Decorações de Natal caseiras. Com pouco, muito se faz

De cartão canelado fazem-se coroas de Natal originais como sabe e ensina a designer Sofia Cotrim

Adereços originais feitos em casa com objetos sem uso e materiais que se reciclam. Com imaginação, tesoura e fios, cola e tintas, rolos de papel higiénico, pacotes de leite, embalagens de queijo, caixas de ovos, restos de tecido (e muito mais). Momentos juntos, peças únicas.

Comprar tudo feito ou dedicar tempo às decorações de Natal com o que anda lá por casa e que pode ganhar uma nova vida, uma outra função alusiva à época? Diz quem sabe que bricolage caseira nesta quadra ultrapassa a dimensão utilitária. Peça a peça, boas recordações, experiências irrepetíveis. Do início ao fim.

Ideias não faltam e vale (quase) tudo. Rolos de papel higiénico, folhas do jardim, pinhas, pacotes de leite, frascos de iogurte, embalagens de queijo fresco, papéis de encomendas, rolhas, restos de tecidos, cartão, caixas de ovos, de cereais, de bolachas. Haja criatividade e vontade. Afinal, é Natal.

Sofia Cotrim é designer, criativa, apaixonada por cores, padrões e materiais, autora do site Mundo de Sofia, e tem uma mão-cheia de propostas para embelezar a quadra em casa. Comecemos, então. Um calendário do advento com embalagens de queijo fresco reutilizadas, pintadas a gosto, com mensagens ou surpresas lá dentro, tapadas com rodelas de cartão reaproveitado com números e feitios que se quiser. Para contar os dias até ao Natal com um calendário a preceito. Com rolos de papel higiénico fazem-se estrelinhas para a árvore ou para pendurar à janela e ainda argolas de guardanapos com cores ou motivos da época. E uma coroa com aqueles enfeites que andam soltos aí por casa? Um arco de metal forrado com uma fita de brilhantes ou uma fita de tecido, mais algumas bolas coloridas, e já está. Uma coroa para uma porta, um centro de mesa, ou pendurada numa parede. Ou uma coroa com aquele papel que embrulha encomendas, dobrado em forma de arco com um pouco de arame para dar estrutura, folhas apanhadas no jardim pintadas e coladas a esse círculo. E sai mais uma coroa de Natal. Cartão canelado enrolado, colado, pintado, rodela a rodela, também dá uma bonita coroa. “Não é preciso um grande investimento. Basta olhar para o que temos à nossa volta”, garante Sofia Cotrim. Coisas simples com materiais reciclados que se transformam em objetos natalícios. É esta a receita. “Do pouco se pode fazer muito e temos tantos materiais à nossa volta que nos podem inspirar”, diz a designer com conhecimento de causa.

Rolos de papel higiénico dão argolas de guardanapos

Mariana Gonçalves é arquiteta, orienta oficinas de expressão plástica e sensorial para crianças no Ateliê Mio que fundou na Boavista, Porto. Sugestões para decorar o Natal tem muitas, com materiais naturais, materiais reciclados e combinados. Frisando uma mensagem que quer passar. “Mais importante do que o produto final é o processo, a recolha dos materiais, o envolvimento das famílias, o tempo que todos passam juntos, a sustentabilidade, porque se reaproveitam materiais”, sublinha.

Exemplos não faltam. Sair de casa, caminhada em família por um parque ou jardim, recolher elementos naturais, galhos de árvores, folhas caídas, pinhas, pontas de pinheiros, flores secas. Tudo se aproveita para construir um móbile com um galho resistente decorado com cordas e onde se amarram os materiais, pintados ou não, para pendurar na parede. Tal como um tear feito com quatro galhos unidos em forma de quadrado, corda entre duas arestas paralelas, decorado com folhas ou outros materiais.

De rodelas desmaquilhantes nascem anjos

Vanda Andrés é artesã, tem ateliê em Cerdeira, Arganil, por vezes, orienta workshops de Natal e vai a mercados. Neste momento, o seu trabalho concentra-se na época, árvores de madeira, presépios em miniatura, alguns dentro de cascas de noz, amendoim, pistácio – é uma arte minuciosa. Para leigos na matéria, há diversas possibilidades para tratar da ornamentação lá em casa. A artesã usa restos de tecido com frequência. Vai uma ideia. “Coroa de Natal feita com arame, com um cabide de lavandaria, e com tiras de tecido de uma roupa que se estragou, de uma t-shirt que deixou de servir, de cortinados.” Cortam-se tiras que se atam à estrutura de arame, juntam-se elementos natalícios a gosto. Mais uma ideia: com rodas desmaquilhantes, fazem-se anjos. Vanda Andrés explica como. “Dobra-se um cordão ao meio, passam-se as duas partes por dentro de uma bola de madeira, de forma a fazer a cabeça. Entre o nó e a bola utiliza-se um pedaço de tecido ou lã para fazer os cabelos. Pega-se numa roda de algodão e enrola-se de maneira a formar um cone e cola-se à cabeça/bola.” Os cordões ficam por dentro, os pés são duas bolas de madeira pequeninas, as asas do anjo são a metade de uma rodela.

