A ideia de combate ao desperdício têxtil já está ativa nos sites de 34 marcas de moda portuguesas e permite trocar roupa, malas e calçado que estão parados no armário lá de casa por descontos em novas peças.
Marta Rito e Pedro Santos moravam em Londres quando perceberam que tinham roupeiros a rebentar pelas costuras com peças que se acumulavam estação após estação em bom estado e que não usavam. A tentativa foi a de vender. Mas o processo adivinhou-se mais difícil do que pensavam. “Tínhamos que fazer fotos, descrever o artigo, apreçar, negociar com potenciais compradores. E nem sabíamos se seria vendido”, conta Marta, arquiteta que ganhou o “bichinho” de acompanhar as tendências quando trabalhou no grupo Inditex. Pedro também gosta de moda, embora seja da área de Gestão e Finanças e tenha estado ligado à banca inglesa.
“Queríamos uma solução mais imediata. Hoje temos cada vez menos tempo a perder. E há muita gente com o mesmo problema do que nós”, reconhece Marta. Cada português tem, em média, 28 peças de vestuário paradas e praticamente novas, o equivalente a 700 euros engavetados e a um desperdício de 93 mil litros de água, segundo estimativas da White Stamp. Foi assim que surgiu o programa “Sell 1 Buy 1”, pelas mãos dos dois amigos a que se juntou depois Rui Mendes, software developer que viu o unicórnio Farfetch nascer. “Porque não juntar um serviço de revenda das peças que já não queremos quando vamos comprar algo novo?”, pensaram. Um só carrinho para compras e vendas acabou a materializar-se em novembro de 2020. É a economia circular e o combate ao desperdício têxtil a funcionar.
O serviço já está disponível nos sites de 34 marcas portuguesas e vai, agora, abrir as portas a mais 12, incluindo espanholas e alemãs. A ideia é trocar peças que não usamos – malas, calçado ou roupa – por descontos em novas compras. Ou seja, “dar utilidade a artigos parados”. Dos roupeiros para o mercado em segunda mão, é a White Stamp que depois trata de encontrar um novo dono para as peças usadas.
Mas como é que funciona? Em qualquer loja online das marcas parceiras (estão todas no site da White Stamp), pode aceder-se ao serviço onde é possível trocar um artigo usado por créditos. Basta preencher a descrição do artigo – nem sequer é preciso fotos – e obtém-se logo uma cotação automática. Depois, é só submeter para venda. É possível entregar a peça numa loja CTT ou agendar a recolha em casa, ambas as hipóteses são gratuitas. Normalmente, num dia útil o artigo usado chega à White Stamp , que vai confirmar se está tudo de acordo com a descrição e o crédito fica automaticamente disponível, sem ter de se esperar que seja vendido. “E não tem de ser utilizado no site da marca onde vendeu os artigos, pode ser em qualquer loja parceira. É uma bonificação pela boa ação do cliente”, diz Marta.
A White Stamp ainda só aceita peças usadas de marcas premium, como Lacoste, Bimba y Lola ou Salsa, “porque é uma garantia de qualidade para reutilização”. “O nosso objetivo não é reciclagem. É oferecer artigos de boa qualidade em segunda mão, prolongar o ciclo de vida das peças.” Já foram inundados de pedidos para incluir marcas de fast fashion e estão a estudar uma solução. “Até 2028, o mercado em segunda mão será duas vezes maior do que o mercado de fast fashion nos Estados Unidos. É uma tendência e uma urgência. Muitas vezes, os artigos vão parar a aterros, são incinerados, e essa deve ser a última opção”, defende Marta, que quer pegar em roupa, calçado e malas escondidos nos armários e trazê-los cá para fora. Para já, o serviço só existe online, mas os três amigos querem vir a testar nas lojas físicas.