Trombose venosa. A doença que afeta adultos e crianças

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A formação de um coágulo pode acontecer em várias zonas do corpo e as complicações podem ser sérias e graves. É uma patologia que não escolhe idades e alguns sinais são ligeiros ou poucos específicos.

Tromboembolismo venoso (TEV) é uma patologia que causa impacto na qualidade de vida dos doentes com todas as consequências associadas. “A trombose venosa corresponde à formação de um coágulo (trombo) no sistema vascular venoso que pode ocorrer em várias zonas do corpo, o que por sua vez faz variar os sinais e sintomas em função da zona afetada, bem como do grau de oclusão”, explica Paula Kjöllerström, hematologista no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa.

Há vários tipos de trombose. Trombose venosa dos membros, em que é habitual a presença de dor, edema, calor, circulação colateral e diminuição da mobilidade do membro afetado. Tromboembolismo pulmonar, no pulmão, que frequentemente provoca dificuldade respiratória, taquicardia e dor torácica que se agrava com os movimentos respiratórios. Ocorre geralmente após a libertação de um trombo dos membros inferiores. No tromboembolismo dos seios venosos cerebrais, as manifestações são neurológicas e podem provocar cefaleias, vómitos, alterações do estado de consciência e até mesmo convulsões. O tromboembolismo venoso é geralmente assintomático ou indolente.

Em idade pediátrica, o TEV inclui a veia cerebral e trombose sinusal, coágulo de sangue no cérebro. É uma trombose relacionada ao cateter venoso central, embolia pulmonar, e trombose venosa profunda, um coágulo de sangue numa veia profunda. O fator de risco mais comum para o TEV em crianças é o cateterismo venoso.

Mais de 60% da predisposição para a ocorrência de trombose é atribuída a componentes genéticas

Os doentes com trombofilia geralmente apresentam o seu primeiro evento trombótico antes dos 25 anos e as possibilidades de recorrência aumentam com a idade e com a associação de outros fatores de risco. Os sinais do tromboembolismo podem ser ligeiros ou pouco específicos, consoante os casos. “É fundamental identificar e investigar situações de risco, principalmente nas crianças que estão internadas, onde a ocorrência destes eventos é mais propícia e frequente”, avisa a hematologista. O TEV pode ter uma evolução fatal ou provocar lesões graves, progressivas e irreversíveis.

Paula Kjöllerström, hematologista no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa

Esta patologia é cada vez mais reconhecida como um problema pediátrico significativo e o tratamento nestas idades deve ser feito em centros de referência e por equipas multidisciplinares. “No caso do TEV em idade pediátrica, a maioria dos casos são diagnosticados em crianças hospitalizadas e, por esse motivo, a prevenção passa pelo reconhecimento dos fatores de risco como o cateter venoso central, infeção grave, doença oncológica, grande cirurgia ou cardiopatia congénita.” O tratamento precoce de outras complicações é um fator determinante, como a obesidade, uma grande cirurgia ou previsão de imobilização prolongada, através de medidas preventivas designadas por tromboprofilaxia, que podem incluir cuidados gerais como a hidratação, utilização de meias de compressão ou farmacológicas.

“Apesar de a incidência do TEV nas crianças e adolescentes ser muito inferior à dos adultos, parece existir um aumento da sua frequência nas últimas décadas, sobretudo em crianças hospitalizadas e, na maioria das situações, com fatores de risco associados. Neste contexto, é fundamental aumentar a consciencialização não só dos profissionais de saúde que trabalham com este grupo etário, mas também dos próprios pais para o risco destes episódios acontecerem e da importância de um tratamento adequado, para uma atuação rápida e sem efeitos nocivos no futuro”, sublinha a hematologista do Dona Estefânia.

“A terapêutica deve ser individualizada, considerando a urgência da intervenção, o risco de sequelas, as doenças associadas e a preferência do doente e da família”
Paula Kjöllerström
hematologista

Segundo a especialista, em casos de crianças com história prévia de trombose, ou na presença de história familiar de trombose, poderá ser avaliada a presença de trombofilias, ou seja, alterações da coagulação que podem aumentar o risco de trombose, através de um estudo de trombofilias, ponderando riscos e benefícios caso a caso. “Nestas situações, para além da promoção de um estilo de vida saudável, podem ser evitadas situações de reconhecido risco trombótico, como a utilização de alguns contracetivos hormonais”, adianta.

O tratamento de eleição, na maioria das situações, é a anticoagulação. “Os fármacos anticoagulantes atuam prevenindo a extensão do coágulo e reduzindo o risco de embolia (libertação do trombo para a circulação).” Recentemente, surgiram novos tratamentos, anticoagulantes orais diretos que, sustenta a hematologista, “já eram utilizados em adultos e que demonstraram ser também eficazes em idade pediátrica através de ensaios clínicos em crianças pequenas, incluindo recém-nascidos.” “Apesar de não poderem ser utilizados em todos os doentes, na ausência de contraindicação, têm a vantagem de ser administrados sob a forma de solução oral, em vez de intravenosa ou subcutânea, o que no caso das crianças facilita a sua utilização”, conclui.