Auriculoterapia. O equilíbrio do corpo através das orelhas

Cristiana Ribeiro é terapeuta de medicinas alternativas e usa a auriculoterapia como tratamento complementar

É um tratamento natural que usa agulhas, sementes de mostarda, esferas magnéticas. Estimulam-se terminações nervosas no pavilhão auricular e o organismo reage. Trata problemas de ansiedade, distúrbios do sono, hipertensão, excesso de peso, entorses, vários sintomas e patologias.

No início, duvidou, pensou que mal não deveria fazer. Depois, pouco tempo depois, rendeu-se às evidências. Fátima Ferreira admite que era uma pessoa habitualmente deprimida, ia-se abaixo com facilidade, um problema e atirava a toalha ao chão. A pré-obesidade não ajudava, as crises de vertigens também não. Experimentou a auriculoterapia, sente-se bem, quer continuar assim.

“Há cinco anos que não tomo um antidepressivo, sinto-me outra pessoa. Vou fazer 55 anos e não tomo uma única pastilha”, conta. Em menos de dois anos, perdeu nove quilogramas. Andava nos 88, está nos 79. “Notei uma coisa extraordinária com as sementes nas orelhas: como pouca comida e fico saciada, não há aquela coisa de estar sempre a comer.” A síndrome vertiginosa é tratada em duas frentes. “Vou ao hospital, fazem-me as manobras, colocam-me os cristais no sítio, e faço auriculoterapia para ficar melhor”, diz Fátima Ferreira.

A auriculoterapia tem raízes na Medicina Tradicional Chinesa, é uma terapia natural, um tratamento feito através do pavilhão auricular. A orelha, que tem a forma de um feto humano e de um rim, congrega terminações nervosas e cada um desses pontos, e são mais de 130, corresponde a uma área do corpo – coração, fígado, tiroide, pescoço, clavícula, ovários, faringe, entre tantos outros. O mapa auricular mostra essas ligações. Ao estimular um ponto, atinge-se uma área específica do organismo e, dessa forma, desencadeiam-se efeitos terapêuticos no tratamento de diversas alterações e desequilíbrios.

“O organismo reequilibra-se na sua essência”, adianta Cristiana Ribeiro, terapeuta holística, de medicinas alternativas, massagista de recuperação muscular, que utiliza a auriculoterapia como tratamento complementar no seu gabinete em São Pedro da Cova, Gondomar. “A auriculoterapia é um microssistema, uma especialidade da Medicina Tradicional Chinesa. É um tratamento homeopático, demora algum tempo a fazer efeito, o corpo cura-se de dentro para fora”, refere. “Como a maior parte das medicinas alternativas, deve ser usada como prevenção”, acrescenta.

Nem sempre é o que acontece. Carla Trindade, 39 anos, acordou um dia sem se conseguir mexer, pensou que seria por causa de um problema no joelho ou então uma má posição a dormir. Dois dias depois, continuava sem se conseguir mexer. Quando chegou às mãos de Cristiana Ribeiro ia aflita, cética das medicinas alternativas, deu carta-branca à terapeuta que veio a detetar uma tendinite no braço esquerdo e problemas na coluna que um raio-X confirmou, mais tarde, serem artroses e uma escoliose. Carla não sabia que padecia dessas maleitas, mas já não conseguia levantar o braço. “Estava tão mal, a dor era uma coisa surreal, que lhe disse para fazer tudo a que tinha direito. Percebi que em toda a nossa orelha temos pontos de cura e que é preciso pressionar os sítios inflamados”, recorda. Melhorou em poucas semanas com a auriculoterapia. “Aquelas sementes fazem maravilhas. Fiz três sessões, no dia seguinte à primeira estava com menos 60% de dor, na segunda senti-me melhor ainda.” Uma nova terapia entrava na sua vida, na sua saúde.

Rui Sofia, 30 anos, é outro caso. Sentia que dormia acordado, diziam-lhe que falava, levantava-se da cama, era sonâmbulo. O problema não era adormecer, era mesmo dormir, repousar, descansar, levantar-se fresco. “Acordava mais cansado do que o que me deitava”, confessa. Sofria de distúrbios do sono.

Foi ao médico, fez de tudo. “Ressonância, TAC, terapia do sono, estudos do sono, estudos de pulmões. Quatro exames do sono e não encontraram rigorosamente nada. ” A realidade é que não se sentia bem.” Tomou medicação durante meio ano até que decidiu procurar algo alternativo. Começou com massagens de relaxamento, experimentou a auriculoterapia há cerca de um ano. “Tudo mudou, como da água para o vinho. É das melhores experiências da minha vida. Agora descanso a dormir, acordo muito bem, sinto-me muito bem, sinto-me uma pessoa diferente”, garante.

