As cores que nos elevam a autoestima

O serviço de coloração pessoal teve início no século XX e tem cada vez mais fãs. Através da análise da pele, dos olhos e do cabelo, é possível aferir o tom de cada pessoa e através disso melhorar o dia a dia. Quem fez garante, tudo muda.

Sempre que chegava a hora de escolher um novo par de óculos, a dúvida era constante e a escolha final não era satisfatória. Na última troca de armação decidiu acabar com a indecisão procurando ajuda profissional. Foi assim que Miguel Oliveira, de 48 anos, conheceu o serviço de coloração pessoal que, garante, mudou a forma como se vê e como os outros o veem.

O conceito de coloração pessoal faz-nos recuar ao século XX. Por volta de 1940, a estilista e artista plástica norte-americana Suzanne Caygill criou o Método de Análise de Cor. Estava aberto o caminho para o estudo da cor “natural” de cada um, mas havia mais a aprofundar. Na década de 1980, Carole Jackson simplificou o método da antecessora, tornando-o mais prático. Nascia assim o Método Sazonal, com quatro paletas de cores. No final do século surgiu, pela mão de Mary Spillane, um aprimoramento: o Método Sazonal Expandido, com 12 paletas de cores.

Apesar do início e dos primeiros desenvolvimentos terem acontecido nos Estados Unidos, é com a chegada da coloração pessoal às estilistas brasileiras que o conceito vê um grande crescimento. Principalmente na última década e com a ajuda das redes sociais, o método de coloração pessoal tem corrido Mundo. Para Paula Prada, consultora de imagem, o fenómeno chegou a Portugal com o aumento da comunidade brasileira imigrante. A profissional, sediada em Coimbra, conta que o trabalho de coloração pessoal que desenvolve – utilizando o Método Sazonal Expandido – tem origem na análise criada pela consultora de imagem brasileira Cris Alves, patenteado por ter o rosto como foco da ação.

Mas, afinal, o que faz a coloração pessoal? Através de um método científico de análise de cores, estuda-se o subtom da pele que, em cada pessoa, é constituído por diferentes níveis de melanina, gordura, hemoglobina e caroteno. “É analisar o que não vemos a olho nu”, explica Paula Prada, acrescentando que, tal como a pele, são ainda examinados o cabelo e os olhos.

A profissional da Imagem Inteligente, consultório com diversos serviços de imagem pessoal, fala de três pontos principais a serem estudados. Na profundidade é percebido se o tom de pele prefere uma maior adição de preto ou de branco. Na intensidade, se são mais favoráveis as cores vibrantes ou mais opacas. Por fim, a temperatura dita se se trata de uma pele mais quente ou mais fria. O objetivo de todo o processo é perceber qual “a cor que nasceu com cada pessoa”, aquela que evidencia os traços mais favoráveis e saudáveis, resume Paula Prada. “É como se nos derretêssemos e na essência saísse uma determinada paleta de cores.”

Transmitir a mensagem certa

Há ainda um outro ponto em torno da coloração. “De que forma as cores influenciam o nosso humor?” A questão é lançada pela stylist Adriana Matos, que responde logo de seguida: “A Dopamina Fashion é um conceito usado para explicar que, se escolhermos bem as cores, conseguimos transmitir aos outros uma mensagem de como estamos e do que queremos”. Funciona como um complemento à coloração pessoal, equilibrando o que realça a beleza de cada um e a mensagem subliminar de cada cor. O laranja, indica a profissional da moda, está associado à energia, ao sucesso e à determinação. O vermelho transmite confiança. Já o azul está lado a lado com a harmonia e a credibilidade. O verde significa estabilidade e tranquilidade. “Todas estas cores têm subtons e suavizam ou acentuam essas mensagens” que, juntando com uma análise de coloração pessoal, irão fazer-nos sentir “mais seguros”, remata Adriana Matos.

Com o estudo da coloração pessoal, avança a consultora de imagem Paula Prada, são potenciados o autoconhecimento, a autoimagem e a autoestima. “Por vezes achamos que estamos a passar uma determinada imagem, mas na verdade não é assim que os outros nos veem.” Foi nesse dilema que Miguel Oliveira se viu. Conta que utilizava uma armação de óculos desportiva e quase transparente, com o objetivo de “disfarçar a calvície e parecer mais jovem”. Mas, com a coloração pessoal percebeu que “estava a fazer tudo errado”. Afinal, a cor de que mais fugia, um castanho com nuances tigresa, que lhe lembrava os óculos do avô, era a sua “cor natural”.Miguel garante que os resultados são evidentes, já que todos os que o rodeiam elogiam a troca de óculos.

Apesar de saber que o cuidado com a imagem ainda está associado ao universo feminino, nunca teve qualquer constrangimento em cuidar de si. A profissional Paula Prada espera que o estereótipo de género ainda existente, e que rotula os serviços de consultoria de imagem como algo “de mulher”, termine. Hoje, esclarece, cerca de 90% dos clientes são do género feminino.

Para o futuro, prevê que o método tenha um crescimento no número de seguidores. “Em Portugal, ainda estamos numa fase embrionária”, classifica Paula Prada, garantindo que “ainda há muito caminho para as pessoas deixarem de associar a imagem a algo fútil”. “As análises que faço são baseadas em métodos científicos e, desta forma, procuro, com factos, rebentar a bolha de futilidade que existe à volta do tema.”

A mesma garantia deu Hélia Pereira, residente em Lisboa, que viajou de propósito até Coimbra para conhecer o trabalho de Paula Prada. Hoje, descreve o método como um “salva-vidas” do seu dia a dia e da sua imagem, aconselhando todas e todos a fazê-lo. “As pessoas associam a algo muito caro, um luxo, mas não é.” Na verdade, fala até de poupança, já que, na hora de comprar roupa nova, passa-se a selecionar apenas o que é mais adequado a cada um. E a mudança, salienta a consultora de imagem Paula Prada, nunca terá de ser radical. Hélia Pereira é exemplo disso. Desde que realizou o Método Sazonal Expandido não fez compras, apenas reorganizou o armário. Selecionou a roupa, acessórios e maquilhagem correspondentes ao seu tom – outono escuro – e viu os resultados aparecerem de imediato. “Estás mais nova.” “Que aspeto saudável.” “O que fizeste?” À sua volta a curiosidade é constante.

Roupa, acessórios e maquilhagem

Na coloração pessoal é analisado “tudo o que gravita à volta do rosto” e Paula Prada indica a maquilhagem como o erro mais comum dos clientes. “Mais do que nas roupas que, melhor ou pior, acabam por ser escolhidas através da intuição.” A stylist Adriana Matos lança ainda uma reflexão sobre as cores: “Se tivesse de escolher entre preto e branco para um dia produtivo, qual seria? Já pensou porque é que o preto é a sua cor preferida?” A profissional levanta parte da resposta, salientando que todos nos sentimos melhor com determinada cor porque, inconscientemente, sabemos que é esse o tom que nos favorece.

Cada uma destas “consultas” de autoconhecimento dura cerca de duas horas e começa por uma entrevista em que o objetivo é saber mais de cada pessoa. Depois, se for o caso, prende-se o cabelo e, de cara lavada, sem maquilhagem, é iniciado o estudo com os tecidos e as diversas paletas. No final, são deliberados as cores, os tons e a intensidade que mais favorecem a pessoa. A partir daí, está tudo pronto para sair à rua com um ar mais bonito, natural e saudável.