Um passeio em Nova Iorque transformou a vida da química Mara Santos, que viu no excesso de carbono uma oportunidade para brilhar.
Quando em 2018, ao passar numa rua de Nova Iorque, lhe perguntaram se vendia diamantes, a química Mara Santos, que já carregava no pensamento preocupações com o aumento de CO2 e as alterações climáticas, ficou com a ideia na cabeça. Afinal, os diamantes são estruturas de carbono e já se produzem em laboratório há décadas.
Começou a pesquisar e, ao fim de um par de anos, tinha definido os procedimentos necessários, optando por um processo que implica recorrer a reatores para atingir temperaturas na ordem dos 3000 K (Kelvin) e pressão que ronda os 15 GPa (gigapascal). São estas as condições similares às que acontecem no manto terrestre para produzir diamantes de forma natural.
Seguiu-se um rol de apresentações para divulgar o projeto CO2 Diamonds e a participação em programas que lhe permitiram estabelecer contactos. Começou pelo Encontro Nacional sobre Investigação em Alterações Climáticas, em 2020. No ano seguinte venceu a competição Cross-border for Local Value na categoria Reviewer’s Choice e teve a oportunidade de trabalhar com “pessoas de quatro continentes, de valências muito diferentes, que ajudaram a aumentar a rede de contactos” para conseguir melhorar o plano de negócio e encontrar parceiros que poderiam viabilizar a ideia.
Agora, centra-se em conseguir financiamento, mas, de permeio, tem continuado a fazer apresentações e a participar em programas, a nível nacional e fora do país, cujo resultado não tem deixado dúvidas sobre o valor do seu projeto. Exemplo disso é o facto de ter conquistado o segundo lugar do Prémio Melhor Ideia de Negócio – Go Green Go Social 2021, promovido pela NOVA FCSH e pelo Santander Universidades, e a participação no 928 Challenge, em Macau.
“O processo está cientificamente provado em termos teóricos, mas ainda não produzi o primeiro diamante”, diz Mara Santos, adiantando que tem recebido manifestações de interesse, dentro e fora do país, mas muitos investidores querem “ver que não é só teoria, que realmente conseguimos mostrar o primeiro”. Contudo, “sem um investimento inicial é difícil” e a investigadora não quer endividar-se, pelo que continua a procurar “parcerias”.
O carbono é um “elemento muito interessante” e uma “fonte de oportunidade” que pode ter “aplicações positivas” e não tem de ser olhado apenas de forma negativa, diz.