Prevenir, aliviar, tratar

Cláudia Raimundo é especialista em Medicina Tradicional Chinesa, professora de Auriculoterapia, entre outras áreas, no Instituto Português de Naturologia. A auriculoterapia, resume, é um método independente da acupuntura, que equilibra a energia do corpo, e que nada tem a ver com o esoterismo. Há uma base, um mapa. O pavilhão auricular representa o corpo todo e o objetivo é reequilibrá-lo. E explica o que acontece. “A pressão feita no pavilhão auricular dá informação ao recetor, como uma viagem pelo nervo, que é tratada pelo sistema nervoso, que responde, reage.”

Cristiana Ribeiro utiliza agulhas pequenas e finas e sementes de mostarda, depois de uma avaliação apurada

A Medicina Tradicional Chinesa é uma das terapêuticas não convencionais regulamentadas no nosso país, com enquadramento legal, tal como a Acupuntura e a Osteopatia, entre outras. A auriculoterapia, que tem raízes na Medicina Tradicional Chinesa , não está regulamentada. Há várias formações na área e é utilizada como tratamento complementar por profissionais de acupuntura e de outras terapêuticas naturais e alternativas.

A terapeuta Cristiana Ribeiro tem o seu método, faz sempre uma avaliação inicial, conversa prévia para perceber se há algum problema associado, o que se passa, para então usar a auriculoterapia nos pontos exatos. Aplica sempre as agulhas, finas, pequenas, pediátricas. Coloca as luvas, desinfeta as orelhas, apalpa os pontos, as terminações nervosas para o caso que tem em mãos. As agulhas ficam nas orelhas durante 20 a 30 minutos. “Espetar a agulha é uma chamada de atenção, estamos a chamar energia para um determinado ponto. Tiro as agulhas e aplico as sementes de mostarda que são estimulantes, libertam estímulos.” É um tratamento de proteção, as sementes são colocadas naquele ponto específico e o ideal é que se aguentem durante 21 dias a mês e meio. Para pressionar, para estimular.

É uma terapia que trabalha em várias frentes, segundo Cláudia Raimundo. “Na prevenção, através de uma avaliação antes da manifestação do sintoma, ou seja, na antecipação.” No tratamento de várias patologias, como uma entorse ou um trauma no joelho, para uma recuperação mais fácil. “Na melhoria da qualidade de vida dos doentes oncológicos, de doentes que necessitam de cuidados paliativos, que sofrem de doença autoimune. Tratar o melhor possível e retardar a toma de medicação.” É uma terapêutica que assenta como um complemento. “A eficácia é que não é igual para todas as patologias. É muito eficaz, por exemplo, em dores musculares, ansiedade, depressão. Quando são doenças complexas, do sistema nervoso, neurodegenerativas, tratam-se mais os sintomas e não tanto a patologia”, especifica a especialista em Medicina Tradicional Chinesa.

Cristiana Ribeiro assegura que “não há riscos no que toca à auriculoterapia”, mal não faz, e dá para praticamente tudo. Problemas de pele, alergias, ciática, tendões em tensão, hipertensão, distúrbios do sono, prisão de ventre, intestinos irritados, obesidade. “A compulsão alimentar é um distúrbio, um bloqueio energético”, observa. “Nos tratamentos de ansiedade tem resultados fantásticos.” No cancro, não cura, obviamente, mas ajuda a que o organismo aceite a quimioterapia, não tenha tantas náuseas, não retenha tantos líquidos, dá mais qualidade de vida. “Ajuda o corpo a regenerar-se nessa agressão que é ter um cancro”, comenta a terapeuta.

É um tratamento prolongado, cada caso é um caso, é preciso perceber causas e motivos, por vezes, falar da alimentação e do exercício físico, entender como o corpo funciona. O mesmo tratamento não funcionará em duas pessoas com vitalidades diferentes. “Como em tudo, é preciso disciplina e um querer resolver a situação”, sustenta Cristiana Ribeiro.

Não há limites de idade. Cláudia Raimundo revela que a auriculoterapia pode ser aplicada em crianças, utilizando sementes de mostarda, por serem estímulos mais brandos, mais suaves. “Podemos aplicar esta ferramenta desde muito cedo”, assegura.

Fátima Ferreira realça que não foi de um dia para o outro, foram necessárias algumas sessões para se sentir bem, menos deprimida, com menos peso, com vertigens controladas. “Comecei a meter umas sementinhas nas orelhas e comecei a sentir-me bem. Quando ando um pouco em baixo, faço uma sessão, volto a sentir-me bem.” A vida ficou mais leve. “Antes um problema atirava-me logo ao chão, ficava logo deprimida. Agora um problema vem e consigo resolvê-lo muito facilmente. Ajuda muito trabalhar as energias.”

Carla Trindade reconhece que perguntou, várias vezes, como as agulhas e as sementes lhe tiraram as dores no corpo. “Os resultados são notórios, a evolução é fantástica, é preciso experimentar para ver quão fantástico é a auriculoterapia.” E remata: “Os resultados estão à vista. E sem medicação. Não metemos drogas no organismo”.