Cientistas ressuscitam células e órgãos de porcos mortos

O grupo de Yale tem como principal objetivo aumentar a oferta de órgãos humanos para transplante

Utilizando um sistema inovador, um grupo de cientistas conseguiu restaurar a atividade das células em órgãos vitais de vários porcos. Esta descoberta pode significar um potencial avanço no transplante de órgãos.

Um grupo de cientistas da Universidade de Yale anunciou, esta quarta-feira, ter conseguido reativar a circulação sanguínea e outras funções celulares em corpos de porcos que morreram cerca de uma hora antes. Os investigadores esperam que esta nova técnica possa ser usada para “salvar órgãos”, dando assim esperanças para uma futura utilização na Medicina, embora levante questões éticas.

Os cientistas provocaram um ataque cardíaco em dezenas de porcos anestesiados, interrompendo o fluxo sanguíneo e privando as células de oxigénio. Sem oxigénio, as células dos mamíferos morrem.

Uma hora mais tarde, os investigadores injetaram um líquido nos cadáveres que continha o sangue dos porcos (retirado enquanto ainda se encontravam vivos) e uma forma sintética de hemoglobina – a proteína que transporta oxigénio nos glóbulos vermelhos. Administraram ainda medicamentos que protegem as células e previnem a formação de coágulos sanguíneos.

O sangue começou a circular novamente e muitas células voltaram a funcionar, inclusive em órgãos vitais como coração, fígado e rins, durante as seis horas posteriores à experiência. Os cientistas, sediados nos Estados Unidos, deram o nome de OrganEx a esta nova solução e os resultados foram divulgados na revista Nature.

Contudo, isto não significou que os porcos tivessem ressuscitado, já que a atividade cerebral não foi reposta. O que aconteceu foi que algumas funções dos órgãos voltaram a funcionar, mas não foi uma resposta una do organismo dos porcos.

Alguns porcos, também sem vida durante uma hora, foram tratados com ECMO, uma máquina que bombeia sangue fora dos seus corpos. Estes, pelo contrário, ficaram rígidos, os órgãos incharam e ficaram danificados, além dos vasos sanguíneos entrarem em colapso e ficarem com manchas roxas nas costas, onde o sangue se acumulava.

O grupo de Yale tem como principal objetivo aumentar a oferta de órgãos humanos para transplante, permitindo que os médicos obtenham órgãos viáveis depois da morte, prolongando o seu funcionamento e potencialmente salvar a vida de pessoas que aguardam por um transplante. No entanto, por agora, a tecnologia ainda está longe de ser aplicada em seres humanos e levanta ainda algumas questões médicas e éticas, como a atualização da própria definição de morte.