Da realeza a Hollywood, os destinos de luxo da nossa produção

A todos continentes. Do Ocidente ao Oriente. Por terras, céus e mares. Até onde a vista alcança. À realeza também. Não por acaso. É a qualidade das matérias-primas, a atenção aos detalhes, a vontade de arriscar e de inovar, a capacidade de resposta, o luxo e a exclusividade. É aquele saber fazer e aquele saber vender. E o trabalho não pára porque há sempre novos caminhos por desbravar.

O vestido azul-celeste da princesa Charlotte, filha de Kate e William, no Jubileu da rainha Isabel II, celebração dos 70 anos do seu reinado, no início de junho, andou nas bocas do Mundo. A Patachou foi apanhada de surpresa com o frenesim. Aquele vestido de chiffon, que circulou em milhares (talvez milhões) de imagens e fotografias pelo Planeta, foi costurado em Felgueiras, onde a marca de moda infantil de luxo, estilo chique e intemporal, a preços acessíveis, tem a sua fábrica. Não é caso único da exposição mediática que a produção nacional tem alcançado. O made in Portugal, de forma discreta ou mais pomposa, dá várias voltas ao Mundo. E continua aí para as curvas.

Voltemos a Felgueiras. As campainhas soaram na Patachou com as sucessivas partilhas nas redes sociais do vestido da princesa, depois as notícias, depois os comentários, depois os elogios e o orgulho. O óbvio aconteceu. Muitos pedidos, o vestido tornado real (de realeza, entenda-se) esgotou dias depois, voltou ao stock, continua à venda, custa 63,40 euros. Mais recentemente, há poucos dias, mais uma surpresa, mais uma princesa. A princesa Estelle da Suécia surgiu numa foto com um vestido em flanela tweed, gola preta em veludo com detalhes a condizer com duas tiras ao longo do corpete. Preço: 126,60 euros. Há mais no currículo. A filha mais nova de Cristiano Ronaldo e Georgina também veste, de vez em quando, Patachou. Nada enviado pela marca, tudo comprado pelos próprios.

A princesa Charlotte apareceu no Jubileu da rainha com um vestido da Patachou, marca de moda infantil de luxo, de Felgueiras
(Foto: Jonathan Brady/Pool/AFP)

De Portugal, mais precisamente de Braga, passando por São João da Madeira, saem as sabrinas mais caras do Mundo. Josefinas Sal Azul Persa, inspiradas na beleza e raridade do sal azul recolhido apenas no Irão, feitas à mão desde 2015, pele genuína, veludo azul, pendentes em ouro e topázios azuis. Tiveram honras nas mais importantes publicações de moda internacionais e custam, ao consumidor final, à volta de 3700 euros – há compradores de luxo que o sigilo não permite divulgar. São Josefinas, pois claro.

O início conta-se em duas frases. “A Josefinas é uma marca portuguesa que nasceu de um sonho. Num país em plena crise, onde sonhar tinha pouco espaço, o fazer sapatos à mão ganhou um novo nome e deu uma nova vida ao trabalho dos artesãos nacionais.” Filipa Júlio e Maria Cunha materializaram esse sonho em 2013, abraçaram, entretanto, outros projetos, a marca continua o seu caminho. A crescer no segmento de luxo. A sede está em Braga, a produção em São João da Madeira nas mãos de mestres e artesãos sapateiros. Tudo feito por encomenda, pedido a pedido.

Sapatos femininos exclusivos e, nesse portefólio, surge a duquesa Meghan Markle, fã assumida da marca, que chegou a escrever sobre as Josefinas quando tinha um blogue de lifestyle. Sabe-se que Jessica Biel, na altura namorada de Justin Timberlake, comprou um par de Josefinas na loja que a marca teve em Nova Iorque entre 2016 e 2017. A mensagem de empoderamento das mulheres, que tentam mudar o Mundo, é ponto de honra.

A visibilidade e o reconhecimento

“As Josefinas chegam aos quatro cantos do Mundo, exportamos para mais de 160 países”, adianta Joana Esteves, uma das administradoras da marca, responsável de vendas. Os Estados Unidos são um mercado muito importante, o europeu bastante relevante, as Josefinas chegam também ao Canadá e à Austrália. “Um dos pilares da marca é o savoir-faire, as Josefinas são feitas numa área nobre de tradição da arte de bem-fazer calçado.” Calçado confortável vendido online. As Josefinas andam a explorar outro segmento com malas de luxo.

A Josefinas, com sede em Braga e produção em São João da Madeira, fabrica as sabrinas mais caras do Mundo. A atriz americana Jessica Biel foi uma das celebridades que se converteu à marca portuguesa
(Foto: Josefinas Facebook)

Joana Esteves sabe, por experiência própria, o valor do made in Portugal, desse trabalho meticuloso, dessa riqueza de saber criar. “Os clientes internacionais olham para nós, para o nosso know-how, com muita admiração, é algo que nos distingue. Cada vez mais somos reconhecidos lá fora e levamos Portugal além-fronteiras”, sublinha.

