A agricultura da era digital

O futuro tem tecnologia, algoritmos, aplicações, ecrãs em tratores, imagens de satélite, antenas GPS, sensores de humidade. A Bayer trabalha em várias frentes numa plataforma de diálogo com quem lavra a terra, em 26 quintas espalhadas pelo Mundo. A única da Península Ibérica fica em Sevilha e mostra o que anda a fazer.

A agricultura sabe o chão que pisa e o que tem pela frente. Produzir mais com menos. Mais alimentos com menos recursos. Menos terra, menos água, alterações climáticas e períodos de seca extrema a complicar os dias. E, entretanto, uma guerra destapa um mundo volátil, um contexto completo. Os produtos alimentares escasseiam, os custos com a energia aumentam. A carga é, portanto, pesada.

A Bayer também se dedica à terra, estabelece parcerias com agricultores, em várias partes do Mundo, para criar ferramentas tecnológicas capazes de soluções adequadas a cada solo. Bayer Forward Farming é um programa internacional e é uma plataforma de colaboração e de partilha de conhecimentos sobre a agricultura moderna e sustentável. Uma perspetiva inovadora aplicada em 26 quintas em 13 países. Inovação e tecnologia andam lado a lado na procura de melhores soluções. Pela sustentabilidade, pelo ambiente, pela economia.

Os terrenos perdem-se de vista na Herdade Las Cardénas, em Sevilha, Espanha, a única quinta modelo da Bayer na Península Ibérica. Há árvores carregadas de laranjas, há campos lavrados e outros por cultivar, veem-se poleiros para aves de rapina, caixas de ninhos, lagos com ilhas para anfíbios, sebes de arbustos de espécies autóctones, uma área montada para répteis. A cobertura vegetal ajuda a melhorar a fertilidade do solo e o controlo das infestantes não pode ser descurado. Manter o ecossistema, respeitar a Natureza.

A casa branca da família Valdenebro, dona de Las Cardénas, surge como epicentro das operações que se estendem a mais de 400 hectares, onde a Bayer experimenta e testa métodos, tecnologias, ferramentas. Aqui cultiva-se trigo, milho, tomate, quinoa, azeitona, laranja, girassol. A rotação das culturas mantém o solo saudável, assegura o rendimento agrícola. Mas esta é uma zona que se debate com o problema da seca. E o solo não é sempre o mesmo, ora arenoso, ora argiloso, ora com cascalhos e seixos.

O trabalho não pára e a Bayer tem os objetivos definidos. “Qual é o principal capital do agricultor? O solo. E o que mais rapidamente pode perder? O solo. Se é bom, há que cuidá-lo, se não é, há que melhorá-lo”, resume Reinaldo Pereira, responsável pela campanha de ativação Portugal da Bayer Crop Science. Ele conhece os cantos à herdade e as suas perguntas não são descabidas. O olival anda debaixo de olho. Montou-se uma portátil estação meteorológica, para dar valores de temperatura e de precipitação, instalou-se um pequeno aparelho, uma espécie de folha sintética, que avalia o tempo de folha molhada. Afina-se um sistema com dados e algoritmos para rentabilizar o olival e eventualmente outras culturas, no futuro. “É um projeto dinâmico, é um projeto vivo.”

Saber quais as zonas mais e menos produtivas é fundamental para prescrever, com menor margem de erro possível, o que cada parcela necessita. Semear para colher. Com imagens de satélite de cinco em cinco dias, uma antena GPS, um sensor de humidade e um ecrã dentro do trator, as informações cruzam-se para que se poupe tempo e se rentabilizem recursos.

“Não pode ser uma leitura empírica, é preciso uma plataforma que trabalhe com milhares de dados na palma do agricultor”, refere Reinaldo Pereira. E assim é possível adaptar equipamento mais antigo, como um trator, à tecnologia mais avançada. E ter um mapa do rendimento do solo na mão.

Lavar os equipamentos agrícolas e de pulverização, com tudo o que largam, exige cuidados. A herdade andaluza tem uma laje com declive, a água escoa por uma grelha, vai para um depósito, segue para dois tanques que são leitos biológicos que tratam da composição de substâncias químicas. É um sistema de gestão sustentável, um processo para degradar biologicamente os resíduos fitofarmacêuticos. Há ainda um pequeno armazém para guardar fitofarmacêuticos e uma sala escura que deteta sinais na roupa e no corpo do agricultor para verificar se há contaminação.

A monitorização de pragas e doenças também exige atenção constante e, por isso, testam-se armadilhas, projetam-se novas possibilidades. “A ideia da Bayer é que cada produto tenha o apoio de uma plataforma digital”, revela Reinaldo Pereira.

Preservar a água, proteger o solo

Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), assistiu à apresentação das novas ferramentas em Sevilha. “É todo um esforço para praticar uma agricultura mais sustentável. A agricultura não tem outro caminho. O próprio agricultor está sedento disso, mas é preciso ter informação e ter capacidade para implementar estas soluções”, comenta. A forma de fazer agricultura altera-se, as mudanças estão à vista, e o caminho para a sustentabilidade ambiental vai por aqui, segundo Luís Mira. “Temos de produzir mais com sustentabilidade e esse caminho, está demonstrado, é através do conhecimento científico, da parte biológica que também evolui, mas também da parte digital, e da parte da gestão de base de dados.”

