Jorge Manuel Lopes

Discutem-se os gostos. E o olhar


Crítica de televisão, por Jorge Manuel Lopes.

 

 

 

 

São quatro episódios de meia hora, transmitidos pela BBC em janeiro de 1972. E tornaram-se tão populares que originaram um livro e não deixaram de ser ciclicamente evocados, aprendidos, apreendidos até hoje, tempo de celebração de meio século de existência.

“Ways of seeing” brotou da cabeça de John Berger (e de Mike Dibb, cineasta especializado em documentários). Crítico, escritor em prosa e verso, pintor, Berger nasceu em Londres em 1926 e viveu até 2017, a maior parte do tempo em França, e com “Ways of seeing” quis mostrar ao telespectador as camadas estéticas e ideológicas em que assenta a arte. Como ela fornece pistas sobre os mecanismos sociais de um tempo e lugar.

Nas quatro emissões, disponíveis via YouTube, John Berger começa por chamar a atenção para a forma como o contexto de uma obra com séculos entrou em mutação quando a tecnologia permitiu a sua reprodução mecânica. Depois, vira-se para a representação das formas femininas na tela, sublinhando como as sociedades construíram a ideia do corpo da mulher a partir de olhares masculinos. Segue estabelecendo ligação entre os retratos a óleo e o desejo de prestígio social. E termina focando-se na publicidade, o intermediário que acaba substituindo a realidade.

Com uma linguagem clara sem ser simplista, servida por um trabalho de imagem e som que, não gerando ruído, avança com prazer pelo insólito e pelo humor, “Ways of seeing” continua a alargar horizontes em 2022.