainda vitórias em corta-mato e no voleibol.

Quando, em 2020, se candidatou à presidência da Associação Nacional de Farmácias, levando consigo, para a mesa da assembleia geral, João Cordeiro, ex-presidente da associação e nome que divide a classe, não era a favorita. Mas ganhou. “A Ema chega a tudo o que se propõe”, define a amiga. Porque “é cheia de vontade, de tenacidade, de energia”. Nuno Vasco Lopes encabeçou a lista adversária. “Não vou comentar. Quero reserva”, disse quando contactado pela NM.

Apesar do cargo que ocupa, Ema Paulino continua a exercer farmácia comunitária. “Passa dias a fazer testes covid”, revela a amiga Paula. Em tempos de pandemia, “a maior dificuldade tem sido explicar por que razão as recomendações podem ter de mudar todos os dias”, nota a própria. Que diz sobre o futuro das farmácias: “Quero que sejam cada vez mais abertas à comunidade e mais integradas e complementares de outras instituições de saúde, médicos por exemplo, de forma a melhorar a resposta e o acompanhamento das pessoas”.

Está sempre disponível. “O dia da Ema começa com ela a ver e a responder às mensagens do telemóvel. E fecha da mesma maneira”, confidencia Pedro Pires, o marido. Que ressalta ainda “a capacidade de trabalho e de organização” da mulher. Ema não recorre ao verbo desistir. “As pessoas dizem-me irritantemente otimista. Eu acho-me uma otimista insatisfeita.” Que perdoa tudo. “Dou segunda, terceira, quarta oportunidade, porque acredito na bondade intrínseca das pessoas.”

A música é presença diária. Toca piano e pertenceu, em criança, ao coro do colégio. Mas o que a move mesmo são concertos e festivais. “Do Coachella a Paredes de Coura ou ao Sudoeste, vamos a todo o lado. Sendo a minha amiga com a agenda mais preenchida, é aquela que nunca diz não”, conta Paula Veiga, fã, tal como Ema, dos americanos Faith No More.

Fluente em alemão, francês, inglês, castelhano e percebendo bem holandês – viveu nos Países Baixos enquanto foi secretária-geral da Associação Europeia de Estudantes de Farmácia -, gosta de ler ficção na língua original.

Sem oito horas de sono por dia – que podem chegar às 11, nos fins de semana -, e sem as aulas de body balance e power jumping das manhãs de domingo, funciona mal. Em casa, na Aroeira, convive com “uns onze” gatos Bosque da Noruega e dois papagaios.

Casados há 20 anos, Pedro Pires não se lembra de ver a mulher alterada ou furiosa. “Nunca lhe ouvi um grito. Se fosse uma figura geométrica, seria uma esfera. Não tem arestas.” Explica: “Não por estar sempre de bem com tudo e com todos. Mas devido ao equilíbrio emocional”. Atribui o traço forte à estreita convivência infantil. “Naquela casa chegaram a coabitar quatro gerações. Idades muito diferentes e pessoas muito diferentes. Esse facto deu-lhe um enorme equilíbrio.” Um equilíbrio que lhe permite dizer que a rapariga que conheceu na faculdade é a mesma de hoje. “A Ema é sempre a Ema.”

Ema Isabel Gouveia Paulino
Cargo:
presidente da Associação Nacional de Farmácias
Nascimento: 18/02/1976 (45 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)