Como descobrir e acabar com os piolhos

Nome técnico: pediculus humanus capitis. Mais conhecido por piolho, este parasita tem seis patas, cada uma tem uma garra que se fixa ao cabelo, a sua boca assemelha-se a uma pequena tromba que se agarra ao couro cabeludo para sugar o sangue. Não ataca animais, apenas humanos (Foto: AdobeStock)

São parasitas que se alimentam de sangue, causam comichão na cabeça, multiplicam-se depressa. Os sinais demoram a dar de si. Bichinhos teimosos, impessoais, altamente transmissíveis.

Um piolho tem seis patas, cada pata tem uma garra que se fixa ao cabelo, a sua boca assemelha-se a uma pequena tromba que se agarra ao couro cabeludo para sugar o sangue com que se alimenta. A sua saliva ajuda-o nesse processo, impedindo o sangue de coagular quando tem fome. O nome técnico, pediculus humanus capitis, confirma que só ataca humanos e não animais. “Infetam e infestam exclusivamente humanos”, garante Ana Pedrosa, dermatologista do Hospital de São João e da clínica Insparya, no Porto. “São parasitas que se alimentam pela sucção de sangue humano.” Ao microscópio, a imagem não é bonita.

São a origem da chamada e malfadada pediculose. Ana Moreira, dermatologista da Allure Clinic, no Porto, explica o que isso é. “Uma infestação causada por esses insetos parasitas que vivem na dependência, alimentam-se picando a pele e sugando o sangue”. Agarram-se aos fios do cabelo, atacam o couro cabeludo, não dão tréguas. As lêndeas brancas, quase transparentes, medem menos de um milímetro, colam-se às hastes capilares e não sossegam. Uma fêmea adulta põe oito a dez ovos por dia, as ditas lêndeas. Ao fim de seis a dez dias, nascem novos piolhos, as chamadas ninfas que ali encontram o seu habitat, no quentinho do couro cabeludo. O tempo de incubação é curto e o ciclo interminável se nada for feito. Um parêntesis apenas, há também os piolhos das pestanas e os piolhos das áreas genitais, mas esses são outra conversa e até outros bichos.

Uma vez na cabeça, os piolhos multiplicam-se. Andam por vários lados do couro cabeludo, na zona da nuca, atrás das orelhas. Agarram-se onde podem. “Os piolhos não voam, não saltam, tem de haver um contacto direto, cabeça com cabeça”, refere Ana Pedrosa sobre a forma de transmissão. Uma vez instalados, provocam coceira. “Essa comichão insuportável é uma reação alérgica à própria saliva que injetam quando se alimentam do sangue”, adianta a dermatologista. A saliva dos piolhos tem duas funções: não coagula o sangue no momento da sucção e provoca comichão na cabeça. Regra geral, e numa fase inicial, eles andam na cabeça e não se dá conta. “Uma vez diagnosticado o problema, já lá estão há semanas”, revela Ana Pedrosa. Alimentam-se, reproduzem-se.

“Uma vez diagnosticado o problema, eles já lá estão há semanas”, reconhece Ana Pedrosa, dermatologista
(Foto: DR)

A comichão faz soar as campainhas. Comichão que provoca coceira e por aí fora. “O mais comum é a comichão, é a coceira, é a irritação, a sensibilidade à saliva injetada quando os piolhos se alimentam”, descreve Ana Moreira. As consequências não são boas para os humanos. “Escoriações, crostas e infeções pelo ato de coçar”, enumera a dermatologista da Allure Clinic. Infeções no couro cabeludo não são brincadeira, muitas vezes, necessitam de intervenção médica.

O tempo de vida está estudado. Um piolho vive cerca de um mês na cabeça e aguenta-se dois dias fora do hospedeiro. Todo o cuidado é pouco com estes insetos parasitas. A máxima atenção, portanto.

Pente fino, da raiz às pontas dos cabelos

As crianças são as mais fustigadas, percebe-se porquê, mais próximas umas das outras nas brincadeiras, cabeça com cabeça, nos infantários, nas creches, nas escolas, nas atividades extracurriculares, em todo o lado. Além disso, partilham objetos com frequência, gorros e bonés, travessões e ganchos, fitas e bandoletes. São muitos e variados contactos com colegas e amigos, irmãos e pais. Deixar de ir à escola até acabar com todos os piolhos? Quarentena aos bichinhos? Nada disso. A Academia Americana de Pediatria, ainda este mês, divulgou um parecer a propósito do assunto que desaconselha deixar os miúdos em casa por causa dos piolhos. Há que tratar deles, em primeiro lugar.

