Catarina dos Santos: pragmática e impaciente

Catarina dos Santos é deputada no parlamento alemão

A primeira portuguesa a integrar o parlamento alemão gosta de amêijoas, bifanas e caracóis feitos pela avó materna. Quando Portugal e Alemanha se defrontam no futebol, diz que só pode ganhar. Foi vocalista de uma banda e a política começou por ser um passatempo.

Portugal tem sabor. Sabe a “umas boas amêijoas do Algarve”, terra da avó materna, e a verão. E verão quer dizer “um bom livro e o som do mar”, prazeres que guarda das férias no sul. Entre outros: “Uma bifana caseira, um bitoque ou uns caracóis à moda da minha avó”.

A mãe é portuguesa, o pai é alemão e apaixonaram-se em Lisboa, onde nasceu, corria 1994. Cresceu nos arredores de Aachen, em Eschweiler, cidade da Renânia do Norte-Vestefália – ainda hoje aí vive – em convivência estreita com dois idiomas, duas culturas, “ambas muito presentes na minha identidade”, privilégio que se manifesta em várias áreas: “Quando Portugal defronta a Alemanha, em futebol, tenho uma vantagem sobre os meus amigos, sejam de um lado ou do outro, porque se trata de um jogo em que só posso ganhar”.

Estudou Direito em Colónia, percurso académico que passaria também pela capital portuguesa, com estágio de três meses na Câmara do Comércio e Indústria Luso-Alemã. Não esconde: “Sou uma miúda Eschweiler – e cresci com a coesão especial das pessoas daqui e das suas tradições”. Mas afirma-se luso-alemã, a primeira portuguesa a sentar-se no Bundestag (parlamento alemão). Com 27 anos, é ainda a mais jovem deputada eleita pela União Democrata Cristã (CDU) nesta legislatura. “Grande honra”, diz, acrescentando sobre o interesse pela vida política portuguesa: “Com os meus compromissos aqui, mal tenho tempo para acompanhar os pormenores. Se eu assumir a elaboração de relatórios para Portugal na Comissão de Assuntos Europeus do Bundestag, isso irá certamente mudar”.

Aos 20 anos, já advogada, concretizava o objetivo que a levou a escolher Direito: “Defender pessoas e os seus interesses”. Foi também por isso que entrou na política. “Sempre gostei de debates, mas só me tornei politicamente ativa no início dos meus estudos. Na realidade, foi sempre um hobby. Nunca tive a intenção de a transformar numa profissão.”

Em 2021, após um longo período de envolvimento na política local, foi desafiada a concorrer ao Bundestag. Aceitou. Pela CDU, “o partido do centro, necessário para que a nossa sociedade permaneça em equilíbrio e as franjas extremas não se tornem mais fortes”. Para a deputada, “é fundamental que ninguém fique para trás, como perdedor”.

Tem no pragmatismo a “maior força”. Reconhece a impaciência como traço forte de personalidade. Militante do partido de Angela Merkel, raramente pensa em assentos futuros: “Sou muito humilde e feliz onde estou agora”.

O pouco tempo livre que o trabalho de advocacia num escritório de Dusseldorf lhe permitia vai ser, agora que estará dividida entre a sua cidade e Berlim, ainda mais reduzido. Lerá menos, caminhará menos, passeará menos de bicicleta, um dos passatempos favoritos e forma encontrada para fazer algum exercício. Porque voltamos à mesa: “Gosto muito de fazer um bolo”. Quase tanto como de cantar. “Isso é exatamente o que eu fiz por um longo tempo, numa banda cover.” Uma lição: “A interação harmoniosa e um tom certo é uma aprendizagem necessária ao exercício da política”. Com muito ou pouco tempo, manterá a rotina diária imprescindível: “O meu cafezinho da tarde”. O ano que acaba de entrar será de mudanças várias. Na intervenção política e na vida pessoal: “Vou casar e gostaria de adotar um cão”.

Catarina dos Santos Firnhaber
Cargo:
deputada no parlamento alemão
Nascimento: 08/07/1994 (27 anos)
Nacionalidade: Luso-alemã (Lisboa)