Christine Ourmières-Widener. A mulher da maratona

Christine Ourmières-Widener é CEO da TAP Air Portugal

Olha nos olhos e vai direta ao assunto. É focada e exigente. Há os que a consideram “inflexível e sem empatia social”. E os que garantem que sabe ouvir. Gosta de correr, de Guns N’ Roses e dos cães dachshund Lola e Elvis.

Podemos vê-la num concerto dos Guns N’ Roses, vestida com a t-shirt da banda, uma das favoritas, ou na partida para os dez quilómetros da São Silvestre de Lisboa, equipada a rigor. Na homenagem a Nossa Senhora do Loreto, padroeira da aviação ou no Guincho, a um domingo, ao lado do marido, o consultor inglês Floyd Murray Widener, depois da caminhada matinal. De camisola amarela, a apoiar a equipa de futebol do Estoril ou com Lola e Elvis, dois cães dachshund, pronta para surfar nas águas da Caparica. No Palácio do Eliseu, convidada para o jantar oferecido por Emmanuel Macron a Marcelo Rebelo de Sousa, no cockpit de um avião ou a trabalhar no computador. São algumas das fotografias publicadas no Instagram, em cuja página Christine Ourmières-Widener se apresenta: “Mãe e esposa, ativista da igualdade de género, da diversidade e das questões ambientais”.

Tem 58 anos. Nasceu em Avignon, cidade francesa outrora residência de papas e de antipapas, um dos polos do Grande Cisma do Ocidente, crise religiosa da Igreja Apostólica Romana que se estendeu de 1378 a 1417. Por lá, na Provence-Alpes-Côte d’Azur, teve “uma educação católica rigorosa, a tradicional das pequenas cidades do sul da Provença”, diz, crescendo numa família obstinada em proporcionar aos filhos a melhor educação. Aluna de escolas públicas, “era uma maria-rapaz, sempre interessada na ciência e em fazer demasiadas perguntas”. Considerava-se então “disposta a mudar o Mundo para um Mundo melhor” ou não fosse “feminista precoce, ligeiramente rebelde”.

Move-se num mundo masculino. A primeira diretora executiva da TAP em 77 anos de companhia é, na visão de colaboradores, “muito determinada, muito disciplinada e muito focada”.

Gere uma empresa em crise, em confronto com trabalhadores, ameaças de greve e sob escrutínio permanente. “Mais do que promover a reestruturação interna, a CEO está preocupada em fazer uma limpeza para apresentar a companhia a um comprador”, salienta Ricardo Penarroias, presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil. Porém, admite: “Sabe ouvir, aceita a crítica, e preocupa-se em conhecer a cultura TAP. Em viagem, se fica nos mesmos hotéis, costuma sentar-se à mesa dos tripulantes para fazer perguntas”.

Colaboradores e adversários concordam: não se perde em rodeios. Por uma única vez abandonou uma reunião com representantes de trabalhadores. “Olha-nos nos olhos. Ainda mais quando está irritada. Aí tira os óculos”, conta Tiago Lopes, líder do Sindicato dos Pilotos de Aviação Civil. Descreve uma personalidade “inflexível, por vezes arrogante e prepotente na imposição de ideias”. Uma gestora “sem empatia social”. Mas também acrescenta: “Uma mulher que vingou num mundo de homens só pode ser muito trabalhadora”.

Os sindicalistas tomaram a decisão de falar com a francesa exclusivamente em português. “Fazemos o que fariam em França a um português”, dizem do Sitava, Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos”. E acrescentam: “É bem-disposta, afável, muito educada, raramente levanta a voz e tem poder de encaixe. Mas é também teimosa e obstinada. Tememos alguns atritos”.

Apesar das aulas, e de um ou outro discurso em português, Christine responde em inglês. Os representantes dos trabalhadores estão pessimistas, preocupados. Ourmières-Widener tem contrato até 2025. “Tem contrato e uma missão que vai cumprir”, garantem colaboradores da gestora. “De tal maneira tenciona cumprir que já comprou casa.” Em Oeiras.

“É uma chefe exigente.” Formada em Engenharia Aeronáutica na Escola Superior de Mecânica e Aerotecnia, é mestre em Marketing. Em 1988, com 24 anos, ingressou na Air France, fazendo parte da equipa de manutenção do Concorde. Foi vice-presidente de vendas da Air France-KLM e diretora executiva da City Jet. Em 2017, assumiu o lugar de CEO da britânica Flybe, cargo a que renunciaria dois anos mais tarde, numa altura em que a empresa atravessava graves problemas financeiros. Em 24 de junho de 2021, assume a direção executiva da transportadora portuguesa.

Quinze meses depois, a gestora garante que está para durar.

O que mais lhe agrada em Portugal? “A simpatia das pessoas, a abertura às diferenças, o clima, a gastronomia.” De que menos gosta? “Do tempo que leva a concretização de alguns projetos.”

Christine Jeanne Ourmières-Widener
Cargo:
CEO da TAP Air Portugal
Nascimento:21/09/1964 (58 anos)
Nacionalidade:
Francesa