Duarte Cordeiro: não é um, é “O”

Duarte Cordeiro foi diretor de campanha do PS nas eleições legislativas de 2022

O diretor de campanha do PS nas legislativas jamais esquecerá o fim de semana das eleições. No sábado, viu o seu Sporting derrotar o Benfica na final da Taça da Liga. No domingo, os socialistas conquistaram a maioria absoluta e António Costa destacou-o na hora da vitória.

Por onde passa, deixa marca. “Grande capacidade de leitura política e de relacionamento pessoal, extraordinário jogador de campo, leal, frontal, empenhado, muito empático”, elogio de Fernando Medina, forjado nos anos em que Duarte Cordeiro foi vice-presidente da Câmara de Lisboa. “Gosto muito dele, como pessoa e quadro político”, diz Manuel Alegre. “Muito rápido a apreender, a intervir. Pessoa fina, muito contida e sensata”, acrescenta o ex-candidato à presidência da República, numa alusão ao seu jovem diretor de campanha (2011), lembrando o “trabalho notável conseguido com poucos meios”.

Na noite de domingo, em celebração de uma maioria absoluta, António Costa prestou tributo público. “Não levem a mal, mas de todos os militantes do PS, há um a quem quero agradecer de forma muito especial.” É sabido que o primeiro-ministro, bem diz Manuel Alegre, “não faz elogios por dá cá aquela palha”. Para o histórico socialista, “Duarte é um dos políticos mais sabedores. Por conhecer os problemas, por reagir aos problemas e pela capacidade de estar atento aos novos problemas”. Duarte Cordeiro, “generoso e de uma versatilidade muito rara em política” – palavras de Mariana Vieira da Silva -, aprendeu a antecipar. “Em campanha, à quinta já estou a pensar no domingo. Por isso, no próprio dia, estava tão calmo”, revela o próprio.

Tem o futuro na mão, dizem no PS. “No partido e no país, terá o peso que quiser”, afirma Alegre. Fernando Medina concorda, mesmo estando em causa a sucessão de António Costa. “Só depende dele. Não demonstrou ainda essa vontade, nem o faria, uma vez que é um trabalhador de equipa, mas só depende dele.” Manuel Alegre, que reconhece em Duarte Cordeiro “a vontade de fazer e de realizar”, releva a “falta de ambição política” numa futura luta pela liderança do partido. “Ao contrário de outros”, adiciona.

“Não tenho de ser igual aos outros, o que não quer dizer falta de ambição. Relativamente a aspiração individual, vamos ver com o tempo e com a vida”, diz Duarte Cordeiro, discreto, em contraste com Pedro Nuno Santos. Sucedeu ao amigo na liderança da Juventude Socialista e, anos depois, na Secretaria de Estado dos Assuntos Parlamentares. Mas, garantem no partido, tem pegada própria. “O Duarte não é um seguidista, tem autonomia, de resto, a pessoa a quem mais está ligado é a António Costa”, assinala Manuel Alegre. “E, penso, a mim. Tenho nele grande confiança e gostei muito que tivesse dado o meu nome ao seu segundo filho.”

Pai de dois rapazes, 42 anos, economista. Estudou no ISEG, aí teve início a sua intervenção política. Aí conheceu Pedro Nuno Santos, amizade cimentada que se mantém. José Gusmão assistiu ao encontro. “Pertencemos à mesma associação de estudantes. O Duarte, muito trabalhador, aguentava grande parte do trabalho da associação”, recorda o militante do Bloco de Esquerda. Finais dos anos 1990: “Estávamos muito consumidos pelo trabalho associativo, e em debates ideológicos. Várias vezes falámos da possibilidade de um dia trabalharmos juntos, possibilidade verificada com a criação da geringonça”. Os amigos chamavam-lhe “o católico de esquerda”. Filho de dois gestores, crente praticante, fez o Ensino Primário e o Secundário nos Salesianos. Teve como primeiro trabalho a secção de vendas de uma multinacional de marcas de higiene, a Reckitt Benckiser – “Percebo muito de ambientadores e amaciadores”, brinca -, mas a política “falou mais alto”. Foi eleito deputado nas legislativas de 2009 e de 2011, respetivamente pelos círculos de Lisboa e de Setúbal, é conotado com a ala esquerda do PS, pertence ao “núcleo duro” político de António Costa, tendo sido muito ativo nas primárias de setembro de 2014 que afastaram António José Seguro.

Gosta de levar os filhos à escola. De correr com os amigos. De levar a cabo aquilo a que se propõe. “É de uma enorme tenacidade”, define Pedro Delgado Alves, deputado socialista e amigo pessoal. Fala horas e horas ao telefone. Não se separa do bloco de notas. Descreve-se com dificuldade: “Que posso dizer? Sou pessoa disponível para os outros e confiável. Um rapaz que consegue introduzir alguma mobilização”. Sabe que a excelência se atinge também erro a erro. Aprendendo.

O último fim de semana, perfeito, não será esquecido. Sábado, viu o seu Sporting derrotar o Benfica na final da Taça da Liga. O dia seguinte ficará para a história do partido.

José Duarte Piteira Rica Silveira Cordeiro
Cargo:
diretor de campanha do PS nas eleições legislativas de 2022
Nascimento: 23/02/1979 (42 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)