Jorge Manuel Lopes

Tempo de voltar a Dave Brubeck

Jorge Manuel Lopes, editor-adjunto da Cultura do Jornal de Notícias (Foto: Artur Machado/Global Imagens)

Escolhas musicais de Jorge Manuel Lopes.

A 6 de dezembro cumpriram-se 100 anos do nascimento do pianista e compositor californiano Dave Brubeck. O seu percurso, sobretudo no jazz mas também com frequentes incursões na música clássica, iniciou-se na década de 1940, estendendo-se praticamente até à morte, a 5 de dezembro de 2012. O seu estilo solar e a combinação de peças acessíveis com estruturas muitas vezes formalmente invulgares, sinais de uma curiosidade e abertura a influências sonoras de vários pontos do Planeta, fizeram dele um dos mais populares artistas de jazz, sobretudo na transição dos anos 1950 para 1960.

O seu registo mais famoso, a grande distância, é “Time out”, álbum de 1959 produzido por Teo Macero (visionário conhecido sobretudo pelo trabalho ao lado de Miles Davis, do clássico “Kind of blue” ao arrojado mergulho no desconhecido “Bitches brew”). “Time out” não só alcançou o segundo lugar do top de vendas americano, feito raro para um disco de jazz, como foi a primeira obra nesse idioma a vender mais de um milhão de exemplares nos Estados Unidos. Um disco que inclui a imortal “Take five”, há muito um standard da música popular, escrita pelo saxofonista Paul Desmond, um dos elementos de The Dave Brubeck Quartet, formação que existiu desde 1951 até ao passamento do pianista, em múltiplas configurações, e que na formação mais duradoura, a de “Time out”, também continha o baterista Joe Morello e o contrabaixista Eugene Wright.

A mitologia e o correr do tempo tendem a suavizar as arestas e a espremer a narrativa de um artista até restar o estereótipo. Para combater essa tentação, e para celebrar o legado fascinante, poliglota, de Dave Brubeck, o seu centenário assinala-se com a criação, pela família do músico, da etiqueta Brubeck Editions, dedicada a mergulhos nos arquivos, a começar pela edição de “Time Outtakes”, álbum que junta gravações inéditas das sessões de “Time out”, nomeadamente visitas ao alinhamento clássico sob ângulos muito diferentes dos até agora conhecidos. Em complemento, vale a pena mergulhar em “Dave Brubeck: a life in time”, livro do jornalista inglês Philip Clark que mostra com minúcia e clareza todos os passos e tempos da vida do músico.