Borras de café nas paredes

Café moído substitui areia na camada colocada nos tijolos. Paula Seabra e Marinélia Capela assinam o trabalho feito em conjunto com investigadores italianos

Resíduos utilizados em argamassas de reboco melhoram a eficiência energética dos edifícios. Duas investigadoras da Universidade de Aveiro contribuíram para a descoberta.

A reutilização de resíduos de café moído em novos materiais de construção, destinados a aplicações térmicas de reboco, é possível e recomendável. Transforma-se lixo em matéria-prima, poupa-se o ambiente, poupa-se a economia, melhora-se a eficiência energética das casas. As borras de café têm impacto na construção civil.

A equação é simples, mas tem as suas cambiantes. Paula Seabra e Marinélia Capela, investigadoras do CICECO – Instituto de Materiais da Universidade de Aveiro, participam nesta descoberta num trabalho conjunto com investigadores da Universidade de Palermo e do Instituto de Nanotecnologia de Lecce, em Itália. A evidência é robusta. Se as argamassas de reboco forem constituídas por 10% de borras de café, substituindo a areia nessa percentagem como material agregado, consegue-se uma diminuição da sua condutividade térmica em cerca de 47%. Materiais com alta condutividade térmica conduzem o calor de forma mais rápida. Ou seja, a eficiência energética aumenta com a utilização dessa nova camada na argamassa feita de cal, areia e água, que é colocada nas paredes a seguir ao tijolo. “Concluímos que a percentagem ótima de substituição de areia por borras de café seria 10%. Dessa forma, conseguiríamos diminuir a condutividade térmica do material em cerca de 47%”, adianta Marinélia Capela, aluna de doutoramento.

“As borras de café são muito menos densas do que a areia, têm uma composição química diferente, o que confere propriedades diferentes ao produto”, sublinha Paula Seabra, professora da UA, formada em Engenharia Cerâmica e do Vidro, mestre em Ciência e Engenharia de Materiais. “Há um benefício ambiental e um benefício económico. Reutiliza-se um resíduo que iria para aterro sanitário, gastam-se menos recursos naturais”, acrescenta.

O trabalho está publicado numa revista da área da construção civil. E há pano para mangas. Em Portugal, consomem-se mais de 34 toneladas de café todos os dias. Uma grande quantidade de resíduos para reaproveitar num só país. Em todo o Mundo, só em 2021, os números indicam 9978 milhões de quilogramas de consumo de bebidas à base de café. Enquanto isso, na Europa, cerca de 75% das construções não são energeticamente eficientes. E a investigação não pára. Neste momento, as investigadoras da UA estudam o reaproveitamento das borras de café no desenvolvimento de novos materiais de construção com outros ligantes que não a cal.