Tintas naturais com café e açafrão

As caixas de ovos ganham nova vida para enfeites de Natal, assegura Mariana Gonçalves. Recortam-se as saliências, aquela parte onde os ovos estão encaixados, que se transformam em renas, sinos, pais Natal, árvores, com fios para pendurar, pinturas e decorações com as cores e os brilhos que se quiserem. Qualquer cartão em papelão, sejam caixas de cereais ou de bolachas, dá uma árvore. Como? “Faz-se a dobra, cola-se, e é uma árvore de Natal em qualquer escala”, explica a arquiteta que, no seu ateliê, tem oficinas de Natal de 19 a 26 de dezembro para crianças a partir dos três anos.

Um combinado de elementos naturais e reciclados dá uma grinalda feita com cartão, caixas de cereais ou caixas de piza para a base. Mãos à obra. Furos no cartão, materiais encaixados nesses furos, folhas e flores, e outras coisas coladas, como paus de canela, pinhas, laranjas desidratadas. Para uma mesa ou porta de entrada.

Cabides de lavandaria dão coroas com enfeites

E se, de repente, é preciso pintar e não há tintas industriais em casa? Não há problema. Mariana Gonçalves dá uma dica. “Podem optar por produzir artesanalmente e em família. Basta misturar água, cola branca e especiarias/elementos naturais .” Que especiarias ou elementos são esses? Café, açafrão, sumo de beterraba, terra.

“Basta imaginação e criatividade”, adianta Sofia Cotrim. O azevinho demora a crescer e com feltro, cartão ou papel sem utilidade, fazem-se folhas com moldes que são mais um belo apontamento na decoração natalícia. Haja vontade, tempo, disposição. Para os mais arrojados, e com uma certa mão para a bricolage, as caixas de bolachas vazias são perfeitas para construir uma vila de Natal. Pacotes de leite ou de sumos dão belos comboios. Sofia Cotrim tem moldes e prints no seu site, muitos são gratuitos.

Vanda Andrés volta aos restos de tecidos que já não têm mais volta a dar. Uma grinalda com quadrados de diferentes tipos de tecidos que se juntam com uma agulha de lã e linha de croché que, depende do tamanho pretendido, é uma opção. Há mais. “Usar o cartão dos pacotes de leite e de vinho, moldar para fazer anjinhos, sinos, estrelas, e forrar com tecido. É dar asas à imaginação, deixar voar a criatividade.”

Grinaldas feitas com restos de tecidos unidos por um fio

Estrelas de anis espetadas em rodelas secas de limão ou de laranja não dão trabalho e, nesta altura, ficam bem em centros de mesa. Os enfeites de Natal que andam em caixas e que já não têm uso, fitas que perderam tiras brilhantes, bolas machucadas, dão para reutilizar com pequenos ajustes, uma pintura, uma fita com mais fitas juntas, para um arranjo natalício numa estante, num móvel, num armário, na sala ou na cozinha.

Rolhas de vinho dão presépios para quem tem jeito para moldar figuras, com um x-ato ou faca, paciência e cola, com feijão, grão, arroz para retoques mais elaborados. Presépios que podem ter por base um pires que não se utiliza. Missangas perdidas também aqui são bem-vindas. Com moldes, fazem-se flores de Natal, pétala a pétala, com serapilheira e feltro, tal como anjos e estrelas. Com o feitio que apetecer. “Temos de olhar para as coisas que temos à nossa frente, a que nem damos muita importância, e que podem ser transformadas em peças engraçadas”, diz Vanda Andrés.

Rolhas de cortiça são figuras de presépio

São momentos em família, divertidos, únicos. “O mais importante é envolver os miúdos. Quando é a família a fazer as decorações, as peças acabam por ter um significado muito além do próprio objeto”, sublinha Sofia Cotrim, que vai orientar dois workshops alusivos à época, a 17 e 18 de dezembro, em Lisboa.

Lá fora, na Natureza, há muito para aproveitar. Ramos de árvores caídos no chão que, dobrados com cuidado, formam bonitas coroas. “As pinhas dão para fazer muita coisa, transformam-se numa árvore de Natal em miniatura, colada numa base de madeira, pintada de verde com tinta acrílica”, sugere Vanda Andrés. É uma possibilidade. As pinhas de vários tamanhos, mais delgadas ou mais cheias, com um banho de spray brilhante, ou com tinta branca a imitar neve, são peças de decoração que se adaptam a vários espaços de casa. A artesã de Arganil fala ainda em presépios que nascem de pedras com cola quente. Ou seja, pedras escolhidas por tamanho e espessura, coladas para que se segurem em pé, verniz para realçar a cor.

Pedras com diversos formatos são presépios, como faz a artesã Vanda Andrés

Mariana Gonçalves reforça o que é realmente essencial nestas jornadas em família numa quadra especial. “Aproveitar o processo. A magia está no processo.” É fazer e é aproveitar, porque o Natal está à porta.