Máquinas mais eficientes, equipamentos acoplados ao trator, ferramentas digitais. Firmino Cordeiro, diretor-geral da AJAP – Associação dos Jovens Agricultores de Portugal, sabe que os próximos tempos são difíceis. “Têm-se notado evolução na proteção das culturas, na evolução da proteção da alimentação das plantas, nomeadamente nos nutrientes. E as empresas, na sua globalidade, têm de se preocupar com estas questões. Porque a sociedade civil assim o exige, estamos no continente mais exigente a este nível, o que implica que os governos também adotem medidas muito restritivas, porque, acima de tudo, está a proteção do nosso Mundo.”

Produzir mais com menos é um grande desafio. “Como fazemos isto? Melhorando o que o homem foi, inconsciente ou, às vezes, conscientemente, deteriorando: o clima e os próprios solos que são a base do trabalho do agricultor”, realça Firmino Cordeiro. A sociedade exige e o agricultor tem de produzir. E as soluções digitais estão aí. “Isto não é uma moda, é uma necessidade. Hoje não temos a mão de obra que havia e aos preços que a tínhamos. A tendência tem de ser evoluir cada vez mais na tecnologia e na mecanização, mas uma mecanização muito mais digital, muito mais adaptada a esta realidade, com muito menos impactos negativos no próprio solo”, repara o diretor-geral da AJAP.

Augusto Ferreira, da CONFAGRI – Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal, esteve em Sevilha. A opinião é unânime. As ferramentas digitais apoiam decisões mais precisas e eficientes, adaptáveis às especificidades de cada exploração, ajudam a preservar a água e o solo, a proteger a biodiversidade. Todavia, perante as circunstâncias, a agricultura tem de fazer mais com menos. “Ou seja, um metro quadrado de solo tem que ser melhor utilizado, assim como um litro de água tem que ser melhor transformado”, vinca. “Neste cenário, já não muito distante, a investigação, a inovação e, em particular, a sua aplicação são fundamentais para uma agricultura competitiva e sustentável”, sublinha. “Só a prática de uma agricultura sustentável pode permitir às explorações agrícolas responder aos desafios nos domínios económico, ambiental e social, sem comprometer o seu papel principal de satisfação das necessidades alimentares da população.”

Inovação, transformação digital

Alimentar uma população estimada em cerca de dez mil milhões em 2050 sem esgotar os recursos do Planeta. A questão está em cima da mesa. A fórmula é conhecida e é repetida por Protasio Rodríguez, diretor-geral da Bayer Crop Science Iberia. “Produzir mais, usando menos recursos, tomando as melhores decisões.” A Bayer baseia o seu trabalho em três pilares: inovação, sustentabilidade, transformação digital. E pelo menos uma percentagem nos seus objetivos, ou seja, reduzir em 30% os gases de efeito estufa. Capacitar os cem milhões de agricultores em todo o Mundo para acederem a ferramentas digitais faz parte dos propósitos da multinacional neste programa. “Sentimos necessidade de fazer parte desta mudança com altos padrões de qualidade.”

É preciso cultivar e é preciso saber como fazê-lo. Portugal tem cerca de 400 mil agricultores, metade profissionais da arte. Firmino Cordeiro, da AJAP, avisa que é preciso tirar o maior proveito dos solos, mas fazê-lo com sustentabilidade. “Podemos acrescentar a agricultura de precisão, que nos permite fazer mais com menos, utilizando também as novas tecnologias que, no fundo, nos permitem ser mais eficientes nos fatores de produção, poupar recursos, mão de obra.” No entanto, o que dá nuns, pode não dar noutros. “Não há uma solução que dê para todos os agricultores, as soluções têm de ser encontradas agricultor a agricultor”, diz Luís Mira, da CAP, que defende apoios nacionais com substância, e até dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência, para a aquisição de equipamentos tecnológicos para a agricultura.

Alexandra Diogo, secretária-geral da FNOP – Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutos e Hortícolas, garante que há produtores que já trabalham bem nessa perspetiva de sustentabilidade, que respeitam os solos, que poupam recursos. “O produtor é o último a querer danificar o seu meio de subsistência que é o solo”, destaca. O futuro da agricultura terá mais ferramentas digitais, não há volta a dar, tal como viu em Sevilha. Até por uma questão ambiental e económica. Alexandra Diogo fala de uma proteção integrada, de ferramentas que tratam cirurgicamente, num momento em que todos sabem que é preciso intensificar a produção. “O caminho só pode ser este para produzir em quantidade e com qualidade.”

A Bayer aposta numa visão de futuro em prol de uma agricultura sustentável com o envolvimento de todos os agentes do setor agrícola. Richard Borreani, responsável pelos assuntos públicos e sustentabilidade da Bayer Crop Science Iberia, fala de colaboração e de saber escutar. “Temos de ouvir as pessoas, os consumidores, que estão cada vez mais informados do que querem, do que precisam, e fazem pressão sobre quem produz.” As novas tecnologias estão aí para ajudar. “Cada quinta é um mundo, cada quinta tem de adaptar as ferramentas necessárias.”

Firmino Cordeiro, da AJAP, considera que o país está no bom caminho e acredita que é possível deixar um Mundo melhor. “Um Mundo mais protegido, um Mundo que olhe para os ecossistemas, que olhe para a qualidade e para a disponibilidade da água.” Um Mundo mais atento e mais capaz quando olha para o chão que pisa.