Não têm asas, não saltam, não nadam, mas resistem bastante tempo debaixo de água, são mais ativos na escuridão, à noite, de luz apagada. Como acabar com eles? Há produtos específicos para o efeito, de aplicação local, substâncias altamente tóxicas para o parasita, sem efeitos para os humanos. “Loções, champôs, que matam os piolhos por desidratação e por asfixia”, indica Ana Moreira. Os nomes que existem no mercado são conhecidos. “Alteram as camadas exteriores da casca do inseto que acaba por desidratar e morrer”, especifica a especialista. Não é necessária receita médica, não são químicos para colocar no cabelo. “São substâncias inócuas para o ser humano, mas prejudiciais para o parasita”, sustenta.

“Não podemos associar o aparecimento de piolhos à falta de higiene”, garante Ana Moreira, dermatologista
(Foto: DR)

O método não varia muito e é para todo o agregado familiar, ninguém pode ficar de fora se a ideia é acabar com os piolhos de uma vez. Aplicar a loção no cabelo seco, da raiz às pontas, humedecendo o couro cabeludo e os fios capilares, massajar bem para espalhar a loção e cobrir toda a área da cabeça, esperar 10 a 15 minutos, lavar o cabelo, e depois usar o pente fino num trabalho delicado mecha a mecha. Da raiz à ponta de cada fio de cabelo, toalha pelas costas, de preferência sobre o lavatório da casa de banho. Cabelos compridos e encaracolados são mais complicados, como é óbvio.

Numa pediculose, não se pode facilitar, a margem de erro é grande. Os ovos das lêndeas que são lêndeas crescem, tornam-se piolhos que são insetos parasitas que dão trabalho. Mas não é só para a cabeça que se deve olhar. Atenção aos objetos que se partilham, escovas, pentes, bonés, peças de roupa, roupa da cama, almofadas, mantas, pijamas, peluches e bonecos dos mais novos. Ana Pedrosa avisa que é preciso desinfestar o que está em casa. “Descontaminar as roupas que estiveram em contacto nos últimos dois dias, lavagem a quente, 60º graus, secagem a altas temperaturas, se possível”, aponta. O que não for possível lavar a 60 ou mais graus fechar bem em sacos escuros durante duas semanas que os parasitas acabam por morrer asfixiados.

“Não há maneira de prevenir piolhos. Há sim, procedimentos que podem ajudar”, assegura Luís Uva, dermatologista
(Foto: DR)

Tratamentos feitos, roupas e objetos descontaminados, cabeça limpinha, não dá para baixar os braços. Olhos bem abertos nas duas semanas seguintes, porque nunca se sabe, toda a atenção é pouca. Quem percebe do assunto aconselha a repetição do tratamento, pode haver ovos mais resistentes, bem como reforçar a descontaminação de objetos e não abandonar a técnica do pente fino. “É importante sete a 10 dias depois, repetir o tratamento pelo menos uma vez”, diz Luís Uva, dermatologista e diretor clínico da Personal Derma, em Lisboa. Usar champôs ou os manipulados da farmácia, com receita feita à medida e mais potentes, voltar a pentear o cabelo ainda húmido com o pente fino. À unha é complicado e não totalmente eficaz.

Há alguma maneira de prevenir piolhos na cabeça? Não, responde Luís Uva. Não há repelentes para usar antes de o ano letivo começar, época em que estes parasitas costumam atacar em força. Há, sim, procedimentos que podem ajudar pais e filhos, as famílias, professores. Cabelos mais curtos e vigilância constante. “Passar o pente fino semanalmente, fazer uma inspeção ao cabelo à sexta-feira, por exemplo”, refere Luís Uva. Quer haja ou não haja comichão.

Piolhos não são sinónimo de falta de higiene. Não escolhem cabeças, não escolhem estatuto social. Alimentam-se, propagam-se, multiplicam-se indiferentes a qualquer condição hierárquica. “Não podemos associar o aparecimento de piolhos à falta de higiene, são parasitas que apanham cabelos onde se possam desenvolver e crescer”, repara Ana Moreira. Seja como for, estes bichos insetos parasitas, que se instalam nas cabeças e sugam sangue, são tramados.