A Patachou é uma marca que junta a mãe Sofia Ferreira e a filha Marta Teixeira de Sousa na concretização de um projeto de duas mulheres apaixonadas por moda. Há mais de dez anos no mercado, chega atualmente a mais de 50 países. Inglaterra, Estados Unidos, Dubai, Canadá, Itália, estão nessa lista. Fisicamente, dois corners exclusivos no El Corte Inglés de Gaia e de Lisboa, presença em diversas lojas multimarcas, participação em diversas feiras internacionais. A projeção é bem-vinda. Paulo Campos, diretor-geral da marca, destaca esse reconhecimento que dá visibilidade e realça o investimento na qualidade dessa roupa para bebés e crianças dos zero aos 14 anos. “Temos uma vasta gama de materiais, chiffon, seda, o nicho é festa, fabricamos produtos que tenham valor acrescentado.”

Nesse canto do país, em Felgueiras, a Longratex produz vestuário para a Patachou e para a marca de roupa feminina Sophia Kah, criada pela mãe Sofia Ferreira e a sua filha mais velha Ana Teixeira de Sousa. Beyoncé já vestiu uma peça desta marca em 2015. Reza a história que a cantora pediu à stylist para comprar um vestido branco, dress code para um casamento. A stylist entrou no Barneys e os seus olhos colaram-se ao modelo de renda da marca com produção em Felgueiras. O vestido obviamente esgotou. A atriz Sarah Jessica Parker, a cantora Kylie Minogue e a princesa Beatrice, da família real britânica, também já vestiram Sophia Kah que tem mercados nas geografias da Patachou, com ênfase no reino inglês.

A cantora Beyoncé vestiu Sophia Kah num casamento de amigos (o dress code era branco). A roupa confeccionada no Norte do país tem captado a atenção de gente famosa, como é o caso de Sarah Jessica Parker
(Foto: Sophia Kah Facebook)

“O nosso mercado é procurado por marcas internacionais dada a qualidade, a grande capacidade produtiva, e a célere resposta”, sustenta Paulo Campos. A rapidez em desenhar, fabricar e pôr no mercado toda uma coleção.

(Foto: AICEP Portugal Global Facebook)

Luís Onofre tem nome firme, mais que firmado, no mercado nacional e internacional, designer de calçado feminino que circula por todos os continentes, um caso de sucesso cá e além-fronteiras, chegou a desenhar coleções de carteiras para a Cacharel e a Kenzo antes de lançar a sua marca. Os sapatos que desenha não passam despercebidos. Nos pés de famosas tanto cá dentro como lá fora, numa lista de respeito. Letizia Ortiz, rainha de Espanha, Michelle Obama, ex-primeira-dama dos Estados Unidos, as atrizes Penélope Cruz, Naomi Watts e Paris Hilton, a princesa Vitória da Suécia, todas já calçaram Luís Onofre. O que produz cá dentro, na fábrica em Oliveira de Azeméis, vai na maioria para o exterior, geografias diversas como Dubai, Brasil, Angola, Mongólia, Nigéria, Canadá, China, Estados Unidos, e um pouco por toda a Europa.

Materiais nobres e o orgulho nacional

Tal como Onofre, muitos outros designers de moda, estilistas de calçado, alfaiates, criadores e modelos levam Portugal a circular pelo Mundo. São coleções inteiras, peças exclusivas, sapatos nunca antes desenhados, joias com o toque português, malas feitas para gigantes marcas internacionais. Chega tudo a todo o lado, à realeza, príncipes e princesas, reis e rainhas, a atrizes e atores de Hollywood e arredores. Na última quarta-feira, o estilista português Tony Miranda mostrou a sua nova coleção em Lisboa, a Recomeçar 2023. É um exemplo das voltas do bem-fazer português. Vestiu Brigitte Bardot e Jacques Brel, algumas das figuras mais sonantes do seu currículo.

Os sapatos portugueses são uma das fortes imagens do país. Luís Onofre é um dos maiores embaixadores. Os seus modelos são vistos, frequentemente, nos pés de famosos nacionais e internacionais
(Foto: Onofre Facebook)

Portugal produz, molda e transforma matérias-primas nobres que viajam pelo Mundo e que fazem girar o mundo económico. Tecidos, lãs, bem como a cortiça e o burel que mostraram o esplendor da sua versatilidade em várias áreas. E não vão parar. O burel, feito da lã dos ovinos da raça Serra da Estrela, em mantas, sapatilhas, ponchos, almofadas, painéis de parede com pontos 3D em obras de arquitetura. A cortiça, a casca do sobreiro, que há muito percebeu que o seu destino não passava apenas pelas rolhas e depois voou para os vaivéns espaciais, para pás eólicas, penetrou em praticamente todos os setores, na moda, na construção, no calçado, na decoração, no que se possa imaginar. Grandes nomes da moda planetária usaram cortiça nas suas criações. Christian Dior fê-lo em malas e acessórios, Louboutin em sandálias, tal como Stella McCartney, Dolce & Gabbana e Yves Saint Laurent em calçado. Há já um fio de algodão revestido com aditivos de cortiça a ser utilizado em artigos de moda e decoração e que tem despertado interesse cá e lá fora.

Há produções mais discretas que não gostam de holofotes. Em Castelo de Paiva, produzem-se as braceletes dos relógios mais exclusivos do Mundo, para marcas suíças de respeito e não só. No pulso, milhares de euros. A Bradco é a empresa que trata disso. Há peles e malhas made in Portugal que chegam a várias marcas internacionais, que a confidencialidade não deixa espalhar aos quatro ventos. Fábricas pequenas e grandes, teares de outra geração que sabem o valor da tradição, máquinas antigas ou mais sofisticadas, empresas que teimam em criar e inovar. E é desta fibra, muita fibra, aliás, que o made in Portugal é feito.