Criar uma garrafeira em casa? É bem mais fácil do que parece

Não é necessário ser um “sommelier” ou um enólogo. Organizar os vinhos pode ser tudo menos um quebra-cabeças.

Ponto prévio: todas as alturas são boas para criar uma garrafeira em casa, desde que, naturalmente, se goste de desfrutar de um bom vinho e de o partilhar com a família e os amigos. No entanto, fazê-lo, não obriga a grandes segredos ou estratégias, Basta seguir alguns passos. Simples. No final, com o tempo, perceberá que o trabalho realizado valeu a pena.

Localização e espaço

É a base de tudo. A maioria das pessoas não se preocupa com um fator que se revela fundamental. Muitos de nós temos os vinhos espalhados pela casa. Ou até cometemos o “pecado” de os guardar na cozinha, numa arrecadação/arrumos no vão do telhado, junto a aquecedores, lareiras ou máquinas elétricas que transmitem calor, humidade ou vibrações. Nada mais errado. Confuso? Não vale a pena. O mais importante é o espaço ter uma temperatura fresca e constante ao longo do ano. As zonas da casa viradas a norte, sem luz direta e arejadas são as ideais.
Se pensa que necessita de uma grande área para criar uma garrafeira, está enganado. Um metro cúbico – ou seja, um metro de altura, por um metro de largura, por um metro de profundidade – já lhe dará pano para mangas. Hoje em dia, há opções económicas à venda nas grandes superfícies de bricolage e que ocupam pouco espaço, podendo, inclusivamente, fazê-las crescer, na horizontal e/ou na vertical, em função das necessidades. De forma a evitar cheiros e bolores, o plástico é a melhor solução.

Organização e acondicionamento

A organização dos vinhos na garrafeira deve ser sempre aquela com que o proprietário mais se identifica. Mesmo assim, nacionais-estrangeiros e tintos-brancos-rosés-espumantes-licorosos (Porto, Madeira, Moscatel, etc.) é uma estratégia básica que ajuda no início. Quando a quantidade de garrafas o justifica, apostar na diferenciação por regiões demarcadas é uma possibilidade. Outra, prática, passa por colocar na zona mais baixa as referências antigas e valiosas, assim como os vinhos licorosos. Em cima, comece pelos espumantes e rosés, seguindo-se, em direção ao chão, os brancos, os tintos sem madeira e os tintos com madeira. Se a garrafeira passar a ter umas boas dezenas de referências, elaborar uma espécie de mapa/quadro de batalha naval (com letras e números na vertical e na horizontal) será uma boa ajuda na hora de encontrar a garrafa que deseja.

Quando compra um vinho, confirme se deve ser aberto nos meses seguintes ou se o pode guardar. Reservar uma zona da garrafeira, de fácil acesso, para os vinhos de consumo mais rápido é também uma boa estratégia e ajuda na organização. Certo é que a quase totalidade das garrafas deve ser guardada na posição horizontal, de forma a manter a rolha húmida, impedindo a oxidação. Os únicos que poderão – poderão, sublinhe-se, não sendo a solução ideal – ficar na vertical são o Porto Tawny, o Madeira e o Moscatel, dado que os estágios, mercê dos poros das madeiras em que permanecem até serem engarrafados, os habituaram a conviver com a atmosfera.

Guardar ou não guardar e registar

As tabuadas enófilas são claras. O vinho com mais potencial para melhorar em garrafa é o Porto Vintage. Se guardado nas condições ideais, pode ser consumido ao fim de muitos e muitos anos. Merece, portanto, ser preservado para “aquele” momento. Ao mesmo tempo, o Madeira, graças a uma original acidez, consegue “eternizar-se” nas melhores condições. Nos vinhos tranquilos, os tintos possuem características que lhes garantem maior tempo em garrafa do que os brancos. No entanto, a diferença entre eles já foi bem maior. Quando comprar um vinho, atente ao contrarrótulo, pois possui informação complementar importante na gestão de uma garrafeira.
Criar um livro (físico ou digital) de apontamentos e notas de apoio à garrafeira é de extrema utilidade. Não só para saber facilmente as características de cada vinho – a região, o produtor, as castas, a data de aquisição, o preço, etc. –, como para não ter de manusear constantemente as garrafas. Por fim, registar as suas impressões sobre cada referência é um excelente exercício para crescer enquanto apreciador e uma ajuda para, no futuro, sempre que voltar às compras, saber o caminho a seguir.

O que comprar

Antes de fazer as primeiras aquisições, confirme o que já possui, para evitar repetições. Depois, procure complementar as referências existentes com as suas preferências, mas deixe parte do orçamento previsto para se aventurar em perfis e produtores desconhecidos. Só assim crescerá o seu conhecimento pelo vinho. E, sobretudo, a sua paixão.

Dicas

– Uma boa garrafeira exige uma mão-cheia de acessórios, uns mais prioritários do que outros. Do saca-rolhas ao decantador; dos copos adequados ao frappé, passando pelas lâminas antigotas.

– As garrafas nunca devem ficar coladas ao chão (para precaver eventuais inundações), nem à parede (para evitar mudanças de temperatura e/ou de vibrações).

– Vinhos, como os Porto Vintage e os tintos não filtrados, guardados durante muito tempo na horizontal, podem criar depósito. Por isso, alguns dias antes de serem consumidos, deverão ser colocados na vertical.

– Caso tenha dificuldade em arranjar um espaço que lhe garanta condições mínimas de arrumação e climatização, poderá recorrer a uma cave frigorífica. Há inúmeras opções e para todas as carteiras.

– Se necessitar de acelerar o arrefecimento de uma garrafa, há um método infalível – coloque num frappé água, gelo e uma boa quantidade de sal.

– Nem sempre os melhores vinhos são os mais caros. Há diversos fatores que influenciam o preço, como a região ou a quantidade de garrafas produzidas.