Valter Hugo Mãe

13


Rubrica "Cidadania Impura", de Valter Hugo Mãe.

A utilização da mentira descarada no bolsonarismo não tem precedentes. Só pode ser comparável com a propaganda nazi que assentava na mesma galvanização dos valores nacionalistas sem outro propósito senão o de esconder o que verdadeiramente está em causa.

Quando Simone Tebet diz que mais quatro anos de bolsonarismo poderão mudar a alma e o carácter brasileiro, fazendo com que num tempo de dois mandatos uma geração se deforme à luz do retrocesso civilizacional que representa a figura desse homem torpe, aponta de verdade o que mais me preocupa. A construção de uma sociedade faz-se numa maturação quase sempre lenta. Séculos de ciência não foram suficientes para curar os piores males do Mundo, e nem a esperança ou a fé foram alguma vez tão grandes que acabassem com as piores intenções. Um país levado no pior caminho pode, sim, criar uma mentalidade muito difícil de voltar a sensibilizar. Uma mentalidade fanática, sem detalhe, abreviada por preconceitos e embrutecida numa convicção de sobrevivência sem respeito, sem direitos fundamentais e universais, pode instalar uma outra humanidade, uma muito menor, muito pior, que simplesmente normalize a agressão e o ódio.

A manipulação a que o povo brasileiro é sujeito tem sido constante. Uma multidão gigante como aquela, perigando na formação e no emprego, é uma multidão facilmente à mercê dos interesses mais levianos, produzindo força para as elites económicas que jamais estarão interessadas em partilhar suas riquezas. A utilização da mentira descarada no bolsonarismo não tem precedentes. Só pode ser comparável com a propaganda nazi que assentava na mesma galvanização dos valores nacionalistas sem outro propósito senão o de esconder o que verdadeiramente está em causa.

Nos últimos dias, as redes foram tomadas de assalto pela mentira bolsonarista. Os vídeos e os memes de propaganda apareceram em toda a parte e os perfis falsos de falsas pessoas debitando a toda a hora imagens que ficcionam um Bolsonaro que não existe multiplicaram-se até à náusea. Voltou a ser impossível publicar uma qualquer ideia sobre o assunto sem a pressão intimidatória desse gabinete de ódio que a gente de Bolsonaro produz.

Hoje, o Brasil vai às urnas e eu não estou convencido de que a vitória de Lula seja clara. Lula é também um activo tóxico e não é possível esquecer que o seu partido se desfez em corrupção. Por outro lado, Bolsonaro é o perfeito inimigo público, a figura dos irmãos Metralha que toma o poder e tudo fará para se manter oprimindo e violentando toda a gente. Por mim, com toda a insatisfação, ainda assim a escolha seria muito clara. Tem de ser 13. Prefiro mil vezes um homem cujo entorno ruiu, do que um homem cujo centro é o próprio abismo.

(O autor escreve de acordo com a anterior ortografia)