6 de novembro de 1975. O dia em que foi emitido o primeiro debate da televisão portuguesa

O então secretário-geral do Partido Socialista, Mário Soares, os jornalistas José Megre e Joaquim Letria e o à época secretário-geral do Partido Comunista Português, Álvaro Cunhal,

A rubrica "Máquina do Tempo" desta semana destaca aquele que ficou conhecido como o “pai dos debates” da televisão portuguesa.

José Megre abriu o debate com um cigarro aceso numa das mãos. Inédito, mas tal só foi possível porque Joaquim Letria, o outro jornalista que moderou um dos momentos mais marcantes da democracia nacional, usou de uma mentira para conseguir colocar frente a frente, no programa “Responder ao País” transmitido pela RTP, o então secretário-geral do Partido Socialista, Mário Soares, e o à época secretário-geral do Partido Comunista Português, Álvaro Cunhal, dizendo a ambos que o outro adversário político já tinha aceitado participar. Não tiveram opção.

Aquele que ficou conhecido como o “pai dos debates” foi o primeiro da televisão portuguesa e o mais longo de sempre nesse formato. No total, 3 horas 40 minutos e 52 segundos, em ambiente de grande tensão. No confronto ficaram visíveis as marcas fraturantes de um país polarizado entre Esquerda e Direita, a braços com a instabilidade política, marcada por sucessivos governos provisórios e pela inflação galopante, que deixavam as ruas em permanente ebulição. A 6 de novembro de 1975, há precisamente 47 anos, Mário Soares garantiu aos cerca de três milhões de cidadãos que seguiram o embate de ideias madrugada adentro – uma estimativa avançada no dia seguinte pelo JN – que o PCP queria instituir uma ditadura em Portugal. Ao ouvi-lo, Álvaro Cunhal coçou a orelha esquerda, sorriu e deixou no ar a expressão que ficou para a história: “Olhe que não, doutor, olhe que não”.